Quando seu filme Exit through the Gift Shop (Saída pela loja de presentes, em inglês) foi indicado para o Oscar de melhor documentário em 2011, o diretor (e artista plástico e grafiteiro) Banksy emitiu uma declaração de princípios. “Sou contrário à ideia de eventos de premiação”, escreveu. “Mas estou disposto a abrir uma exceção para aqueles em que sou indicado.” E continuou: “A última vez que houve um homem nu coberto por tinta dourada aqui em casa era eu”.
É disto que eu mais gosto nesse inglês maluco e bacana: seu senso de humor. Banksy é grafiteiro na origem, artista de rua. Pratica hoje diversas modalidades de expressão. Pendura as próprias obras de arte nas paredes dos grandes museus do mundo, sorrateiramente. Não revela a verdadeira identidade. Não dá entrevistas ao vivo. Comunica-se com o público por e-mail ou site pessoal. Nas poucas vezes em que aparece em vídeos disfarça o rosto com efeitos digitais ou cobre a cabeça com um saco de papel. Justifica a postura excêntrica citando a ilegalidade da prática de grafitar. Mas, paradoxalmente, ou não, o anonimato o deixou muito famoso, um pouco como aconteceu com Robin Hood e Batman. Criou uma aura de mistério em torno do artista. Banksy deve ser o grafiteiro mais cultuado do mundo, ao lado dos nossos lendários paulistanos, osgemeos, com quem trabalha por vezes. As obras do inglês são vendidas por muitos milhares de dólares.
Lembrei-me dele há duas semanas ao topar com um lançamento na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Chama- se Banksy — Por Trás das Paredes. É assinado por Will Ellsworth-Jo nes. Procurava eu um presente para uma artista gráfica amiga minha, a Cris, que se recupera em casa de um acidente de surfe. Como ninguém é de ferro, comprei também um exemplar para minha filha, Maria. Mas sou eu que venho lendo o livro em casa. Traz uma história melhor do que a outra. As superfícies grafitadas por Banksy são disputadas quase a tapa, descobri. Paredes inteiras são preservadas, retiradas e vendidas a preço de ouro. Sua cidade natal, Bristol, na Inglaterra, entregou-lhe seu museu centenário em 2008 para uma exposição. O artista aproveitou para esconder obras suas entre a coleção permanente, criando uma espécie de “moderna caça ao tesouro”. Colocou um cordeiro amordaçado em meio aos animais empalhados e um cachimbo de haxixe na seção de olaria e cerâmica. O sucesso foi estrondoso. As filas, imensas. Veio gente do mundo inteiro. Nunca mais o museu provinciano foi o mesmo.
Minha amiga Cris gostou do presente. O livro a levou a ver o filme do Banksy. Sugeriu-me que fizesse o mesmo. É fácil de achar na internet. Não vou nem dar o endereço. Basta teclar o título no Google: Exit Through the Gift Shop. Vale a pena. Rejuvenesce.
A obra me inspirou a procurar obras de Bansky em São Paulo. Descobri que há duas delas numa pequena e bonita exposição de arte de rua no museu Caixa Cultural. Parecem um pouco acanhadas diante da balbúrdia do lado de fora, na Praça da Sé. Mas valem a viagem de metrô. A exposição vai até 20 de abril.