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Shopping JK Iguatemi só reabrirá no domingo

Mesmo com fim da manifestação que reuniu mais de cem pessoas na frente de centro comercial no Itaim, o local só voltará a funcionar amanhã

Por Mayra Maldjian
Atualizado em 5 dez 2016, 15h19 - Publicado em 18 jan 2014, 13h51

O shopping JK Iguatemi fechou as portas por volta das 13h45 deste sábado (18), quando cerca de cem manifestantes se aproximavam do local para um “rolezinho contra o racismo”. Segundo comunicado divulgado por sua assessoria de imprensa por volta das 16h40, quando o protesto chegava ao fim, o estabelecimento só reabrirá no domingo (19). “O Shopping Center JK Iguatemi esclarece que respeita manifestações democráticas e pacíficas, mas o espaço físico e a operação de um shopping não são planejados para receber qualquer tipo de manifestação. Com o compromisso de garantir a segurança de seus clientes, lojistas e colaboradores, e de acordo com procedimento padrão utilizado em situações semelhantes, o empreendimento encerrou suas atividades neste sábado, 18 de janeiro”, diz a nota oficial.

Pela internet, a Uneafro (União de Núcleos de Educação Popular para Negras/os) convocou a população para uma caminhada contra o racismo, em especial, segundo eles, contra a discriminação praticada pelos shoppings ao restringir ou proibir os rolezinhos dos jovens da periferia. A concentração começou ao meio-dia, no Parque do Povo, e a passeata partiu pela Avenida Presidente Juscelino Kubitschek por volta das 13h30. A polícia não acompanhou a marcha, pacífica do início ao fim. O evento contava com mais de 4 000 confirmados no Facebook.  Entre os gritos de guerra, estavam “Chega de apartheid, é rolezinho nos shoppings da cidade” e “Por menos que conte a história. Não te esqueço meu povo. Se Palmares não vive mais. Faremos Palmares de novo”. A mensagem “JK racista” foi pichada três vezes na calçada em frente a uma das entradas do centro comercial.

Douglas Belchior, membro da instituição há seis anos e um dos organizadores do encontro, admitiu que a ação nada tem relação direta com os organizadores dos rolezinhos, que, a princípio, são apenas grandes encontros entre jovens da periferia dentro dos shoppings. “Não há ligação direta com os garotos, mas nós estamos defendendo a liberdade deles.” Belchior disse que os movimentos sociais se apropriaram da causa depois da repressão policial, de caráter “discriminatório, preconceituoso e racista”. Para ele, os roubos registrados durante os rolezinhos são “ações isoladas” e as confusões só ocorrem depois da repressão da polícia. “É so a galera da periferia querendo beijar, encontrar os amigos, alguns ídolos. Por que os shoppings os impedem de se divertir como todo mundo?”, complementa Luiz Felipe Bueno, integrante do Uneafro.

+ Em vídeo: da pegação ao confronto, como nasce um rolezinho

 

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Ao encontrar as portas do shopping fechadas, líderes e advogados da manifestação dirigiram-se ao 96º DP para registrar um boletim de ocorrência contra a atitude da administração do shopping. Enquanto isso, o microfone ficou à disposição do público para transmitir mensagens de suas organizações e movimentos, ou simplesmente para cantar sambas e raps cujas letras expressam sentimentos da negritude. Paródias de sucessos do funk também foram entoadas com a temática do encontro. “É a primeira vez que participo de um rolezinho”, conta MC Serginho, que mostrou um funk autoral na roda durante o encontro.

 A funcionária Karina Santos saiu para comprar cigarros e quando voltou o shopping estava fechado. “Vou ter que esperar reabrir, não tenho como ir pra casa sem dinheiro, sem nada”, conta. “Sou a favor da manifestação, se eu não estivesse de uniforme, estaria lá no meio.” Assim com ela, os funcionários que estavam do lado de fora não puderam entrar. A movimentação estava normal dentro do shopping, mas os lojistas e os clientes foram liberados aos poucos pelos fundos. A VEJASAOPAULO.COM conversou com visitantes que perderam sessões de cinema e de teatro. Um casal de Curitiba deu de cara com as portas fechadas -eles haviam comprado ingressos pela internet para assistir à peça A Alma Imoral. A assessoria do shopping diz que eles serão reembolsados.

Acompanhado entre outros de Douglas Belchior e de Juninho, líder do Círculo Palmarino, uma corrente nacional do movimento negro, os advogados voltaram ao protesto por volta das 16h40, sacudindo cópias do boletim de ocorrência. Um deles, Eliseu Soares Lopes, tomou o microfone para discursar. “É bom lembrar a todos que as pessoas que vieram aqui se manifestar têm direito constitucional de se manifestar. E entendemos que se alguém aqui cometeu um crime foram os responsáveis pelo shopping de impedir as pessoas que estão aqui de entrar no shopping simplesmente porque são negras, pobres e da periferia de São Paulo. Não podemos permitir que exista no Brasil em pleno século XXI um apertheid.” Ele disse ainda que entrará com mandado de segurança na Justiça para acessar as liminares contra os rolezinhos e com uma ação pontural contra a atitude do JK Iguatemi

“Nós estamos fazendo história”, brada Juninho. “Nada mais do que um fato concreto, objetivo, simbólico de nos impedir de adentrar nesse templo do consumismo das elites deste país para caracterizar esse processo de segregação que a gente vem denunciando. E não se expressa só no campo simbólico, mas também no ponto de vista da violência praticada cotidianamente contra nossa população. E essa juventude que tem ido às ruas, aos shoppings, tem tentado se organizar, mesmo que não apresentem uma pauta política, a sua insurgência de tentar ocupar um espaço que lhe é renegado é uma ação política”, discursa. 

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Às cinco da tarde, o grupo voltou caminhando ao Parque do Povo e o shopping permaneceu fechado. 

+ Leia mais: Donos de shoppings cogitam fechar as portas em dias de rolezinhos

+ Com medo de rolezinho, JK Iguatemi barra entrada até de funcionários

Como uma brincadeira dos jovens se transformou em um problema de segurança para os shoppings e seus frequentadores

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