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Uma volta com Toninho, o síndico da Galeria do Rock

Durante um passeio pelo prédio, Antonio de Souza Neto aponta novas tendências e afirma que o rock ainda está em primeiro plano

Por Mayra Maldjian
Atualizado em 6 abr 2023, 15h22 - Publicado em 23 fev 2013, 17h09

Antonio de Souza Neto, 59, o Toninho, anda apressado pelos corredores do número 439 da avenida São João, no centro de São Paulo, enquanto cumprimenta os conhecidos, mostra lojas recém-chegadas e as tendências culturais de um dos maiores pontos turísticos da cidade, que celebra 50 anos no dia 31 de outubro.

Inaugurado em 1963, o prédio de sete andares recebeu o nome de Shopping Center Grandes Galerias, título substituído pelo apelido Galeria do Rock nas décadas seguintes, quando lojas de discos dominaram o local. Mas, segundo Toninho, a antiga administração não gostava nada dessa alcunha e o espaço, degradado, precisava de uma revitalização. Então, há 20 anos, largou sua loja de fotografia para assumir essa tarefa. “A Galeria estava abandonada, quase fechando. Nós acreditamos na história do rock’n’roll e entramos para evitar isso”, conta enquanto sobe a escada rolante, por onde passam 25 mil pessoas em dias de semana e 36 mil aos sábados e domingos.

Ao chegar no mezanino, muda de assunto. “Tem muita gente que fala que as lojas de CDs morreram, mas olha aquela ali, abriu há pouquíssimo tempo.” Especializada em hardrock e heavy metal, a Volumen Brutal foi inaugurada por Marco Antonio dos Santos, 44, mais conhecido como Joe, e Ricardo Iglesias, 46, em 15 de setembro do ano passado.

“Nós dois frequentamos a Galeria desde 1986”, conta Joe, que decidiu abrir com o amigo seu próprio negócio depois de quase treze anos vendendo discos em outro espaço no mesmo endereço. “Eu estou vendo que a maioria das lojas de CD daqui anda fechando. E pela minha experiência, eu sei que dá para manter uma porque o público de rock é fiel a vida toda.”

De acordo com Toninho, atualmente há 80 lojas dedicadas à música no espaço, 50% a menos do que na segunda metade da década de 1990, quando havia 160 pontos com esse perfil. Com essa queda, diretamente ligada à relação entre os jovens e a internet nos anos 2000, expandiram-se, então, os setores de roupas, acessórios e tatuagens. São, no total, 450 lojas, sendo que oito estão em reforma.

“O pessoal mais novo vai mais pelo visual do que pela parte da coleção, de ter um vinil, um CD, um DVD. A ideia deles é baixar as músicas pela internet e gastar o dinheiro que têm com roupas”, avalia Iglesias, que abandonou a vida de funcionário de banco após 25 anos para se dedicar integralmente ao rock.

“Aqui chegou a ter 84 lojas de discos, hoje são 39”, soma Luiz Calanca, proprietário da também aniversariante Baratos Afins, misto de selo e loja que completa 35 anos em maio. “É uma coisa natural elas terem fechado. Eu acho que o problema é que só há uma fábrica produzindo discos, o que limita o catálogo, os discos estão muito caros, não tem toca-discos baratos no mercado para as pessoas comprarem vinil, a internet acabou matando o glamour do CD. É difícil reverter a coisa assim, sem o apoio do governo, sem a indústria contribuir. Mas aqui ainda é um grande aglomerado, ainda somos importantes”, analisa Calanca, que lançou 176 álbuns por seu selo.

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A Beatz, especializada em rap nacional, estilo em alta no Brasil, abriu uma segunda loja no subsolo (espaço dedicado ao movimento) há cerca de um ano e meio. “O público do hip-hop é também muito fiel, assim como os metaleiros”, comenta o DJ Vito, 28, que comanda a loja. Segundo ele, os CDs que mais saem são de Criolo, Emicida, Kamau, Ogi, Shaw, Terceira Safra e Rael. “Alguns clientes chegam aqui em busca de novidade, porque já confiam no nosso conhecimento.”

