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Jazz no centro

Por Matthew Shirts
Atualizado em 20 jan 2022, 09h22 - Publicado em 3 out 2014, 00h00

Quando recebi do meu amigo Antônio Pedro, também conhecido como Tota ou Professor, um convite na semana passada para ir a um clube de jazz na Rua General Jardim, próximo ali da Praça da República, fiquei animado. É um programa descolado para as 22 horas de uma quinta-feira, convenhamos. A banda faria um tributo ao compositor e pianista americano Thelonious Monk (1917-1982). Para quem não sabe, ele faz parte da relação de artistas clássicos da melhor fase do jazz nos Estados Unidos. Entre suas obras-primas estão músicas como Round Midnight e Straight, No Chaser.

Surpreende-me o fato de existir um clube assim no centro de São Paulo. Não sabia, confesso. Um tributo ao Monkvale como um atestado de seriedade. Não deve ser nada fácil tocar aqueles acordes rebuscados e inesperados. A música dele soa exótica, difícil e nova, sempre, mesmo para quem a ouve com frequência. Não sei como conseguia. É coisa de músico meio bruxo.

Saio da Estação República com expectativa, um pouco antes da hora do show. Dá frisson andar a pé por ali à noite. Sinto-me vivo e urbano, para não dizer moderno. Minha condição será sempre a de um caipira na metrópole, ocorre-me. Isso não muda, apesar dos meus 25 anos de vida aqui na capital. Na esquina da Bento Freitas encontro as profissionais do sexo a vender seus dotes. Continuo fascinado por elas, e sem coragem de olhar muito. São manifestações das nossas fantasias coletivas, considero cá com meus botões, personagens saídas de um filme do diretor espanhol Pedro Almodóvar, concluo antes de seguir em frente.

Quando chego ao clube, que se chama JazzB, o Professor já está sentado à mesa diante de uma garrafa de vinho. Veste boné de lã com aba frontal. Há no meio da sala um piano, uma bateria e um contrabaixo, mas ninguém toca nada ainda. Saímos de um cenário de Almodóvar para outro um pouco mais protegido e tranquilo, agora de Woody Allen.

O Tota se dedica há décadas ao estudo da influência americana no Brasil. Está interessado, sobretudo, em como as duas culturas se entendem. Seu primeiro livro sobre o assunto chama-se O Imperialismo Sedutor e é voltado para o período da II Guerra Mundial. Faz sucesso aqui e também lá nos Estados Unidos, em tradução. Mas quero é discutir com ele agora sua obra mais recente, O Amigo Americano: Nelson Rockefeller e o Brasil. Acaba de sair, e não consigo parar de lê-lo.

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Nelson Rockefeller se encanta com a cultura brasileira, segundo conta meu amigo no livro. Mas quer de todo jeito modernizá-la para evitar que seja desencaminhada pelo comunismo. Parece um pouco com alguns casamentos. Quando vou fazer uma pergunta sobre isso ao Professor, aparece no palco o dono do clube de jazz e pede que todo mundo pare de falar alto e desligue o celular. É hora de ouvir a música. O bom jazz se escuta como uma missa. Os músicos começama tocar Thelonius Monk.

matthew@abril.com.br

 

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