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Estudo aponta falhas nos três grandes estádios de São Paulo

Levantamento do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco) percorreu 28 estádios brasileiros; situação é ruim

Por Edison Veiga
Atualizado em 5 dez 2016, 19h25 - Publicado em 18 set 2009, 20h32

Não é fácil a vida de torcedor – e nem estamos falando só dos corintianos, que sofrem com a possibilidade de seu time ser rebaixado. Para ver as partidas de pertinho é preciso enfrentar congestionamentos nos arredores dos estádios, aturar o assédio dos flanelinhas e, muitas vezes, ter de parar o carro em estacionamentos distantes. A aventura não pára por aí. Há ainda os cambistas insistentes e toda a bagunça das filas na entrada. Dentro dos estádios, o público acomoda-se em assentos precários, debaixo de chuva ou de um solzão de rachar, encontra poucos (e sujos) banheiros e sua a camisa em meio ao empurra-empurra das arquibancadas. “No geral, nossa estrutura está bem ruim pelos padrões internacionais da Fifa”, diz o arquiteto Vicente de Castro Mello, especializado em obras esportivas.

Nos últimos três meses, ele e o pai, o também arquiteto Eduardo de Castro Mello, integraram uma comissão do Sindicato da Arquitetura e da Engenharia (Sinaenco) que percorreu 28 estádios brasileiros. Muitas vezes, a visita foi feita de surpresa. A equipe passou cerca de três horas em cada um deles e documentou tudo o que encontrou. Esse material transformou-se em uma análise comparativa da situação dos palcos do futebol nacional. O estudo é importante porque, com a confirmação do Brasil como sede da Copa de 2014, alguns desses espaços devem ser reformados para que, até lá, estejam tinindo para abrigar jogos do campeonato. Em São Paulo, os arquitetos visitaram o Morumbi, o Pacaembu e o Palestra Itália – os três mais importantes estádios da capital. “Há pontos negativos que unem todos eles, como a falta de estacionamentos, os assentos descobertos e as condições precárias dos banheiros”, conta Vicente. A notícia boa é que, para o bem do futebol, tudo o.k. com o campo. “O gramado e as dimensões estão dentro do aceitável”, diz Eduardo.

Luxo só para o anfitrião

Inaugurado em 1960 e batizado de Cícero Pompeu de Toledo, o estádio do São Paulo Futebol Clube tem capacidade para receber 68 000 torcedores. “Após as reformas que faremos visando à Copa, devemos ter uma redução de 10 000 espectadores”, explica o assessor especial da presidência, João Paulo de Jesus Lopes, referindo-se ao projeto encomendado ao arquiteto Ruy Ohtake. “Vamos cobrir as arquibancadas e aumentar o conforto.” Apesar das boas condições ali encontradas – para os padrões brasileiros –, o Sinaenco apontou três falhas. A principal delas é a falta de um estacionamento aberto aos freqüentadores. Atualmente, há apenas um, pequeno e restrito à diretoria. De acordo com a Fifa, um estádio com capacidade superior a 45 000 pessoas deve ter 10 000 vagas para carros. Os outros problemas são a grade metálica que separa os setores das torcidas (que tira a visibilidade de alguns trechos) e a discrepância de qualidade dos vestiários (que são cinco). Nesse último quesito, uma curiosidade: o vestiário principal, que tem espaço para aquecimento com grama sintética, banheira coletiva e até um compressor de ar para limpar as chuteiras, é utilizado somente pelo São Paulo. Quando outro time aluga o Morumbi para ali mandar seus jogos – pagando para isso um mínimo de 78 000 reais –, precisa se contentar com um dos outros vestiários (que não têm nem armários). “Não vejo problema. É como receber visitas em casa e reservar a elas um quarto de hóspedes.”

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O tempo é o maior inimigo do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, inaugurado em 1940. As obras para a construção do Museu do Futebol, que deve ficar pronto no segundo semestre de 2008, acabaram revelando um problema: infiltrações de água nas arquibancadas. “Com o passar dos anos, a umidade corroeu a estrutura metálica do concreto armado”, explica o arquiteto Eduardo de Castro Mello. O diretor do estádio, Aléssio Gamberini, garante que não há motivos para preocupação. “O trecho de arquibancada que ficará sobre o Museu do Futebol está sendo impermeabilizado”, afirma. “E já pedimos à Secretaria Municipal de Esportes estudos de engenharia dos outros setores.” A quantidade insuficiente de banheiros do Pacaembu (são 36 para atender o público máximo de 38 000 torcedores) é compensada com uma solução paliativa. Em média, são alugadas trinta cabines de banheiro químico por partida, como no último domingo, quando em seu gramado o Corinthians venceu o Figueirense por 2 a 1. Como é tombado pelo Conpresp (desde 1988) e pelo Condephaat (desde 1994), qualquer intervenção em sua construção depende de autorização especial.

À procura de investidores

Quer irritar o diretor administrativo da Sociedade Esportiva Palmeiras, José Cyrillo Júnior, que assumiu o cargo há dez meses? É só expor a ele os problemas estruturais do estádio que tem sob sua responsabilidade. O mais antigo entre os três maiores da capital – foi fundado em 1933 –, o Palestra Itália passa por maus momentos. “Há rachaduras sob as escadas que dão acesso às arquibancadas, por exemplo”, diz o arquiteto Vicente de Castro Mello. “São resultado de infiltração de água.” Os banheiros, planejados para outros tempos, não têm nenhum dispositivo para racionalizar o uso de água (como temporizadores que fecham as torneiras automaticamente), e os mictórios, coletivos e em forma de cocho, dificultam a manutenção da limpeza durante os jogos. “Em alguns pontos, atrás do gol, a visão do campo é bem ruim”, afirma Vicente. Cyrillo discorda do levantamento e, da manga, saca um projeto para a reconstrução total do estádio, no mesmo endereço atual, aumentando sua capacidade de 32 000 para 45 000 pessoas. “Será uma arena multiuso, coberta, muito moderna”, diz. Para viabilizá-lo, o Palmeiras busca investidores. De acordo com estimativas do diretor, seriam necessários 120 milhões de dólares. “Com a oficialização da Copa de 2014 no Brasil, acredito que surgirão parceiros interessados.”

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