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Garotas Suecas se redescobrem em novo disco; leia entrevista

Banda paulistana leva show do segundo álbum, <em>Feras Míticas</em>, ao palco do Da Leoni, antigo Studio SP, nesta sexta (11)

Por Mayra Maldjian
Atualizado em 5 dez 2016, 15h35 - Publicado em 11 out 2013, 16h40

A banda paulistana Garotas Suecas volta a mostrar ao vivo as composições e sonoridades de seu segundo álbum, Feras Míticas, na cidade. Depois do Auditório Ibirapuera, é a vez da casa Da Leoni (antigo Studio SP) receber, nesta sexta (11), o quinteto formado por Guilherme Sal (voz), Irina Bertolucci (teclado e voz), Tomaz Paoliello (guitarra e voz), Fernando Freire (baixo) e Nico Paoliello (bateria e voz).

Com trajetória e musicalidade coesas, o grupo formado em 2005 deslanchou com o lançamento de Escaldante Banda (2010). O elogiado disco, um bem-bolado tropical e dançante de rock e ritmos negros, como soul e funk, rendeu à banda, inclusive, uma turnê pelos EUA e pela Europa. O mesmo deve ocorrer com o sucessor Feras Míticas (2013) no ano que vem. Produzido pelo britânico Nick Graham-Smith e traz participações da velha e da nova geração, como o músico Paulo Miklos (Charles Chacal), o americano Kid Congo Powers (L.A. Disco) e a rapper Lurdez da Luz  (A Nuvem), que participará do show nesta noite. 

Mais contemplativo e sossegado, o novo registro fonográfico espelha o amadurecimento de cada integrante, um mergulho mais demorado em suas próprias questões sociais e referências musicais. “A ideia do disco é fazer as coisas do seu jeito não importando onde se esteja. É fazer o impossível dentro dos limites do possível, achar um mundo novo dentro de sua própria vida. Redescobrir”, explica o guitarrista Paoliello. Leia entrevista completa abaixo:

   

VEJASAOPAULO.COM – Quem são as feras míticas? O título e a arte surgiram em que momento da criação do disco?

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Tomaz Paoliello – A ideia da arte surgiu durante as gravações, e o tema principal que a inspirou foi o New Country. Com essa ideia de “descobrimento” na cabeça, pensamos em usar algo relacionado à viagem na capa. Um mapa seria perfeito. Todos nós sempre gostamos e acompanhamos o trabalho do Deco Farkas, e associamos as feras que ele já deixava pela cidade com aqueles mapas da época das navegações, que povoavam o desconhecido com monstros. Falamos com ele e pensamos em desenvolver um mapa desse tipo e fazer do encarte uma espécie de caderno de viagem, como o feito pelo navio inglês Endeavour. A arte ficou muito bonita exatamente porque projeta o desconhecido na cidade, as quimeras espalhadas pelos espaços onde vivemos nossas próprias vidas.

O título só apareceu depois de já termos a arte pronta. Além de ser um nome que descreve muito bem essa ideia que quisemos construir, ele representa outra coisa. Quem começou a falar em feras míticas foi nosso percussionista, Matheus Prado. Logo todos nós começamos a nos tratar por fera: “E aí, fera mítica?”. É uma forma de falar que representa esse grupo de amigos que é o Garotas Suecas, que embarcaram juntos nessa viagem.

https://player.soundcloud.com/player.swf?url=http%3A%2F%2Fapi.soundcloud.com%2Ftracks%2F96627805

É possível notar algumas diferenças em relação ao Escaldante Banda: bateria eletrônica, certo respiro nos arranjos, outras influências sonoras reveladas. O que vocês quiseram fazer de diferente de lá para cá? Tivemos uma vontade explícita de criar mais camadas e arranjos mais detalhados, que criassem uma experiência mais interessante para quem quer escutar o disco mais de uma vez. Conversamos muito sobre isso antes de gravar. Uma das formas que descobrimos para resolver isso foi deixar transparecer mais coisas que escutamos e curtimos –Shuggie Otis, Curtis Mayfield, Hyldon, Milton Nascimento, The Band, The Clash e B.A.D. Também estamos mais seguros no sentido de não precisar nos filiar a uma forma fechada de criar. Acho que esse disco revela muito mais uma banda com um som próprio.

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Como vocês descobriram a Charles Chacal, música inédita do Titãs? E por que resolveram gravá-la e inclui-la no “Feras…”? Assistimos a uma reprise do programa Fábrica do Som em que os Titãs faziam essa música. Achamos genial e não entendemos como ela nunca havia sido gravada. Depois ficamos sabendo pelo Sergio Britto que ela foi censurada na época e que a música nunca entrou nos outros discos. Começamos a tocar ela no ensaio, mas a princípio não a gravamos nas primeiras demos. Quando escutamos as músicas que tínhamos e conversamos com o Nick, produtor do disco, percebemos que faltava um rock mais forte, também uma letra mais agressiva. Apresentamos para ele a versão de Charles Chacal que criamos nos ensaios e ele pirou. Foi direto para o disco. Acho que a música casa muito bem com vários dos temas que são os eixos do disco. Apesar de falarmos muito sobre a vida contemporânea, principalmente sobre a cidade grande, sobre a sensação de descolamento e deslocamento, essa é a única canção do disco que aborda especificamente a violência. 

As letras estão mais contemplativas, reflexivas. Como vocês enxergam esse momento que a banda está vivendo? As letras são muito fruto das experiências pessoais. Reflexo das nossas vidas e nossas relações pessoais com a cidade, como músicos. Isso aparece muito nas letras, que podem avançar muito mais em subjetividade e visões particulares, exatamente por serem coerentes com um estado de espírito. Essas músicas foram compostas muito pouco em conjunto. Isso não significa que o trabalho não seja coletivo, porque sempre conversamos sobre o processo de composição e nos inspiramos e somos influenciados pelas músicas compostas pelos outros. Também escolhemos as músicas juntos. Embora as letras sejam subjetivas, o álbum, a coleção de canções, têm também um sentido. O disco tem várias linhas condutoras, como amadurecimento, a relação com a cidade grande, o trabalho como artista, as turnês. Mas no geral tem um sentido de estar descolado, à deriva, mas que é contraposto à ideia de que não se está sozinho nessa, que tudo bem se for do jeito que se quer e junto com seus companheiros.

Se vocês pudessem juntar elementos de diversas cidades por onde vocês já passaram para criar esse tal New Country, como ele seria? A ideia do disco é muito fazer as coisas do seu jeito não importando onde se esteja. É fazer o impossível dentro dos limites do possível, achar um mundo novo dentro de sua própria vida. Redescobrir. Estivemos nos EUA pouco antes do movimento Occupy se mobilizar, tocamos em shows organizados por centros acadêmicos por todo o país. Fomos para a Espanha na época das ocupações, estivemos na Puerta del Sol com o pessoal. E viajamos pelo Brasil tocando em universidades e para universitários. Estivemos nas ruas em junho. Numa época em que se valoriza tanto o aspecto cultural, o relativismo, a diferença, é impressionante perceber como circulamos por locais muito parecidos e conhecemos pessoas também muito parecidas. Talvez São Paulo, Rio, Madri, Nova York, Istambul, Cairo já sejam mais o “mesmo lugar” do que muitos imaginam.

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