De vez em quando acontece de eu sair de casa na mesma hora que a minha vizinha, Maria Rita. Nós nos conhecemos há décadas, antes mesmo de um morar ao lado do outro. Ela dividiu uma casa com minha primeira mulher e foi casada com um dos meus amigos mais chegados. Não nos faltam lembranças e gente querida em comum. Mas, de uns tempos para cá, sempre que nos encontramos ali na calçada em frente às nossas casas, o tema é um só: o pedestrianismo.
Tal como eu, Rita é adepta. Depois de anos andando de automóvel, vendeu o seu carro e hoje só se locomove a pé, de ônibus, de carona e, imagino, de táxi. Na semana passada nos encontramos no portão de casa, logo cedo, e fomos juntos até a esquina. Rita quis me contar que ficou com o veículo do filho durante um mês mas só o usou uma vez, para levar o cachorro ao veterinário, pois, convenhamos, ninguém é de ferro.
Não há nada de político na atitude. A intenção não é essa, ao menos. É puro entusiasmo. Quem consegue a proeza de se livrar do automóvel descobre um mundo novo, uma cidade nova, e com ela uma sensação intensa de liberdade. Pode perguntar à Rita.Cada deslocamento a pé se torna uma pequena aventura ou, no mínimo, um passeio. Nesse dia, Rita, que é psicoanalista, me disse que segue três trajetos diferentes até seu consultório, de acordo com seu humor e a pressa no dia. Vão do caminho mais curto e eficiente até o mais bonito.
O pedestrianismo está na moda, quem diria? É surpreendente que voltaríamos a andar a pé na segunda década do século XXI. Não há nada de regressivo nisso. O movimento é fruto, inclusive, de tecnologia de ponta. Satélites, GPS, big data e o crowdsourcing trabalham em conjunto para permitir que a gente se desloque com facilidade. Consulto sempre, ou quase, os mapas do Google antes de partir para um lugar novo ou pouco conhecido. A ferramenta me diz não só o caminho, mas o tempo que vai demorar para chegar lá, seja de metrô, de ônibus, de táxi, ou mesmo a pé.
Fiquei impressionado ao lhe pedir, dia desses, o caminho para um endereço desconhecido na Rua Fradique Coutinho, próximo da minha casa. Ele mostrou um trajeto por meio de dois atalhos que eu, na minha inocência, acreditava serem conhecidos tão somente por gente do bairro. Disse que da minha casa eu levaria onze minutos para chegar. Resolvi cronometrar. Parecia-me improvável que um computador soubesse o tempo que eu gastaria para percorrer a pé umas “quebradas” da Vila Madalena. Mas deu isso, onze minutos cravados. Ao constatar o acerto, meio assustador, até olhei para o céu, sem saber bem por quê.
Mas o Google Maps não é sequer a última palavra em mobilidade. Há tanta inovação nessa área de andar para a frente que é difícil acompanhar. Graças ao meu amigo Rodrigo, descobri recentemente um aplicativo para telefones inteligentes chamado Moovit, conhecido popularmente como o Waze do ônibus. Diz tudo o que preciso saber. Mapeia o trajeto, avisa quando vai chegar o busão, dá o horário dos trens da CPTM… Basta digitar aonde quer chegar. Se você escrever, apenas para dar um exemplo, digamos, Arena Corinthians, ele ensina direitinho o caminho.