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O americano, outra vez!

Por Matthew Shirts
Atualizado em 5 dez 2016, 11h55 - Publicado em 31 out 2015, 02h00

Quando Leonard, do seriado de TV americano The Big Bang Theory, se casa, os amigos nerds resolvem levá-lo para uma despedida de solteiro no México. Para fazer a viagem de Los Angeles, na Califórnia, pegam emprestada a van que um dia foi do lendário físico Richard P. Feynman. O veículo é hilário, comento com meu filho Samuel, de 12 anos, que assiste ao episódio comigo no sofá da nossa casa, perto de Pinheiros. Traz pintadas nas laterais anotações científicas. Queria um desses, falo para ele, deixando-o com cara de preocupação.

Ouvi falar de Feynman pela primeira vez há apenas três ou quatro anos. Ele ganhou o prêmio Nobel, participou com Einstein da invenção da bomba atômica, investigou a explosão do Challenger, o escambau. É tido como uma das mentes mais brilhantes do século XX. Quem me contou isso tudo foi o saudos oamigo Flávio de Carvalho, jornalista e físico de formação. Antes de morrer, Flávio me emprestou o livro de memórias do americano, esgotado e difícil de encontrar, O Senhor Está Brincando, Sr. Feynman.

Acreditava que poderia render uma crônica minha. É que Feynman, além de brilhante, era também uma figura, como se diz. Mulherengo, chegou a trabalhar em questões complexas de física num bar de strip-tease. Memorialista, contava suas aventuras de forma simples e bem-humorada. E, o mais interessante, ao menos para mim, viveu durante um ano no Brasil em duas viagens na década de 60.

Para meu desespero, a obra do Flávio desapareceu da minha casa. Se foi roubada, só pode ter sido por um ladrão culto. Mas consegui outro título de Feynman — este em inglês, numa livraria da Avenida Paulista —, que traz um capítulo dedicado ao Brasil. O autor se interessou pela América do Sul, segundo conta, graças a um desconhecido pedindo carona na estrada. Este lhe diz que a região do lado de baixo do Equador é fascinante. Foi o suficiente para Feynman começar a estudar espanhol. Quando um físico brasileiro o convida para vir ao país, troca a língua de Cervantes por aulas de português. Durante a segunda visita leciona física no Rio de Janeiro, vivendo por dez meses n ohotel Miramar, em Copacabana. O ano era 1966.

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As histórias que conta do seu tempo no Brasil são deliciosas. Feynman faz amizade com um faxineiro do hotel, que o leva para ensaiar na escola de samba Farsantes deCopacabana. Ali, depois de muito esforço e estudo sistemático, aprende a tocar “frigideira”. Ele conta, impressionado, como durante os ensaios o mestre de bateria gritava. “Pare! Tem alguma coisa errada com as frigideiras”, dizia o líder da percussão, para concluir em seguida: “O americano, outra vez!”. Este é o nome do capítulo, aliás, assim mesmo, em português. Mas, com o tempo, Feynman aprende a tocar o instrumento. O mesmo mestre de bateria passa então a mandar que os novatos fiquem ao lado do gringo. “Assim você aprenderá a tocar frigideira”, explica.

Depois de colocar o filho na cama, entrei na internet. Descobri que o livro emprestado pelo Flávio está mesmo esgotado, esgotadíssimo, e que a van apresentada no seriado existiu de fato. Bem que a editora Elsevier poderia relançar a obra do Feynman entre nós. Quem sabe não inspira uns jovens brasileirosa seguir carreira na física.

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