Obras inéditas de Tunga são apresentadas em exposição póstuma
Divididas nos dois espaços da Galeria Millan, as peças mostram que ainda há muito a ser descoberto do artista pernambucano falecido em junho
São incontáveis os artistas brilhantes que não puderam desfrutar do reconhecimento de seu trabalho em vida. Este não foi o caso de Tunga: sua obra deixou marcas por todos os lugares que passou. Ainda assim, a notícia do seu falecimento, no último mês de junho, abalou o cenário das artes no Brasil.
Não à toa, a primeira exposição póstuma do artista é esperada com grande expectativa. Aberta no sábado (15), na Galeria Millan, a mostra Pálpebras traz trinta trabalhos inéditos ou pouco vistos por aqui. Espalhadas por dois espaços na rua Fradique Coutinho, as peças mostram que ainda há muito a ser descoberto do artista pernambucano.
No espaço original da Galeria Millan, os Phanógrafos se parecem com pequenos gabinetes de curiosidades. Caixas de madeira almofadadas guardam materiais como pérolas, cristais, âmbar e pedras semipreciosas, além de recipientes que contém mosquitos, poeira ou elementos que parecem escatológicos. Já no espaço Anexo, as Morfológicas se apoderam do ambiente. Com referências eróticas, as esculturas em resina, gesso ou bronze, misturam diversas partes do corpo, como dedos e seios, em uma só figura.
“Essa mostra fecha um ciclo”, diz Fernando Sant’anna, amigo e assistente do artista durante quinze anos. “Só depois dela, posso dizer que, para mim, Tunga morreu”, acrescenta. Ao lado da equipe do Laboratório Agnut – ateliê no Rio que leva o nome do artista de trás para frente – o produtor deu continuidade à mostra que Tunga preparava nos últimos meses antes de sua morte, aos 64 anos.
O pontapé inicial para a exposição foi a peça A Seus Pés, que por conta das suas dimensões (tem 7 metros de altura), não havia sido apresentada por aqui. Depois da inauguração do amplo espaço Anexo, Tunga ficou empolgado por finalmente poder apresentar a escultura com longos pilares em forma de dedos e vagens gigantes.
Primeiro artista contemporâneo a ter uma obra na coleção do Louvre, em Paris, Antônio José de Barros Carvalho e Mello Mourão, o Tunga, participou das mais importantes mostras do mundo, como a Documenta de Kassel e as Bienais de Veneza e do Brasil. Seu ateliê que, no final de sua vida, contava com uma equipe de dez pessoas, cresceu de acordo com a demanda internacional. “Foi quando eu virei assistente de Tunga, em 2001, que o Agnut deixou de ser um ateliê e passou a funcionar como uma empresa”, conta Sant’anna. A equipe de dez pessoas passou a ter horários fixos de trabalho e a dividir tarefas e funções para cumprir solicitações de galerias e museus ao redor de todo o mundo.
A eficiência da equipe aliada à criação incessante de Tunga tornaram mais difícil escolher quais peças faria parte de sua primeira mostra póstuma. “Deixamos muita coisa de fora”, diz Sant’anna, que acrescentou desenhos e pinturas em papel à seleção original: “Muitas surpresas ainda estão por vir”.