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Os tempos mudam

Por Ivan Angelo
Atualizado em 5 dez 2016, 16h44 - Publicado em 18 out 2012, 23h31

Um cronista tem de ir aonde o povo está. Obrigado pela ideia, Milton Nascimento. Um dia desses, justamente o Dia do Empresário, convidado para um jantar com vários deles, fui dar uma olhada nessa parte do povo brasileiro. Não aquela parte que chamamos simplificadamente de ricos, ou que Nelson Rodrigues chamava de grã-finos, mas aquela que o jornalista econômico chama de grandes empresários. Gente que fala em bilhão de dólares com intimidade.

Se algum dos participantes dos confrontos políticos do século passado fosse debater com eles usando argumentos daquela época, não teria certeza de que eram aqueles os inimigos, muito diferentes dos caricaturados patrões da velha luta de classes. Ouviria, por exemplo, surpreso, que os princípios de uma boa empresa ética de hoje estão mais próximos dos de um país, de uma escola, de uma igreja. Como?

Um país tem valores, tem espírito, tem história — argumentam. Tem camisa que o povo veste. Uma empresa deve ser como um país, para ser uma coisa durável. Você não pode acreditar só em vendas, dizem eles. O mercado é só um sinal; não é ele quem decide, é você. A Disneylândia não nasceu de uma demanda do mercado, mas de um desejo de Walt Disney, de um sonho dele. O mercado nem sempre sabe que queria uma coisa antes de ela aparecer. Como uma gilete, um band-aid, um tablet.

No seu negócio, você tem de vender conceitos, porque osprodutos ficam logo obsoletos. Fazer o público acreditar em você, ser verdadeiro, ganhar confiança e batalhar para mantê-la. Acabar com a enganação. Um negócio tem de evoluir, não pode ficar preso a uma ideia original. A poderosa HP começou como uma oficina de consertos.

A gente faz uma empresa para fazer alguma coisa quenão conseguiria fazer sozinho. Então tem de dar importância a quem faz junto conosco. Você passa a sentir a empresa como uma pessoa. Independente de você, ela busca o progresso. Ela quer mudar, criar, explorar, melhorar, descobrir, inventar, igual às pessoas. Você passa a sentir o coletivo se mexendo.

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Empresas têm um lado conservador, que são seus valores, e um lado revolucionário, que é a sua busca de crescimento. Quem não tem as duas coisas corre o risco de ficar para trás.

A ideia de quem quer fazer direito é: produza para os outros aquilo que você gostaria que a sua família usasse.

Chega um momento em que a empresa é o seu discurso. Você fala através da sua empresa, diz o que você é, o que quer. Você não pode ser uma pessoa bacana e sua empresa explorar o trabalhador ou poluir o meio ambiente. As crenças e valores das empresas devem sempre vir antes das políticas. São elas que determinam as políticas.

Quem trabalha com produtos industriais e serviços tem uma cabeça diferente da de quem trabalha com dinheiro, um banco, por exemplo. Você passa a pensar no conjunto de motivos pelos quais a empresa existe, além de ganhar dinheiro. Você pensa em passar um benefício para o cara que está te passando dinheiro. Você passa a se amarrar no benefício.

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Neste terceiro milênio, empresas que têm responsabilidade social, consciência ecológica e ética nos negócios vão prosperar. O público percebe que tem um controle remoto nas mãos. A gestão de uma empresa é como jogar videogame: cada vitória resulta em maiores dificuldades na fase seguinte.

Diziam-me coisas como essas e eu pensava em Bob Dylan e seu clássico: The Times They Are A-Changin’ — os tempos estão mudando.

E-mail: ivan@abril.com.br

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