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Marco Antonio Tobal, o magnata da Barra Funda

Ex-office boy e filho de um taxista, o empresário virou o rei da região com duas casas para 17 000 pessoas e se prepara para abrir até o fim do ano um novo local de shows no bairro

Por Rachel Verano
Atualizado em 5 dez 2016, 15h39 - Publicado em 13 set 2013, 18h57

Um ex-depósito de azulejos nas redondezas da Estação Metrô Barra Funda do metrô virou, depois de uma reforma completa, o epicentro da onda da música sertaneja na capital. Com um restaurante, uma loja de roupas country, dois palcos para shows simultâneos e capacidade para 9 000 pessoas, o endereço, batizado de Villa Country, foi inaugurado em 2002. Mesmo depois de mais de uma década, ele continua um fenômeno de popularidade. Atrai cerca de 30 000 frequentadores por mês, embora só abra de quinta a domingo. A noite da região ganhou um impulso adicional em dezembro do ano passado com a reinauguração, em um galpão ali por perto, do Espaço das Américas, casa de shows que, após uma reforma, foi ampliada para receber até 8 000 espectadores. A estreia triunfal ocorreu com uma apresentação de Roberto Carlos. Depois dele, vieram várias outras atrações de peso, incluindo a cantora Diana Ross e o DJ Tiësto. Na última quinta (12) estava previsto o espetáculo da cantora Alicia Keys. Na próxima quarta (18), será a vez de Bruce Springsteen ocupar o palco.

O homem por trás do Villa Country e do Espaço das Américas é Marco Antonio Tobal, que completa 59 anos neste sábado (14). Ex-office boy e filho de um taxista, ele começou a carreira ainda na época de estudante, promovendo bailinhos no bairro da Vila Matilde. O negócio foi crescendo e inspirou em 1972 a criação da Toco, danceteria que marcou época na cidade e funcionou durante 25 anos. Animado pelo sucesso, o empresário abriu outras boates (como a Twist’s, em São Caetano do Sul, e a Contramão, no Tatuapé, no começo dos anos 80) e se envolveu na produção de grandes eventos. Tobal tinha apenas 26 anos quando bancou, em 1981, a vinda do conjunto inglês Queen a São Paulo, em uma época em que raríssimas estrelas internacionais se arriscavam a pôr os pés por aqui. Em duas noites memoráveis no Estádio do Morumbi, Freddie Mercury e sua trupe reuniram cerca de 200 000 fãs. Na mesma década, com o estouro do rock nacional, o empresário embarcou na onda e produziu shows de nomes como Barão Vermelho, Legião Urbana e Paralamas do Sucesso. “Fizemos com ele nossa primeira turnê depois do Rock in Rio, em 1985”, lembra José Fortes, empresário dos Paralamas do Sucesso. Fora do universo musical, Tobal aventurou-se como dono de casas de bingo. Manteve até 2007 duas delas — uma no Tatuapé, outra nos Jardins.

Ele se prepara no momento para ampliar seus domínios na noite da Barra Funda. Na semana retrasada, acertou os últimos detalhes para assumir o ponto na Avenida Francisco Matarazzo onde funcionava um espaço de eventos. O local, de 6 000 metros quadrados, será reformado nos próximos meses a um custo de aproximadamente 1 milhão de reais. Ali, surgirá uma casa de shows para apresentações de artistas de rock e DJs, entre outras atrações. O nome do negócio está em aberto, pois depende ainda da venda dos naming rights a algum patrocinador. “Companhias de setores como telefonia e indústria automobilística estão entre os interessados”, afirma o empresário. A definição dos detalhes do projeto coube ao seu filho mais velho, Marco Antonio Tobal Júnior, de 35 anos. “Queremos um lugar onde nomes emergentes surgidos do circuito alternativo da cidade possam se apresentar com melhor infraestrutura e para um público maior”, conta Júnior. Seus dois outros irmãos, Vinícius, 32 anos, e Thiago, 29, também trabalham ao lado do pai.

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Ponto de partida da carreira de Tobal no mundo das baladas, a Toco, na Vila Matilde, representou também a origem de um modelo de negócio que ele aperfeiçoou e vem repetindo ao longo das últimas décadas: casas bem populares que só tocam o que está na crista da onda. Ele não tem a pretensão de reinventar a roda das baladas nem posar de moderninho, como alguns de seus pares da região do Baixo Augusta. “É um cara com faro para atrair a boiada”, entende um concorrente da noite paulistana que prefere não se identificar. “Só aposta naquilo que não tem erro. Perde na originalidade e na exclusividade, mas ganha no volume de público.” Tanto no Villa Country como no Espaço das Américas, Tobal tem como parceiros figurinhas carimbadas nesse mercado na metrópole: Fernando Mafra, ex-sócio da OverNight e dono do Cabral, e o espanhol Alejandro Figueroa, proprietário do extinto grupo Olympia. A única tacada empresarial da qual não gosta de falar muito é sua fase no setor de jogatina. Além de comandar duas casas, ocupou o cargo de vice-presidente da Associação Brasileira de Bingos (ABB). Um dos motivos para esse desconforto foi o envolvimento de seu nome em um grampo com autorização judicial feito pela Polícia Federal em 2007.

Era a operação Têmis, que investigava a venda de licenças para esses negócios. Em uma das gravações, o supervisor de fiscalização da subprefeitura da Sé pergunta a Tobal, de uma forma cifrada, como seria arranjado o dinheiro para ajudar na reabertura de um bingo. “Ah, manda vir pegar, né?”, respondeu. Depois disso, o funcionário público acabou afastado e Tobal foi chamado à sede da PF para prestar esclarecimentos. O caso, porém, não teve consequências legais para o magnata da Barra Funda. “Fui envolvido indevidamente nessa história”, defende-se. “Não conhecia a pessoa da gravação. Ela me ligou no celular propondo um negócio e, na hora, falei apenas para ela aparecer no meu escritório para conversarmos. Mas esse encontro acabou não ocorrendo.” No mês passado, de forma a encerrar de uma vez por todas sua ligação com essa área, Tobal desligou-se da ABB.

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Nascido e criado na Vila Matilde, ele começou a trabalhar aos 15 anos. Ainda adolescente, carimbou a carteira como encarregado de almoxarifado e office boy. Cursou três anos de engenharia metalúrgica, mas abandonou a faculdade antes de concluí-la. Fez sua vida na Zona Leste, de onde só saiu em 1987, rumo aos Jardins. Há sete anos, mora na região apenas com a mulher, Sandra, com quem está há 35 anos, em um apartamento de cinco suítes, cinco vagas na garagem e 426 metros quadrados, avaliado em 7,8 milhões de reais. Baladeiro convicto, ele não abre mão de sair à noite, ainda que seja para conferir seu legado de perto. “Sou do tipo que põe a mão na massa mesmo”, diz. Não raro, durante um show, acompanha todos os mínimos detalhes da produção até as vésperas de as portas se abrirem. Depois, circula pelo salão conferindo a iluminação, a organização dos camarotes e a potência do som. Está sempre de calça jeans, tênis e camisa ou camiseta.

Se já conquistou tudo o que queria? Ele responde que não. O eclético amante tanto dos Pet Shop Boys quanto do sertanejo Cristiano Araújo (“minha nova mania”) sonha em fazer uma apresentação de arromba com o conjunto inglês New Order abrindo a noite para o DJ francês David Guetta, um dos grandes nomes do momento da música eletrônica. Local do espetáculo? Nos arredores da Barra Funda, claro.

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