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“Devia ter cuidado melhor dele”

Amigo que dividiu apartamento com Adilson Roberto Justino, o homem que morreu de frio na Paulista, relembra momentos vividos juntos

Por Sérgio Quintella
Atualizado em 27 dez 2016, 17h05 - Publicado em 20 jun 2016, 19h02

O jornalista Mário Mendes soube pela reportagem publicada por Vejinha, neste fim de semana, do falecimento de seu amigo de mais de trinta anos. Adilson Roberto Justino morreu de frio em plena avenida Paulista, na madrugada de sábado (11) para domingo (12). O homem foi uma das cinco vítimas do frio na capital paulista, cujos óbitos decorreram das baixas temperaturas somados a enfermidades pré-existentes. 

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Mendes, que conheceu Justino no início dos anos 80, se recorda dos momentos vividos juntos e lamenta ter perdido o contato com amigo. Leia o relato abaixo:

“Quando ninguém falava em computador, ele já mexia com tecnologia. Ele ia pegando peças aqui e ali para montar os equipamentos. Depois, produzia textos, escrevia as letras de suas músicas favoritas. Ele gostava muito de música, tinha muitos vinis. Gostava de pop, disco music, rythm and blues, música negra americana. Adorava Prince e Stevie Wonder. Um dos motivos que o levaram a trabalhar como vendedor na Casa Bevilacqua foi seu amor pela música. 

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Convivi com o Adilson entre 1982 e 1988. Depois a gente foi se vendo menos. A vida levou cada um para o seu lado. Nós dividimos, por três anos, um apartamento na Rua Manoel da Nóbrega, no Paraíso, perto da Avenida Paulista. Quem nos apresentou foi um amigo em comum, o José Roberto Carlini, comissário de vôo da Varig e também apaixonado por música pop e discos. Carlini, que morreu em 1994, reunia a turma na casa dele, em Santa Cecília. Era uma espécie de clubinho para nós, jovens na casa dos vinte e poucos anos. Aprendi muito de música com o Adilson, que era inteligente, bem humorado, porém solitário e reservado. Ninguém sabia muito o que se passava com ele. Só revelava seu humor original para os mais íntimos. Eu conheci esse Adilson. Ele imitava as pessoas, os artistas, cantava, fazia personagens e gravava em fitas K7 programas de rádio que ele mesmo inventava. Nós o chamávamos de “Boy Adi”, em alusão ao Boy George, de quem o Adilson era fã.

Nunca falou muito da família. O pai se casou de novo após separar da mãe e teve outros filhos. E ele dizia não se dar bem com o pai. É tudo o que eu sei. Falamos pela última vez em 2009, quando meu pai morreu, e depois não nos vimos mais. O Adilson estava morando em São Pedro da Aldeia, perto de Cabo Frio, no Rio de Janeiro. Disse que estava gostando de lá, não queria voltar para a cidade grande, mas se queixava da turma que ouvia funk muito alto na praia. Foi um grande amigo. Convivemos durante um bom tempo. Pena que a vida nos afastou. Devia ter cuidado melhor dele”.

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Morador de rua sofria de depressão

Havia apenas duas semanas que Adilson Justino, encontrado na Paulista, morava nas ruas. Ele foi encontrado por volta das 4 horas na madrugada gelada de domingo (12), na altura do número 500 da avenida. No Instituto Médico-Legal, ficou constatada a morte por infarto, provavelmente causada pelo frio. “O rapaz me disse que não tinha onde ficar”, relata a artesã Iracema de Paula, que vende produtos de crochê na calçada onde ele estendia o colchão.

Na véspera do último Natal, na casa de familiares, chamou atenção pela aparência franzina, com rosto pálido e dificuldade de locomoção. Há quinze dias, brigou com o tio e saiu de casa. “Achamos que ele tivesse voltado para o Rio. Ele morreu do jeito que sempre foi: solitário”, lamenta o primo Antonio de Araújo, que soube da tragédia pela TV. Ao enterro, no Cemitério da Vila Formosa, compareceram cinco pessoas. Não estavam os pais nem o irmão — apenas a irmã, três primos e uma ex-cunhada.

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