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Merlin e Shiva

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 19h45 - Publicado em 18 set 2009, 20h18

Sempre amei os cães. Ultimamente, descobri também a paixão pelos gatos. Tudo começou por impulso. Vi um gato cor de mel na vitrine de uma loja de shopping. Absolutamente imóvel. Fiquei algum tempo observando, em dúvida se era brinquedo ou ser vivo. Ao seu lado, dois outros passeavam. Finalmente, ele mexeu de leve a cabeça. “Que gato quieto!”, espantei-me.

Tive pena. Acho cruel o que essas lojas de animais fazem, deixando os bichos presos o dia inteiro em um espaço minúsculo. “E se eu comprar o gato?”, pensei. Achei loucura. Já tenho três cães. Imaginei as confusões, os miados, os latidos, as perseguições. Fui comer um sanduíche. O gato não me saía da cabeça. “Jamais farei isso!”, decidi. Terminei o sanduíche e resolvi olhar o bichano mais uma vez. E então, diante da vitrine, tive uma daquelas intuições que só ocorrem de vez em quando. “Eu preciso levar esse gato para salvar a vida dele”, refleti. Foi um sentimento forte. Entrei na loja. Perguntei o preço do gato, da casinha, da ração. Era caro. Abri a carteira e arranquei o cartão de crédito.

– Por que não compra também a companheirinha dele? – insinuou o vendedor, indicando a gatinha rajada de preto.

Dali a pouco eu estava no carro com um pacote de ração, vasilha higiênica, almofadinhas, os dois gatos numa caixa de papelão e o cartão de crédito estourado. Fui para casa. Os cães me perseguiram excitados enquanto eu fugia com os gatos para o meu escritório. Tranquei-me com eles. Um amigo apaixonado por felinos explicou:

– Eles precisam passar um tempo presos para se acostumar com a casa.

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Forrei a janela do escritório com telas. Servi a ração. Em seguida, tratei de mudar o nome deles, dado pelo gatil. O dela não me lembro. Mas ele se chamava Cherry. Não achei adequado para um representante do sexo masculino. Troquei por Merlin e Shiva. Aí descobri que ele tossia. Sem parar. Pus a mão no focinho. Estava quente.

Voei para o veterinário. Minha intuição provou-se verdadeira. Merlin estava à beira da morte. Passou um mês internado. Eu ia visitá-lo, estava sempre preso numa gaiolinha. Não me reconhecia como dono. Shiva acostumou-se com o escritório e dormia no meio dos livros. Adorava ouvi-la ronronando ao meu lado no sofá, mordendo de leve a ponta dos meus dedos. Merlin voltou, mas não estava curado.

– Talvez seja uma doença crônica – informou o veterinário.

Um amigo indicou um especialista em gatos. Novo tratamento, com remédios em horários certos. Aos poucos, Merlin parou de tossir. E começou a demonstrar sua verdadeira personalidade, escalando mesa, estante, botando o focinho em tudo! Tão quietinho na vitrine, tão animado em casa!

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O passo seguinte foi promover a integração. Coloquei Merlin e Shiva na sala, separados dos cães por uma porta-janela de vidro. Latidos. Os felinos lançaram olhares de desprezo. Dias depois, abri a porta, pronto para intervir. Os cães cheiraram. Os gatos ergueram o rabo, orgulhosos. Passei dias atento. Até que, numa noite chuvosa, não achei Merlin de jeito nenhum. Esquadrinhei a casa toda. Fiquei encharcado no jardim. “Ele fugiu!”, concluí com dor no coração.

De manhã, a surpresa! Merlin e os três cães dormiam juntos, aquecendo-se mutuamente, como velhos amigos!

Agora, onde estou eles vão. Shiva, mais arisca, fica sempre por perto. Merlin deita-se aos meus pés. Sobe no meu colo enquanto escrevo. Definitivamente, estou perdidamente apaixonado. E sei que esse amor é para toda a vida!

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