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Ex-livreiro publica romance redigido a mão na mesa de uma confeitaria

Cinquenta cadernos foram convertidos no livro “Minha Mãe Se Matou sem Dizer Adeus”

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 18h27 - Publicado em 19 nov 2010, 22h42

Por boa parte do ano passado, o ex-livreiro e escritor Evandro Affonso Ferreira, de 65 anos, estabeleceu uma rotina espartana e um tanto esquisita. Saía da pensão onde mora, na região central de São Paulo, adentrava o Shopping Pátio Higienópolis por volta das 10 horas e instalava-se na mesa de uma confeitaria. Ficava ali, escrevendo, até o meio-dia, quando clientes passavam a disputar os lugares. Entre as 16 e 18 horas, lá estava Ferreira de volta, transferindo para o papel as histórias imaginadas. Cinquenta cadernos depois — digitados em seguida no computador presenteado pela namorada, uma psicanalista que vive no Rio de Janeiro —, o resultado é o romance “Minha Mãe Se Matou sem Dizer Adeus” (Editora Record; 128 páginas; R$ 27,90), lançado na semana passada.

Radicado em São Paulo há 47 anos, o mineiro Evandro Affonso Ferreira trabalhou como bancário e publicitário. Ofereceu na época um razoável padrão de vida à sua então mulher e ao casal de filhos, sem formar patrimônio algum. Bebeu muito e pouco leu. Aos 45 anos, o coração ameaçou parar. Durante a recuperação do infarto, Ferreira devorou livros. “Conversava e até discutia sobre literatura em mesa de bar, com gente que realmente entendia, mas na verdade nunca havia lido autores como Graciliano Ramos ou Julio Cortázar”, confessa. A agência de publicidade foi deixada para trás, e ele tornou-se proprietário de dois sebos, o Sagarana e o Avalovara, em Pinheiros. “Sempre li mais que vendi e não oferecia nada que julgasse de qualidade duvidosa. Talvez por isso não tenha conseguido mantê-los”, diz ele, que publicou cinco livros, como os contos de “Grogotó!” (2000) e a novela “Araã!” (2003).

Um novo romance foi entregue à editora, redigido — também a mão — em meio a caminhadas pelo Viaduto do Chá, a Avenida São João e o Cemitério da Consolação. “Meu sonho é ganhar um prêmio e comprar uma quitinete”, revela o autor, que recebe uma aposentadoria e tira um extra como professor de uma oficina de textos literários, coordenada pela filósofa Márcia Tiburi. “O Evandro escreve o tempo inteiro, tudo o que acontece ao seu redor vira literatura, e sua vida é isso”, afirma Márcia. Diante do comentário da amiga, o escritor arremata dramaticamente: “Quero morrer com uma caneta na mão, completando uma frase qualquer.”

 

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