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Monja budista e seu passado de sexo, drogas e rock’n’roll

Ela já foi presa na Suécia por traficar LSD, já tentou suicídio e hoje é praticante do zen budismo

Por Daniel Nunes Gonçalves
Atualizado em 5 dez 2016, 19h04 - Publicado em 30 nov 2009, 11h53

Foi em 1973, nos cinco meses e vinte dias que passou presa em uma cela solitária no presídio de Frövi, na Suécia, por traficar LSD, que a paulistana Claudia Dias Batista de Souza descobriu a meditação. Moça de classe média alta do Pacaembu, ex-aluna do colégio de freiras Sion e filha de José Soares de Souza, braço direito do ex-governador Adhemar de Barros, Claudia sentia alívio ao repetir o mantra om. ‘Aquilo me dava sensação de liberdade e trazia um pouco da transcendência que eu buscava nas drogas.’ Prima dos mutantes Sérgio Dias e Arnaldo Baptista, ela levava uma vida boêmia e já havia tentado o suicídio. Mas só viria a abandonar esse estilo de vida cinco anos depois de deixar a prisão. Em 1978, quando morava na Califórnia com um dos cinco maridos que teve – Paul Weiss, ex-iluminador de palco do roqueiro Alice Cooper -, conheceu o zen, uma das vertentes japonesas do budismo. Encantada, deixou o rapaz, mudou- se pa ra uma comunidade espiritual, raspou a cabeça e se converteu. Cinco anos depois ela se entregaria de vez à vida monástica com um novo nome: Shin Guetsu ou monja Coen.

Esse é só um trecho da novelesca biografia da budista mais popular da cidade, que acaba de ganhar uma versão romanceada. O casamento aos 14 anos com o ex-piloto de carros de corrida Antonio Carlos Scavone e o nascimento da filha Fábia, quando tinha apenas 17 anos, são outras passagens marcantes que foram citadas em Monja Coen, a Mulher nos Jardins de Buda ( Mescla Editorial; 264 páginas; R$ 53,90), com lançamento previsto para o dia 10 na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. ‘Fiz duas entrevistas mensais com ela ao longo de um ano e criei situações e diálogos de ficção baseados na sua história real’, explica a autora, Neusa C. Steiner, que conheceu a monja durante o mestrado em ciências da religião na PUC.’Trocamos todos os nomes para preservar os envolvidos’ A estrela do livro conta, por exemplo, que sua família não era tão rica como a da obra. ‘Mas é verdade que fui molestada sexualmente quando criança’, diz.’Essa é e não é a minha história’ A própria monja foi autora de dois livros – Viva Zen e Sempre Zen, da Publifolha -, além de repórter do Jornal da Tarde por três anos e meio, no fim dos anos 60. ‘Minha primeira entrevista foi com o Clodovi’, lembra. Apesar de carregar no tom ficcional, o livro dá uma boa ideia de quão intensa foi ida de Claudia, batizada na obra como Silvia: algo como o caminho de luxúria trilhado antes da iluminação’ pelo próprio Buda. ‘São experiências que nos levam ao amadurecimento, mas não podemos estacionar nessa fase de festas’, afirma a monja.

Aos 62 anos, ela canaliza sua vitalidade para uma agenda profissional cheia, que não exclui duas aulas de ioga semanais e exercícios com um grupo de quarenta pessoas da terceira idade. Seus antigos prazeres carnais nunca foram segredo para os cerca de 120 devotos da Comunidade Zen Budista, templo que funciona na casa em que vive (e na qual passou a infância), diante do Estádio do Pacaembu. Exemplos de sua vida privada também são citados naturalmente nas palestras que faz em empresas, ao preço médio de 3.000 reais cada uma, e que respondem

por cerca de 60% da receita do centro. Na última terça (24), o balanço detalhado do mês de setembro (com 20.000 reais de despesas contra 25.000 de receitas) estava afixado no mural de cortiça do hall de entrada, onde os fiéis trocam os sapatos por havaianas antes de reverenciar a estátua de Buda no tatame da casa.

A primeira mulher a ocupar a presidência das Seitas Budistas no Brasil, no fim dos anos 90, acorda às 6 da manhã e dificilmente dorme antes da meia-noite. Quem passeia pelo Parque da Água Branca no terceiro domingo de cada mês já deve ter flagrado a senhora careca vestida de samue, o manto dos monges, liderando caminhadas meditativas. O hábito surgiu em 2001, no Parque da Aclimação, depois que a religiosa foi afastada do templo da Liberdade, por causa de um conflito com membros da comunidade japonesa tradicional. Dona de duas cadelas, a akita Tora e Endora, da raça dogue alemão, ela vai a “cãominhadas como a do último dia 4 de outubro. Dirige seu Gol cinza 2002 para participar de programas de TV e cerimônias pela paz e interreligiosas, normalmente como representante de todas as linhas budistas da cidade. Monja Coen não se incomoda com a popularidade. Pelo contrário. ‘Tem gente que me chama de exibida, e acho que sou um pouco, sim’, confessa. ‘Sei que os veículos de comunicação são uma ferramenta poderosa para que mais pessoas conheçam a doutrina de Buda’ Por isso permitiu ter sua trajetória devassada, ainda que com uma boa carga de ficção, em livro.’Quero que as pessoas saibam que podem se transformar e se guir para qual lado quiserem.’

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