“O skate cresceu muito por aqui”, comenta seu Toninho ao avistar a OXI Skateboard, que abriu uma segunda loja focada somente no longboard. “Por ser maior, é o skate mais fácil de se andar”, explica o proprietário do ponto, Alexandre Hotoshi, 42. “O skate no Brasil estourou na década de 1980 e os praticantes da época estão na faixa etária de 40 a 50 anos, então hoje para andar com o filho de cinco anos facilita”, afirma.

Felipe Rossi, 26, sócio da Pyro’s Skateshop, uma das primeiras a chegar à galeria também aposta nesse tipo de produto. Mas, segundo ele, a concorrência ficou maior, porque muitas lojas de moda street passaram a vender peças de skate também. A clientela fiel, porém, garante o pão de cada dia.

Galeria do Rock

A mudança no perfil da nova geração frequentadora da galeria e a pluralidade dos negócios parecem não incomodar o síndico. Ele garante que lá ainda se respira vanguarda e que o rock sempre foi e sempre será a diretriz do local. O hip-hop, segundo ele, é também bem-vindo, “mas só no subsolo, para não desvirtuar. Essa divisão é natural”.

Um de seus grandes sonhos, por exemplo, é inaugurar o Museu do Rock, um projeto finalizado em 2009 que ainda não saiu do papel por falta de patrocínio. “Já foi no Madame Tussauds, em Londres? É mais ou menos aquilo”, conta, apontando  para bonecos de Elvis Presley e de Raul Seixas guardados em uma sala escondida no penúltimo andar, onde há também fotografias emolduradas de shows que ocorreram na Galeria do Rock ao longo de seus 50 anos.

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Fã de Led Zeppelin e Rage Against the Machine, Toninho está bastante empolgado com a parceria do festival Lollapalooza, que vai promover, uma vez por mês, shows gratuitos de rock independente para celebrar o cinquentenário da galeria. Os primeiros ocorreram no dia do aniversário da cidade de São Paulo, 25 de janeiro, com apresentações das bandas Tokyo Savannah, República, RevoltzSP e name the band. Ainda este ano, o Google deve lançar um Street View para que o público possa explorar a Galeria do Rock com imagens em 360 graus.

Jornalista de formação, o síndico conta com a ajuda de seus dois filhos, Glauber, 29, e Marcone, 25, para cuidar dos eventos culturais e da divulgação da Galeria do Rock, principalmente no site e nas redes sociais, “que estão bombando”, gaba-se. “São mais de cinquenta milhões de views por mês.”

O síndico também promove uma reunião quinzenal com o conselho da galeria, formado por seis lojistas eleitos a cada dois anos. “Para discutir questões da galeria, quais caminhos seguir, é um trabalho coletivo”, explica.

A administração de Toninho, que tem fama de durão pelos corredores, divide opiniões. Em agosto do ano passado, a Die Hard, uma das lojas de disco de rock mais tradicionais do endereço, publicou um manifesto em seu blog reclamando das “iniciativas culturais” promovidas pela equipe, que “têm deteriorado e corroído uma imagem criada com muito trabalho”, apoiada por muitos colegas lojistas. “Isto nada tem a ver com a limpeza, segurança e outros assuntos que até que estão se saindo muito bem”, pontua.

Mas o síndico parece não se importar com as críticas. Com orgulho, a todo momento exalta a importância história e cultural da galeria, que o levou, inclusive, a palestrar em seminários internacionais. O primeiro deles em Portugal, em 2010, e outro em Paris, em março de 2012. “É um trabalho muito importante que tem sido feito há vinte anos, fomos inspiração para uma novela [“Tempos Modernos”, da Globo], faculdades de todo o Brasil querem estudar a galeria, somos referência para o mundo todo.”

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