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Galeria Millan recebe Paulo Pasta para noite de autógrafos

Artista plástico acaba de lançar livro com um apanhado da carreira. Suas telas estão entre as produções mais respeitadas e bem-sucedidas do país

Por Jonas Lopes
Atualizado em 5 dez 2016, 15h58 - Publicado em 22 Maio 2013, 17h16

Todas as tardes, inclusive aos sábados e domingos, o artista plástico Paulo Pasta deixa seu apartamento nos Jardins e se dirige ao ateliê que mantém desde 2002 no porão alugado de um prédio residencial na Barra Funda — um aparelho de som ligado baixinho ali toca música erudita e isola o barulho da rua. Nem sempre, contudo, dedica-se necessariamente a pintar. “Muitas vezes fico apenas lendo, posso até mesmo tirar um cochilo, penso bastante”, diz ele. Todo esse processo resulta em uma das produções mais respeitadas e bem-sucedidas do país. Pasta tem o respaldo dos melhores críticos brasileiros e é também um êxito de público — suas telas ultrapassam a faixa dos 100 000 reais.

Um livro recém-lançado pela editora carioca Barléu, conhecida pelas edições caprichadas, tem noite de autógrafos na Galeria Millan nesta quinta (23), a partir das 20h, e faz um apanhado da carreira desse paulista de 54 anos. Mais de 160 obras estão reproduzidas ali. Enquanto isso, em junho uma exposição na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, reunirá dezoito trabalhos seus. Trata-se da primeira mostra de um pintor vivo na instituição gaúcha.

O que mais impressiona na ótima acolhida às obras de Paulo Pasta é o quanto elas, de certa forma, desafiam a rapidez da vida moderna, do desvio constante de atenção dos smartphones e redes sociais. Caracterizadas sobretudo pelo uso refinado de cores — qualidade herdada dos ídolos Alfredo Volpi, Giorgio Morandi e Henri Matisse —, os quadros trazem elementos que foram se desdobrando ao longo dos anos: piões, ogivas, colunas, cruzes. Eles ganham uma qualidade espiritual graças à habilidade técnica, a ponto de em alguns óleos de tons claros a imagem pintada tornar-se quase invisível. “As telas do Paulo não se entregam facilmente ao espectador, demandam calma e paciência”, afirma Roberto Conduru, autor do ensaio que acompanha o novo livro. Conduru o enxerga como parte de uma genealogia que inclui nomes como Volpi, Iberê Camargo, Eduardo Sued e Maria Leontina.

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A suspensão temporal tem início no lento processo criativo do artista, que aponta como principal intenção “eternizar o cotidiano”. “Uma pintura minha só fica pronta quando me identifico nela, e às vezes demora muito”, diz o pintor. Tanta seriedade rendeu um comentário curioso do escultor mineiro Amilcar de Castro (1920-2002). “Ele me disse: ‘sua pintura é uma reza, sô! E você está dentro da catedral’”, lembra. Não se deve, no entanto, pensar em sisudez. Caipira assumido de Ariranha, no interior do estado, Pasta nomeou uma individual de 2012 com um verso (bastante metafísico, diga-se) da dupla Tião Carreiro & Pardinho (“o fim da metade é o começo do meio”).

Descoberta da vocação

O artista descobriu a vocação lendo os fascículos da coleção Gênios da Pintura, publicada pela Editora Abril nos anos 70. Vinha constantemente a São Paulo, visitar o irmão, o crítico literário e professor da USP José Antonio Pasta. O Brasil vivia nos anos 80 uma redescoberta intensa da pintura, gênero renegado na década anterior. Nomes como Beatriz Milhazes, Jorge Guinle e os paulistanos do grupo Casa 7 (Nuno Ramos, Paulo Monteiro, Fábio Miguez, Rodrigo Andrade e Carlito Carvalhosa) ocupavam galerias e até a Bienal de São Paulo.

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Nesse período, Paulo Pasta ainda se encontrava trancado no ateliê, desenvolvendo um estilo próprio, e começou a ganhar visibilidade apenas quando a onda das telas já começava a passar. A década de 90 voltou a ser de baixa para o pincel e a tinta, de um modo geral, mas Pasta manteve uma produção coerente e driblou o ciclo negativo. Para o crítico Rodrigo Naves, a coerência ajudou a traçar seu sucesso. “Ele tem fidelidade às obsessões. Não toca o trabalho pensando em modas ou tendências, sempre fugiu desses enterros periódicos da pintura”.

Reconhecido pelo meio artístico pela defesa da pintura, Paulo Pasta travou contato com dois gênios da área: Volpi, cujo ateliê teve a chance de visitar algumas vezes quando ainda era jovem, e Iberê Camargo, com quem fez um workshop e desenvolveu uma amizade que continuou através de cartas. O artista, por fim, acabou servindo como uma espécie de guru informal da nova geração de pintores, a maioria deles ex-alunos de cursos na Faap, na Santa Marcelina e no Instituto Tomie Ohtake. Caso de Rodrigo Bivar, Marina Rheingantz e Bruno Dunley, todos destaques no mercado atual.

Ainda assim, Pasta não se vê como um embaixador da pintura. Lamenta que algumas universidades ainda tratem as telas como algo retrógrado e ultrapassado, em favor da arte conceitual. “Arte é arte, o suporte não importa. Só gostaria que todos tivessem o mesmo espaço”.

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