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Um pouco de gentileza

Por Ivan Angelo
Atualizado em 5 dez 2016, 11h39 - Publicado em 12 fev 2016, 23h00

Pessoas bem educadas pedem “por favor”. Assim aprendemos, assim muitos pais continuam a ensinar. A ideia prática por trás da polidez sempre foi esta: se você pede com bons modos, tem mais chance de conseguir o que quer. Funcionava.

Em algum momento, que não consigo localizar no tempo exato da minha vivência, mas calculo que tenha sido pela metade dos anos 1960, o desrespeito, e logo a grosseria, e daí a pouco a arrogância,e já, já a truculência, contrabandeados da caserna para a vida civil e aprendidos em culturas de fora, instalaram-se nos modos do morador civilizado das nossas cidades, aquele que dava lugar no bonde às senhoras e aos mais velhos, dizia bom dia aos que passavam, pedia licença, não economizava o “por favor”, deixava entrar primeiro as damas, abria a porta do carro para a namorada, e tantas gentilezas extintas ou em extinção.

Noto, circulando pela cidade, que há sinais de amabilidade por aí, uma cordialidade escrita. Pedidos e avisos delicados, dirigidos aos cidadãos passantes. Pode ser uma retomada, por que não?

Em uma padaria nas Perdizes: “Por favor, não deem esmola aos pedintes. A cada dia está ficando mais difícil, pois eles se juntam na porta e atrapalham todo mundo”.

Uma placa bem no centro do muro do estacionamento de uma farmácia na Pompeia: “Este estabelecimento cuida da sua saúde, portanto o aspecto de limpeza é muito importante. Por favor, não piche. Contamos com a sua colaboração”. O muro tem estado limpo de rabiscos nestes dois anos em que venho andando por lá a caminho da hidroginástica.

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Há quem junte humor e ironia ao pedido, sem perder a delicadeza. Em uma aréola na Pompeia (sabem o que é uma aréola? Eu também não sabia, excetuando o círculo destacado que enfeita os seios humanos. Pois aprendi que o pequeno ajardinado que circula o pé das árvores nas calçadas também se chama aréola. Quem terá posto nome tão delicado quanto apropriado ao jardinzinho?), então, eu dizia, em uma aréola na Pompeia, encontro fincada uma plaquinha com os dizeres: “Sr. Cão, favor não fazer suas necessidades neste local”.

Bem perto dali, em um ajardinado que contorna um poste, fincaram um repique com nova dose de humor: “Sr. Cão, favor não deixar seu dono fazer xixi aqui”.

No jardim em frente a um prédio nas Perdizes, mais um recado para os cães alfabetizados: “Senhor cão, cuidado, veneno para ratos”.

Quem mora perto de boteco, seja em bairro de classe média alta, seja na periferia, sabe que não é fácil a convivência. Reclamações resultam inúteis. Quando a iniciativa de serenar os alegrados fregueses parte dos donos, e num tom de apelo amável, o resultado é melhor. Está dando certo em um boteco de Belo Horizonte, no arrumado bairro de Lourdes, onde se lê, nas duas frentes: “Pedimos a colaboração dos frequentadores quanto ao ruído (palmas, cantoria etc.) para não termos problemas com a nossa vizinhança”.

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Em um posto de gasolina no Pari: “Senhor ladrão, favor passar outra hora. Seu colega já levou tudo”. Será que adianta?

Até quem tem mais de 100 anos e boa memória se lembrado aviso nas casas do pequeno comércio de bairro: “Fiado, só amanhã”. Achávamos graça nessa habilidade com as palavras. Surgem novos arranjos hábeis sem perda de lhaneza: “Vendemos fiado pelo dobro do preço”; “Não vendo fiado nas segundas-feiras; nos outros dias, só a dinheiro”.

Até nas estradas, lugar de bravatas e desafios, encontro pacíficos. Em um automóvel em Itaboraí, no Rio de Janeiro: “Calma… Eu sou 1000 e ando a gás”.

Finalmente, na Praça do Viagra, em Nova Friburgo, na serra fluminense: “Favor deixar os bancos da praça para quem de direito”.

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ivan@abril.com.br

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