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Incêndio no Instituto Butantan devasta coleção reunida desde 1908

O acervo era considerado o mais completo banco de dados de serpentes tropicais do mundo

Por Daniel Salles
Atualizado em 1 jun 2017, 18h45 - Publicado em 21 Maio 2010, 21h57

Entre serpentes, aranhas e escorpiões, 535 000 animais mortos foram destruídos pelo fogo que devastou um dos pavilhões do Instituto Butantan na manhã de sábado (15). O incêndio chama atenção para a falta de estrutura adequada para abrigar uma coleção dessa importância. Construído nos anos 60, o prédio de 1 000 metros quadrados não contava com nenhum sistema automático de detecção de fumaça. Para combater o fogo, havia apenas extintores manuais. As chamas foram notadas pelos seguranças por volta das 8 horas. Cerca de cinquenta homens e dezesseis viaturas foram destacados pelo Corpo de Bombeiros. O incêndio acabou debelado antes das 10, mas o estrago já estava feito. “Essa tragédia se equipara à destruição da biblioteca de Alexandria”, compara com certo exagero o biólogo Francisco Luís Franco, o curador da coleção, referindo-se ao grande tesouro cultural da Antiguidade aniquilado no Egito no ano 48 a.C. 

Danilo Verpa/Folha Imagem/Folhapress

Parte do acervo foi encontrada intacta: o mais completo banco de dados de serpentes tropicais

O acervo era considerado o mais completo banco de dados de serpentes tropicais do mundo. Começou a ser montado há mais de um século — o primeiro registro data de 1908. Foi formado, em grande medida, por moradores de regiões rurais do estado, que, temendo picadas, capturavam os bichos peçonhentos e os entregavam ao instituto. Os espécimes eram sacrificados e conservados em formol. Estima-se que 1 milhão de pessoas tenham colaborado tanto com esse processo quanto com a catalogação dos animais recebidos, vários deles já extintos. O prejuízo ainda está sendo calculado. Na segunda-feira (17), pesquisadores vasculharam o que sobrou do galpão e encontraram exemplares de aranhas e cobras em perfeito estado, como uma sucuri de 5,4 metros de comprimento incorporada à coleção em 2001. Outra boa notícia foi a descoberta de que os livros com as informações sobre os animais estavam intactos em outro edifício. Constatou-se, também, que as cópias digitais desse material não foram afetadas.

Não se sabe ao certo o estopim da tragédia. De acordo com uma das hipóteses investigadas pela 51ª Delegacia da Polícia Civil, responsável pelo caso, o incêndio teria sido provocado por um curto-circuito no gerador do prédio. Ao ser acionado pela manhã, o equipamento sobrecarregou a rede elétrica. A conclusão do inquérito está prometida para o fim de junho, e o Ministério Público se prontificou a acompanhar a investigação. O secretário estadual de Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, a quem o instituto é subordinado, esteve no local. “A instituição é uma referência mundial na produção de soros, vacinas e pesquisas biomédicas”, diz ele, que solicitou a imediata recuperação do prédio incendiado. Espera-se, no entanto, que sistemas de segurança mais rigorosos também estejam previstos.

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UM CELEIRO DE DESCOBERTAS

Nem só de animais peçonhentos vive a centenária instituição paulista

Mario Rodrigues

Sede do Instituto Butantan_2166
Sede do Instituto Butantan_2166 ()
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Sede do instituto: responsável por 93% das vacinas brasileiras

Famoso pela produção de soros antiofídicos e pelas cobras e aranhas que mantém em cativeiro, o Instituto Butantan é, acima de tudo, um centro de excelência em imunização. Vinculado à Secretaria Estadual de Saúde, é responsável por 93% das vacinas produzidas no país. Neste ano, o Ministério da Saúde adquiriu 113 milhões de doses para com bater o influenza H1N1 — 55% delas vieram da instituição paulista. A intimidade com doenças contagiosas data do início do século XX, quando a peste bubônica se alastrava pelo estado. Coube ao instituto, fundado em fevereiro de 1901, produzir o soro capaz de debelar a moléstia. Nas últimas décadas, o Butantan sofreu grandes transformações. Graças a parcerias com organismos internacionais, como o laboratório francês Sanofis Pasteur, seus pesquisadores adquiriram experiência para manejar vírus perigosos, como o da dengue e o H5N1, causador da gripe aviária.

 

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