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Filhos vão pedir a exumação do corpo de Henry Maksoud

Macumba e morte - as pesadas acusações que esquentam a batalha entre os herdeiros pela disputa da fortuna do empresário

Por João Batista Jr.
Atualizado em 1 jun 2017, 17h22 - Publicado em 25 abr 2014, 19h04

Nos últimos tempos, a família Maksoud travava na Justiça uma briga para decidir quem cuidaria do patriarca do clã, Henry Maksoud, que estava com a saúde bastante debilitada. Depois da morte do empresário, na tarde do dia 17 de abril, aos 85 anos, em decorrência de um câncer no pulmão, a disputa virou uma guerra aberta. De um lado, estão os filhos, Roberto e Cláudio, que Henry teve com a primeira mulher, a filipina Ilde, de 82 anos. De outro, encontram-se a viúva, Georgina, 60 — a ex-manicure começou a relação com o empresário nos anos 80, quando fazia as unhas dele e de Ilde —, e Henry Neto, 40, filho de Roberto (pai e filho hoje não se falam). Cláudio e Roberto afirmam que a viúva e o neto negligenciaram o tratamento médico de Henry. Também a acusam de ter se aproveitado da situação usando o dinheiro dele em proveito próprio, comprando imóveis. Georgina e Henry Neto, por sua vez, dizem que os outros herdeiros não davam a mínima para o empresário e agora posam de bons filhos pensando apenas na herança.

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Filho de imigrantes libaneses, Henry Maksoud nasceu na cidade de Aquidauana, em Mato Grosso do Sul, e veio a São Paulo na adolescência para estudar. Formou-se em engenharia civil pelo Mackenzie e fez fortuna com a empresa Hidroservice Engenharia, especializada em plantas para grandes obras, como o Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, e a Usina Hidrelétrica de Itaipu, no Paraná. Aos poucos, ele começou a diversificar sua área de atuação. Em1974, comprou do publicitário Said Farhat a revista semanal Visão (o título deixaria de circular no início dos anos 90).

Henry no hospital
Henry no hospital ()
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A sua obra mais vistosa, no entanto, foi o Hotel Maksoud Plaza. Inaugurado em 1979, na região da Avenida Paulista, o lugar se tornou o hotel mais chique do Brasil. O serviço impecável era garantido por uma brigada de 790 funcionários. Seu night club, chamado 150, recebia temporadas de estrelas do jazz e da música popular, como Bobby Short e Tom Jobim. Frank Sinatra e Julio Iglesias fizeram shows em seu salão de eventos, com a presença de artistas, políticos e socialites. O apogeu do hotel foi capitaneado por Roberto Maksoud, perfeccionista ao extremo. Ele, no entanto, rompeu com o pai no fim dos anos 90, porque Henry o achava perdulário demais, além de ser contra uma reforma de grandes proporções que fecharia o hotel por dois anos, proposta pelo filho. Funcionários antigos presenciaram brigas de socos e pontapés entre os dois. A partir daí, o estabelecimento nunca mais foi o mesmo. Tanto pelo surgimento de concorrentes mais modernos quanto pela má gestão. Hoje, o hotel acumula dívidas de 300 milhões de reais.

O patrimônio deixado por Henry é maior: cerca de 500 milhões de reais. Além do prédio do hotel paulistano, que tem 22 andares e 416 apartamentos (a diária mais barata custa 500 reais), a lista inclui outro hotel (em Manaus), um terreno com o esqueleto de um hotel em Bauru, no interior do estado, e inúmeros apartamentos (em Nova York, no Rio de Janeiro e em São Paulo). Também há obras de arte, com exemplares de Candido Portinari, Di Cavalcanti e Victor Brecheret.

Os filhos dizem que Georgina fazia tempo já tentava manobras para garantir uma boa parte desse quinhão. Segundo Cláudio, em 2012 ela teria chegado até ele com uma proposta: fazer um testamento em que o pai deixaria uma metade do patrimônio para ele e a outra para ela. “Recusei porque não excluiria meu irmão disso”, conta. Ainda segundo a versão de Cláudio, diante da negativa, Georgina, que vivia com Henry no hotel, mudou-se de lá para uma mansão na Chácara Flora e passou a dificultar o contato dos filhos com o pai. Nessa época, o empresário já sofria com lapsos de memória. “Papai tinha Alzheimer”, diz Cláudio.

Tabela
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À medida que a saúde do empresário piorava, as desavenças entre a família aumentavam e novas alianças se formaram. Henry Neto, que trabalha como gerente do hotel e não se dava com Georgina, passou a ser um dos seus principais aliados de um ano para cá. “Teve uma ocasião em que a Georgina chamou a polícia no Maksoud dizendo que meu sobrinho havia roubado sua bolsa para fazer uma macumba contra ela”, lembra Cláudio. A aproximação entre Henry Neto e Georgina teria rendido dividendos aos dois. Cláudio acusa a dupla de ter usado o dinheiro do empresário para comprar três casas e quatro apartamentos e os ter colocado em nome de parentes de Georgina. “No segundo semestre de 2013, com meu pai já debilitado, ela foi com ele para Nova York e movimentou as contas de lá”, diz Cláudio.

O clima esquentou mais a partir de dezembro, quando Henry Maksoud foi internado no Hospital Albert Einstein sem que eles fossem avisados. “Ela várias vezes me impediu de visitá-lo”, lembra Roberto. Em fevereiro, os dois filhos entraram com uma ação de interdição contra Georgina. Temiam que o pai estivesse sendo agredido e dopado quando estava em esquema de home care com ela dentro da mansão da Chácara Flora. Em abril, duas empregadas da casa confirmaram em depoimentos oficiais que as suspeitas dos filhos estavam corretas. Uma delas afirmou que Georgina teria jogado água gelada em Henry e lhe dado sedativos para dormir um dia antes de ele ser internado no hospital com broncopneumonia e hipotermia. Segundo os dois filhos, aconteciam outras coisas esquisitas por lá, como o sacrifício de animais em rituais de magia negra promovidos por Georgina. “Não vou comentar esse absurdo”, diz Márcio Casado, advogado de Henry Neto e Georgina.

Em represália ao pedido de interdição de Georgina, Cláudio conta ter recebido em março uma notificação para deixar o hotel (ele mora no Maksoud com sua mulher há vinte anos). “O meu sobrinho Henry Neto falsificou a assinatura do meu pai”, relata. “Entrei na Justiça e consegui a autorização de permanecer por lá”, conta ele, que contratou dois seguranças para ficarem de prontidão na porta de seu apartamento. Cláudio também acusa Neto de ter grampeado seu telefone e colocado uma escuta clandestina em seu quarto. “São acusações criminosas e falsas”, rebate o advogado Casado.

Tempos áureos
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Nesta semana, os filhos prometem entrar com um pedido de exumação do corpo de Henry Maksoud para saber se a causa da morte foi mesmo natural. “Meu marido morreu em razão de complicações de um câncer”, defende-se Georgina, que só aceitou dar entrevista por e-mail. Cláudio também decidiu entrar com uma ação para afastar Henry Maksoud Neto da gestão do hotel e outra para que ele preste contas dos gastos do estabelecimento nos últimos dois anos. E a guerra está apenas começando.

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