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Heliópolis recebe projeto de música clássica

Instituto Baccarelli realiza encontros didádicos entre comunidade e artistas internacionais

Por Sandra Soares
Atualizado em 5 dez 2016, 19h21 - Publicado em 18 set 2009, 20h36

Aluna do Instituto Baccarelli, entidade sem fins lucrativos dedicada ao ensino da música para jovens carentes, a menina Larissa Leal, de 10 anos, saiu de uma aula de coral para beber água e nunca mais voltou. “Do lado de fora da sala, ouvi um som lindo e fui atrás para descobrir de onde vinha”, conta ela. “Vi então um professor tocando oboé e me apaixonei pela música.” Maravilhada, Larissa ficou ao lado do instrumentista, o venezuelano Julián Ramos, até que ele parasse de tocar. Dali, foi pedir ao diretor do Baccarelli que a matriculasse no curso de oboé, que freqüenta há quatro meses. Hoje, seu sonho, como o de muitos dos outros 900 jovens de 6 a 25 anos inscritos no projeto, é seguir carreira artística e “se apresentar com o pessoal de outros países”. Tem sido assim desde que os estudantes começaram a participar de encontros didáticos com artistas estrangeiros organizados pelo Mozarteum, sociedade de concertos que há 25 anos promove espetáculos eruditos em São Paulo. As master classes são ministradas desde maio na favela de Heliópolis, a maior da cidade, onde está localizado o Instituto Baccarelli. “Antes de transferirmos os eventos para cá, eles eram realizados nas Perdizes”, explica a presidente do Mozarteum, Sabine Lovatelli.

Até agora, 32 encontros foram promovidos na favela. Em junho, Heliópolis recebeu ainda a visita de uma missão de quinze professores ligados ao programa El Sistema, criado na Venezuela em 1975, que tem entre seus colaboradores o italiano Claudio Abbado, um dos mais renomados maestros do mundo. Financiado em parte pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o projeto recruta jovens nas zonas pobres daquele país para o aprendizado da música. A Venezuela possui hoje 212 grupos sinfônicos infanto-juvenis e tem exportado para os grandes centros de produção erudita talentos descobertos nas comunidades carentes – são exemplos o maestro Gustavo Dudamel, 25 anos, regente convidado de grupos como o do Scala de Milão, e o contrabaixista Edicson Ruiz, 21, hoje na Filarmônica de Berlim. Por tudo isso, os coordenadores do projeto Baccarelli querem aprender com a bem-sucedida experiência dos venezuelanos, que treinam os próprios alunos para atuar como multiplicadores de conhecimento. Até o fim do ano, uma equipe brasileira fará um estágio de dez dias em Caracas. “Eles trabalham muito bem com crianças e vão nos ensinar seu método de inicialização musical”, afirma o maestro e vice-presidente do Instituto Baccarelli, Edilson Ventureli.

Apesar de mais jovem que seu similar venezuelano (foi fundado há dez anos), o programa Baccarelli também já revelou virtuoses. No fim de agosto, o contrabaixista Adriano Costa Chaves, de 18 anos, mudou-se para Tel Aviv. Descoberto pelo maestro Zubin Mehta durante uma visita à escola da favela, ele agora integra a Filarmônica de Israel. Até o ano passado, o Instituto Baccarelli ocupava um sobrado na Vila Mariana e atendia 220 crianças. Com a transferência da escola para um prédio de 1 200 metros quadrados em Heliópolis, uma antiga fábrica de sucos, os alunos passaram a ter aulas perto de casa e a turma cresceu. Mesmo músicos que vivem fora da favela passaram a freqüentá-la, como o percussionista César Masano, de 21 anos, morador de Pinheiros e integrante da Sinfônica Heliópolis. “Quis participar por causa da qualidade do maestro, Roberto Tibiriçá, e do corpo docente”, diz ele. No início do mês que vem, Masano vai à Venezuela para representar o Brasil em um festival dedicado à música de Villa-Lobos. Apenas ele e o violoncelista Emerson Oliveira, de 18 anos, foram escolhidos. Aluno do instituto desde 2000 e morador de Heliópolis, Oliveira não conhecia música clássica antes de entrar ali. “Essa oportunidade mudou minha vida.”

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