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Cineasta, ex-cacique se prepara para dirigir documentário

Com uma pequena produtora em Bertioga, Papá Miri Poty fará documentário sobre a primeira edição de encontro indígena internacional

Por Bárbara Öberg
Atualizado em 5 dez 2016, 12h17 - Publicado em 11 jul 2015, 00h00

Era fim de 1993 quando o tempo fechou na Aldeia do Rio Silveira, localizada na região de Bertioga, no Litoral Norte. Os índios guaranis se reuniram em torno do cacique Papá Miri Poty, de 23 anos, que havia assumido o poder local aos 19. O propósito: destituir do posto o chefe, que estava pensando como “um homem branco” ao demonstrar suas ambições de cineasta. Mais de duas décadas depois, e ainda morando no endereço isolado (é difícil chegar lá sem atolar o carro), ele conseguiu, de fato, imprimir seu nome fora da mata.

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Ao longo desses anos, Carlos (como é conhecido longe dali) contracenou com Osmar Prado no curta Amores Passageiros, premiado no Los Angeles Shorts Fest, comandou o curta de ficção Manoá — A Lenda das Queixadas, publicou um livro infantil pela Editora Anhembi Morumbi e tornou-se figura festejada entre professores e alunos da Universidade de São Paulo (USP), onde participa de atividades diversas.

O interesse em enxergar além da mata surgiu quando ele ainda era jovem, ao ajudar a carregar o equipamento de um grupo que realizava um documentário sobre a aldeia. “Toda aquela tecnologia despertou minha curiosidade”, afirma Papá, hoje com 44 anos. Ele já era, na época, um rapaz antenado em artes. Havia viajado à França para expor quadros notados por um professor estrangeiro que visitara a comunidade e se impressionara com as pinturas de deuses e florestas.

Com uma filmadora que ganhou por meio de um projeto cultural, logo treinou as primeiras gravações. Não era fácil. Sem eletricidade, caminhava 3 quilômetros com a missão de carregar a bateria da máquina no boteco da estrada. Quando vinha à cidade grande, divertia-se com orelhões. “Comprava fichas e discava qualquer número, só para ouvir alguém falar do outro lado.”

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Em sua próxima empreitada, Poty documentará a primeira edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, que reunirá em outubro 2 000 atletas de vinte países, no Tocantins. Haverá modalidades como o xikunahati, tipo de futebol disputado com a cabeça. O projeto tem orçamento de 70 000 reais, que estão sendo arrecadados por meio de programas de incentivo. Na equipe, serão dez pessoas. “Poderei divulgar a sociedade indígena com o meu olhar”, orgulha-se.

Na vida construída entre dois mundos, o ex-cacique tem um filho paulistano morador do Brooklin, fruto do primeiro casamento, com uma atriz. Hoje vive com Cristine Takuá, uma jovem índia, no povoado composto de casas de pau a pique. Ali, tradições como dança, língua e artesanato são mantidas, mas as culturas de subsistência não são o bastante, como eram em outros tempos. Poty usa sua câmera HD e os computadores de edição para produzir vídeos de casamentos, aniversários e espetáculos, pelos quais cobra de 200 a 800 reais. Na caçada do sustento diário, ele chega a cobrir 200 eventos por ano.

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