Laudomia Pucci em technicolor
A herdeira e diretora de criação da Emilio Pucci revela que a elegância nem sempre mora no pretinho básico
Se você tem um par de pernas longilíneas – daquelas que permitem usar meia-calça fina e clara com risco da seda que delineia a panturrilha à mostra graças a um minicomprimento – e um par de olhos da cor do mar de Capri em pleno verão, bastaria um pretinho básico e você seria o centro da festa. Aos 50 anos, Laudomia Pucci tem ambos, mas dispensa a ideia de passar em branco – ou em preto. “Nasci rodeada por cores. Temos 400 tons no nosso arquivo, todos da época de meu pai, e nenhum deles está na palheta do Pantone”, disse ela. Laudomia fez um rasante em São Paulo, direto de Florença, para conhecer a primeira loja da marca fundada pelo marquês Emilio Pucci, em 1947. O espaço tem 150 metros quadrados e é uma das maiores lojas da grife italiana no mundo. De tubinho de mangas longas roxo, écharpe turquesa e escarpins verde claro – tudo, evidentemente, Emilio Pucci –, a diretora de estilo se acomodou entre as almofadas de seda com estampa da marca e conversou com a VEJA SÃO PAULO.
Veja São Paulo – Essa é sua terceira visita ao Brasil. O que nota de diferente no país?
Laudomia Pucci – Minha primeira vez foi há muito anos. Voltei recentemente para a abertura da loja dentro da Daslu. Vejo agora muito mais lojas de marcas europeias e muito mais mulheres abraçando a moda.
Veja São Paulo – As brasileiras se sofisticaram?
Laudomia Pucci – Ah, as brasileiras são naturalmente elegantes. Isso sempre me chamou atenção. E o melhor do Brasil é justamente esse charme das pessoas. É do que mais gosto aqui.
Veja São Paulo – Seu pai fundou a marca em 1947. Com a compra, em 2000, pelo grupo LVMH, a Pucci já teve como criadores os estilistas Christian Lacroix, francês, e Matthew Williamson, inglês. Há nove estações Peter Dundas, um surfista norueguês, levou a marca – conhecida por ser favorita do jet-set aproveitando la dolce vita sob o sol da riviera italiana – do dia para a noite. Hoje, a garota Pucci é mais Capri-balada do que Capri-lancha-Riva. Tornar a marca mais sexy foi uma estratégia para rejuvenescê-la?
Laudomia Pucci â Capri à noite? Ótimo! É um bom jeito de caracterizar o que Peter fez pela Pucci. Ele adicionou o elemento fashion que faltava à grife. A garota Pucci – independentemente da idade, e o espectro é bem amplo – tem atitude de sobra para caprichar na roupa de dia e desencanar do look à noite. Peter adora o corpo feminino e adora garotas sexy – daí termos muito mais roupas curtas, com decotes, fendas… Mas, como estilista, soube se aproveitar do nosso legado – glamour, celebridade e, sim, la dolce vita – para recriar a casa.
Veja São Paulo – Emilio Pucci faz duas coisas dificílimas: estampas e mistura de cores. Como é possível ter algo tão marcante e ao mesmo tempo não cansar os olhos?
Laudomia Pucci â Credito isso à nossa dimensão artística. Nossas estampas têm ligação direta com as obras do Renascimento italiano. Crescemos expostos a isso. Vem daí o apelo clássico. Hoje, trabalhamos com o nosso acervo de estampas permanentemente. Reeditamos estampas da época de meu pai, mas também manipulamos esse acervo de duas formas: ampliamos os desenhos, agigantando as formas, ou nos aproximamos radicalmente de uma faceta do desenho, num efeito microscópico.
Veja São Paulo – Metaforicamente, Pucci pode equivaler a um pretinho básico, mas, na prática, está longe disso.
Laudomia Pucci â As pessoas têm a imagem da Pucci como uma marca de estampas e das cores do pop art dos anos 60. Mas meu pai começou trabalhando cores sólidas e só depois investiu nas estampas. Ter vestidos pretos, vermelhos, enfim, não é uma invenção de Peter. É puro Pucci.
Veja São Paulo – Veremos mais Pucci pelo Brasil?
Laudomia Pucci â Temos planos, sim, de abrir mais uma loja em São Paulo e expandir para multimarcas.
Veja São Paulo – Você tem pernas incríveis! Não precisa de mais nada – só um curtinho Peter Dundas para Pucci.
Laudomia Pucci â (risos). Obrigada! É verdade – toda mulher deveria experimentar essa combinação.