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Oxi, a invenção mais recente do tráfico

Conhecida como "pedra de dois", é mais barata que o crack. Até agora, a polícia já apreendeu 60 quilos dessa mistura de pasta de cocaína, querosene e cal

Por Mariana Barros
Atualizado em 5 dez 2016, 18h05 - Publicado em 14 Maio 2011, 00h50

Nem os delegados do Denarc, o departamento da segurança pública responsável pelas investigações sobre narcóticos, sabiam afirmar com certeza o que haviam retirado de circulação durante uma patrulha. Tratava-se de aproximadamente 1.000 papelotes recheados de pó branco, encontrados com uma mulher em um hotel em Santa Cecília, nas cercanias da Cracolândia, onde a qualquer hora do dia ou da noite é possível se deparar com pessoas consumindo tóxicos.

O cheiro forte de combustível nos embrulhos despertou nos policiais a suspeita de que aquele material não fosse cocaína nem crack. Na manhã da terça-feira (10), um exame confirmou a hipótese: a equipe havia realizado neste ano na cidade a terceira apreensão de oxi, a invenção mais recente do tráfico consumida nas esquinas do centro.

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No total, já são mais de 60 quilos recolhidos da devastadora substância, considerada a mais barata, letal e viciante coisa do gênero já encontrada por aqui — daí a preocupação de a onda se alastrar e virar um novo problema de saúde pública.

A droga é produzida com a pasta-base da cocaína, a mesma matéria-prima do crack. No preparo, depois de batida com outros elementos, ela fica numa espécie de forno até secar. Quando endurece, é quebrada em vários pedaços de gradações de cores que vão do branco ao marrom, vendidos a preços entre 2 e 5 reais, dependendo do tamanho.

Nas ruas, ganhou o apelido de “pedra de dois”, por causa do valor. O crack é a “pedra de cinco”, que custa entre 5 e 10 reais. Dados da polícia indicam que 1 quilo de pasta-base transformada em cocaína rende aos traficantes cerca de 12.000 reais. Se convertida em crack, 60.000 reais. No caso do oxi, o faturamento dobra. Isso porque na produção são acrescentadas tantas porcarias (até rejunte, um material de construção, pode entrar na fórmula) que o volume inicial é multiplicado por cinco. “O entorpecente reúne a pior química do mundo”, diz Clemente Calvo, delegado do setor de inteligência do Denarc. “Se as pessoas soubessem o que estão inalando, parariam na hora.”

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A fórmula explosiva, que provoca um surto de euforia nos consumidores durante quase dez minutos, veio da Bolívia. Teria sido inventada por viciados do tráfico ávidos por aproveitar os restos da produção da pasta de cocaína para consumo próprio. Os primeiros registros de casos de dependência no Brasil ocorreram no Acre. De lá, o flagelo se espalhou pelo Amazonas e, mais recentemente, desembarcou também no Distrito Federal, em Goiânia e na Bahia.

Em São Paulo, o oxi não é importado da fronteira, mas produzido localmente. Chegam aqui apenas os tabletes da pasta-base, sem aditivos, mais fáceis de esconder nos caminhões que cruzam as rodovias. O acabamento químico do produto vem sendo realizado em laboratórios itinerantes montados em municípios próximos.

Neste ano, operações especiais da polícia conseguiram estourar mais de dez centros clandestinos em municípios como Ibiúna, São Roque, Valinhos, Jundiaí e Atibaia. “Impedir a produção é mais eficaz”, afirma o delegado Wagner Giudice, que assumiu no começo do ano o posto de diretor do Denarc e tem como um dos principais desafios debelar o crime na Cracolândia. “Gastar força com pequenas apreensões no local não resolve o problema, é como tentar enxugar gelo.”

MISTURA PERIGOSA

A preparação, os efeitos e os riscos do entorpecente

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1. Assim como o crack, é produzido com a pasta-base da cocaína misturada a outras substâncias.

2. Querosene e cal são os elementos usados na versão vendida em São Paulo, produzida em laboratórios clandestinos de municípios próximos.

3. As pedras custam de 2 a 5 reais, menos que as de crack, que têm preços entre 5 e 10 reais. Queimadas e inaladas, agem em dez segundos. O efeito, de grande euforia, não ultrapassa dez minutos.

4. Muito semelhantes, oxi e crack se diferenciam pelo aspecto após a queima. O primeiro deixa resíduo parecido com azeite e o segundo se transforma em cinzas.

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