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Os últimos da espécie: guarda-chuveiro

Aldo Grecco representa a quinta geração da família que se dedicou a fazer guarda-chuvas

Por Felipe Zylbersztajn
Atualizado em 5 dez 2016, 16h39 - Publicado em 8 nov 2012, 20h37

“Boa chuva para a senhora!” Assim Aldo Grecco se despede da cliente, com um sorriso no rosto. No momento em que a freguesa deixa a loja, ele alcança o exemplar que acaba de ser deixado ali. É um guarda-chuva de mais de oitenta anos, com um relógio incrustado na ponta do cabo de madeira. O tecido da cobertura está desbotado e deverá ser trocado. “Não se faz mais um trabalho assim”, diz ele para si mesmo, enquanto empunha o comprido modelo por trás do balcão. “Isso aqui era usado com elegância, com charme. Hoje, o pessoal quer um negócio simples para colocar na bolsa.” O profissional tem 75 anos e é representante da quinta geração de uma família de guarda-chuveiros italianos. Seu pai veio para o Brasil seguir a tradição no bairro do Bixiga, onde montou uma fábrica. Aos 15 anos, Aldo começou a criar seus próprios modelos artesanais. “Naqueles tempos, uma mulher tinha cinco ou seis peças diferentes, todas coloridas, para usar conforme seu vestuário, entende?” Em 1972, ele fechou a empresa do pai para montar seu negócio no Itaim Bibi. Segue até hoje no mesmo endereço, mas sem a procura de outros tempos. “A indústria nacional acabou por causa desses modelos importados de R$ 5,00”, reclama. Aldo faz careta só de ouvir a palavra China.

Suas criações podem custar R$ 300,00. Uma cobertagem (a troca do tecido) sai por R$ 100,00. “Minha clientela é a alta sociedade, que conhece nosso produto há tempos. Mas não é o suficiente para manter o negócio”, diz. Grecco conta que precisou diversificar a produção para não fechar as portas na última década. Hoje, ele produz guarda-sóis, ombrelones, cadeiras de praia e babadores descartáveis. Rosa, sua mulher, maneja a máquina de costura no fundo da loja. “Sabe, aqui na cidade chovia quarenta dias sem parar. Tinha aquela música que falava da ‘São Paulo da garoa’. Na época, eu fazia até guarda-chuva para cachorro de madame!”, conta ele, com os olhos fixos no painel que toma uma das paredes da loja. A imagem traz uma praia ensolarada, dessas de reclame de picolé. O desenho exemplifica a grande ironia do seu negócio atualmente. “O produto de praia é o que ajuda a gente a permanecer fazendo guarda-chuva hoje.”

Grecco guarda-chuvas. Rua Tabapuã, 756, Itaim Bibi. Tel.: 3078-8671

+ Os últimos da espécie: profissionais que se dedicam a funções praticamente extintas

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