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Feiras livres terão de encerrar atividades uma hora mais cedo

Depois de proibir a gritaria dos vendedores e os banquinhos nas barracas de pastel, a prefeitura investe contra os feirantes mais uma vez

Por Maria Paola de Salvo
Atualizado em 5 dez 2016, 18h58 - Publicado em 4 fev 2010, 16h48

Um novo grito já pode ser ouvido em algumas das 903 feiras livres espalhadas pela cidade. Ao tradicional “pode provar que está docinho, freguesa”, vendedores acrescentaram um “vamos logo que o Kassab mandou fechar antes”. Desde o último dia 22, as barracas têm de encerrar as atividades uma hora mais cedo, devido a um decreto municipal. Agora, os comerciantes serão obrigados a desmontar as bancas, carregar os caminhões e ensacar o lixo entre 12h30 e 14 horas — antes, o intervalo ia das 13h30 às 15 horas. Segundo a prefeitura, a mudança tem dois objetivos. O primeiro é agilizar a coleta de resíduos para evitar que os sacos fiquem à mercê das enxurradas e agravem o já complicado problema das enchentes. O outro seria liberar as ruas mais rapidamente, evitando congestionamentos. “Detecta mos que algumas feiras bloquea vam o trânsito até as 16 horas”, afirma o secretário de Serviços, Alexandre de Moraes. “É injusto que sejamos punidos pelos alagamentos”, afirma o presidente do sindicato dos feirantes, José Torres Gonçalves. “Pedimos ao prefeito a revisão da lei.”

Na última semana, a reportagem visitou duas feiras, uma na Praça Benedito Calixto, em Pinheiros, e outra na Rua Tavares Bastos, na Pompeia. Nenhuma das duas conseguiu cumprir as determinações. “Os fregueses não estão acostumados a esses novos horários”, afirma o feirante Ailton Bento de Souza. “Nosso pico de movimento é justamente das 12 horas às 13h30, quando as mercadorias ficam mais baratas.” A famosa hora da xepa. Na Praça Benedito Calixto, pelo menos três frequentadores desconheciam as novas regras. Foi o caso da funcionária pública Eunice Costa. “Vou ter de comprar tudo em meia hora”, queixou- se. Entre os pasteleiros, o descontentamento é geral. Dos 500 pastéis vendidos diariamente na barraca da comerciante Hiroko Nakamura, 300 saem entre 12 horas e 13h30, exatamente quando ela deveria estar fechando o caixa. “O jeito é almoçar mais cedo”, conforma- se a vendedora Jéssica Raz, que costuma comer ali nesse horário.

Não é a primeira vez que a prefeitura investe contra os feirantes. Em abril de 2007, uma lei proibiu que os cerca de 11 000 vendedores apregoassem em alto e bom som ou com aparelhos sonoros as qualidades e os preços de seus produtos. Um ano depois, a fiscalização fechou o cerco contra as barracas — sobretudo as de pastel — que espalhavam banquinhos pela calçada, atrapalhando a circulação de pedestres. Agora, quem descumprir os horários de encerramento poderá arcar com multa de 6,75 reais. Se o lixo estiver espalhado, pagará mais 250 reais. A responsabilidade de ficar de olho em tudo isso caberá, mais uma vez, aos 700 fiscais municipais, que devem ganhar ajuda de trinta outros agentes da supervisão municipal de abastecimento.

 

Fernando Moraes

A vendedora Jéssica Raz, freguesa assídua da banca de pastéis: “Agora terei de almoçar mais cedo”

Para boa parte dos feirantes, a lei vai derrubar ainda mais o movimento, que vem murchando como um maracujá de gaveta nos últimos dez anos. “Nosso faturamento caiu cerca de 40%”, estima Luciana Brandão de Souza, cuja família tem barraca de verduras desde a década de 60. No centro expandido, o número de feiras mantém-se inalterado desde 2002. “Já a quantidade de barracas tem diminuído gradativamente”, afirma o supervisor-geral de abastecimento da prefeitura José Roberto Graziano. “Hoje, a maior parte dos supermercados tem quitanda e as pessoas fazem mais refeições fora de casa.” Ainda assim, em bairros como a Mooca, as feiras respondem por 91% das ofertas de verduras, frutas e legumes. Na periferia, a demanda por esses mercados a céu aberto segue na contramão: só aumenta. “Lá, criaremos quatro só neste primeiro semestre”, diz Graziano. Em bairros concorridos, como Pinheiros e Moema, já não há espaço para novas bancas. A prefeitura deixou de expedir a chamada matrícula, espécie de licença de funcionamento. No mercado, essa autorização pode custar até 15 000 reais, no caso de uma barraca de legumes de 8 metros de comprimento. As de pastel, que chegam a faturar 2 000 reais por dia, dificilmente ficam à venda. São herdadas como joias de família.

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É PARA VOCÊ, FREGUESA!

Os números do segmento das feiras livres paulistanas

■ 20% das 903 feiras livres da cidade funcionam aos domingos

■ 8 000 paulistanos, em média, circulam diariamente por elas

■ 40% das feiras ficam na Zona Leste — a Penha é o bairro com a maior concentração delas

■ 150 ruas são ocupadas diariamente por esses mercados ao ar livre, exceto nas segundas-feiras

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■ As 43 858 barracas somam 233 000 metros lineares, o equivalente ao comprimento de oitenta avenidas Paulista

■ Com 163 bancas, a feira da Avenida Miguel Stéfano, no Jabaquara, é a maior de São Paulo

■ 15 000 reais é o preço de uma licença para uma banca de 8 metros de comprimento por 2 de largura em bairros do centro expandido

■ 2 000 reais por dia é quanto fatura, em média, uma barraca de pastel

 

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