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João Grandino Rodas, o novo reitor da USP

Novo reitor viveu 45 de seus 64 anos dentro da universidade e pretende acabar com os conflitos e violência dentro da USP

Por Daniel Nunes Gonçalves
Atualizado em 5 dez 2016, 18h58 - Publicado em 29 jan 2010, 13h05

A posse do professor João Grandino Rodas como novo reitor da Universidade de São Paulo, realizada na Sala São Paulo na última segunda (25), foi uma cerimônia de pompa. Teve apresentação da Orquestra Sinfônica da USP, do Coral Lírico do Teatro Municipal e dos Meninos do Morumbi. Incluiu um culto ecumênico com direito a cardeal, rabino, xeque e mãe de santo, além de rituais como a troca de vestes entre ele e a ex-reitora Suely Vilela, cuja gestão, marcada por piquetes e greves, não deve deixar saudade. Mas nada impressionou mais os 1 400 convidados do que o discurso contundente da estrela da noite. Com uma fala improvisada — apesar de um texto-base ter sido distribuído ao público —, o novo reitor ressaltou a intenção de acabar com “o frequente embate de pessoas, o rareamento do respeito mínimo entre os segmentos da universidade e o uso corriqueiro da violência”.

Escolhido pelo governador José Serra (foi o segundo mais votado de uma lista tríplice), Rodas assume com a missão de comandar uma cidade universitária de 100 000 pessoas (os alunos representam 80% do total), administrar um orçamento anual de cerca de 3 bilhões de reais e recuperar a imagem do mais prestigioso centro de ensino superior do país. Para acabar com a sequência vergonhosa de greves injustificadas, invasões e atos de vandalismo dos últimos anos, ele promete uma administração transparente, baseada no diálogo. Está disposto a modernizar prédios e laboratórios (“Sofremos um marasmo estrutural”) e a discutir o bom uso do espaço por alunos e não alunos. Ele assumiu o cargo providenciando mudanças. A primeira delas: a transferência de sua sala e das instalações de seus subordinados diretos para o prédio da antiga reitoria, que não era usado para esse fim desde 1968.

 

Evelson de Freitas/AE

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A ex-reitora Suely Vilela passa as vestes para Rodas, que volta a despachar do prédio da Antiga Reitoria

 A trajetória de Rodas está totalmente ligada à instituição. Ele viveu ali 45 de seus 64 anos. Ex-aluno de direito e pedagogia formado em 1969 (tem ainda uma terceira graduação em letras), leciona na São Francisco há 39 anos e deu aulas na Faculdade de Educação por dez anos. Antes de virar doutor e livre-docente pela USP, passou seis anos no exterior realizando três mestrados: direito em Harvard, diplomacia na The Fletcher School of Law and Diplomacy, ambas nos Estados Unidos, e ciências político-econômicas na Universidade de Coimbra, em Portugal. Estudou também na França, na Alemanha e na Holanda. Acabou se especializando em direito internacional e direito de concorrência, com dez livros publicados nessas áreas. Atingiu o auge profissional quando ocupou os cargos de chefe do departamento jurídico do Itamaraty (1993 a 1998) e presidente do Cade, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (2000 a 2004).

Respeitado pelos colegas de profissão foi prestigiado na posse da segunda passada por figurões como o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. “Ele é um acadêmico qualificado e tem grande experiência administrativa”, diz Mendes. O advogado Ruy Altenfelder, presidente do Conselho de Administração do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), destaca sua competência profissional: “Rodas foi o primeiro colocado no concurso para juiz do trabalho e um dos primeiros do exame para juiz federal”. A experiência como advogado empresarial da Ford e da extinta empresa aérea TransBrasil, nos primeiros anos de carreira, e a atuação como jurista e desembargador ajudam a rechear seu currículo.

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Fora do trabalho, o professor doutor leva uma vida discreta. Paulistano da Vila Maria, filho de pai alagoano e mãe descendente de italianos, envolveu-se primeiro com a música. “Aprendi as notas musicais antes das letras, aos 5 anos”, diz. A licenciatura precoce em música deu origem a um hábito mantido até hoje: tocar piano e órgão. Viúvo, perdeu o único filho, de 16 anos, em um acidente. “Depois disso tudo fiquei cético e dificilmente namoro”, confessa. Mesmo assim, mantém a vaidade pintando o cabelo de acaju. Mora hoje com a mãe, de 85 anos, em um apartamento no Jardim Morumbi. Não fuma, evita café e dificilmente bebe ou faz atividades físicas. “Não dá tempo”, afirma. Como disse no encerramento do discurso de posse, João Grandino Rodas promete encarar a nova missão de reitor da USP com a mesma rotina enérgica de trabalho. “É melhor do que ser caracterizado por inação e pusilanimidade.”

O QUE ELE PENSA SOBRE

…a infraestrutura atual da universidade

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“Não acho que devemos abrir mais vagas enquanto nossos prédios estiverem velhos e a estrutura não acompanhar esse crescimento. Faltam laboratórios didáticos, bibliotecas digitais e complexos esportivos modernizados. Para isso não queremos mais dinheiro do governo, mas sim de instituições financiadoras.”

…a democratização do ensino

“É preciso discutir as cotas raciais e de poder econômico. Como ficaria o equilíbrio do ensino entre os que têm mérito acadêmico e os que não têm? O ideal é fazer como o Itamaraty, que investe nos estudantes antes da faculdade, já que existe um só vestibular para todos. A USP é, definitivamente, o lugar onde se pode pensar em soluções.”

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…investimentos em educação

“Nos últimos quarenta anos, investiu-se bastante na pós-graduação. Agora acho importante ter um olhar aprofundado para a graduação. É fundamental, afinal recebemos 10 000 novos alunos por ano. Ao mesmo tempo, penso em estabelecer um porcentual de 5% dos investimentos para pesquisas que normalmente não seriam bancadas por órgãos como CNPq e Fapesp.”

…criminalidade nos câmpus (entre 2008 e 2009 foram registrados 56 roubos e 316 assaltos)

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“A insegurança é um problema mundial, mas os alunos têm ojeriza à presença da polícia. Inicialmente, acho que devemos aumentar o contingente da guarda universitária.”

…o acesso de corredores e ciclistas na USP

“Isto aqui não é um burgo medieval. Abrir a área aos milhares de esportistas paulistanos carentes de áreas verdes e tranquilas, porém, não seria factível. Por outro lado, nossos alunos são ‘bolsistas do povo’. Seria justo estudar um jeito de democratizar este espaço, mas com uma boa regulamentação.”

 

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