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Macy Gray: “Nunca tive medo de ser eu mesma”

Mais madura, cantora americana se apresenta em São Paulo na sexta (11) e e se prepara para lançar "o melhor disco da carreira até hoje"

Por Luan Flavio Freires
Atualizado em 5 dez 2016, 14h58 - Publicado em 3 abr 2014, 19h47

Prestes a desembarcar no Brasil para quatro apresentações em abril, Macy Gray está bem diferente da mulher de quase 30 anos que lançou On How Life Is, em 1999. Se no início da carreira ela amedrontava os jornalistas com respostas monossilábicas (isso quando não conversava com as paredes ou com as próprias mãos), aos 44 anos a cantora de Ohio aparenta estar muito mais segura de si mesma.

Ela toca em São Paulo acompanhada de sua banda na sexta (11), no Cine Joia, em meio à turnê que celebra os 15 anos do disco de estreia, que vendeu mais de sete milhões de cópias em todo o mundo graças ao hit I Try. Macy também se prepara para o lançamento do oitavo álbum, The Way, que deve chegar às lojas até setembro. Segundo ela, esse pode ser o “melhor disco de sua carreira até hoje”.

Pelo telefone, ela conversou com a reportagem de VEJASAOPAULO.COM sobre o legado da geração que renovou a soul music entre a década de 1990 e os anos 2000, o próximo disco, a fama de “deslocada”, a voz inconfundível e uma vontade bem peculiar de guardar lembranças dos lugares que visita.

O que os fãs podem esperar do seu novo álbum, The WayFicou ótimo, tem uma sonoridade bem crua. Terá muita soul music e rock ‘n’ roll. Ficou lindo. É difícil descrever a música, mas será um grande disco, do qual eu já tenho muito orgulho. Talvez seja o melhor álbum da minha carreira até hoje.

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Essa turnê que você está trazendo para o Brasil celebra o aniversário do seu primeiro álbum, que foi lançado há quinze anos. Aquele foi um ótimo momento para a soul music, com ótimos discos de Lauryn Hill, Erykah Badu e D’Angelo. Que legado aquela cena deixou? Aquele foi um novo tempo para a música, quando as pessoas se abriram para coisas diferentes. E eu penso que está voltando a ele. Hoje há muitas músicas novas e artistas com uma pegada mais “old school”. A disco music, por exemplo, está em alta, principalmente por causa do disco mais recente do Daft Punk [Random Access Memories, lançado em 2013]. O novo do Pharrell [Girl, lançado este ano] é quase um disco do Ray Charles ou do Elvis Presley, tem um ar de anos 1950. São bons tempos para a música.

Além de Daft Punk e Pharrell, o que você tem ouvido ultimamente? Bem, eu tenho filhos, sabe? Estou cercada de hip hop… Eu gosto de J. Cole, ele é o meu rapper favorito hoje.

Você sempre esteve muito ligada à cena neo soul na virada do milênio e, como acabou de dizer, se identifica com muito do que é feito atualmente. Mas você ainda se sente uma outsider? Onde você se encaixa? A minha música sempre foi diferente. Eu cresci em um ambiente tão eclético, tive tantas influências e por isso nunca tive medo de ser eu mesma. Isso é uma benção e uma maldição. O que fiz nos últimos anos realmente não se encaixava, principalmente no passado recente, quando muitos artistas pareceram dar um passo para trás. Estava rolando toda aquela coisa da música eletrônica. Mas o meu primeiro disco foi lançado no momento certo. Como eu disse, foi bom, mas há muitos altos e baixos quando você faz música. Hoje, eu diria que o meu novo disco não é diferente e, sim, que ele é algo feito para mim.

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Numa entrevista recente, você disse que o novo álbum é para pessoas crescidas, aquelas que já têm experiência de vida. O que você colocou da sua experiência pessoal nesse disco? De onde você tirou inspiração para as músicas? Chega um momento da vida no qual você finalmente cresce um pouco e passa a ver as coisas de um modo diferente, as sente de uma forma diferente… Então, quando eu escrevo músicas agora, escrevo da perspectiva de alguém que já chegou nessa fase. É um disco para pessoas que sabem mais sobre a vida e sabem o que o amor de verdade é. Eu escuto discos contemporâneos muito bons, mas todos eles parecem que são para pessoas com 16 anos, sabe? Geralmente, é como se dissessem “feche os olhos, dance e se divirta”. O meu álbum está mais para “feche os olhos e sinta o que você está ouvindo”. Essa é a intenção. Eu espero que as pessoas entendam, as pessoas para quem eu fiz esse disco.

O seu primeiro disco também foi muito pessoal. O que a Macy Gray de hoje diria para a Macy Gray de quinze anos atrás? O que eu diria? [Risos] Nada! Eu não ouvia ninguém, então provavelmente não ouviria nem o meu próprio conselho. Se eu me ouvisse, talvez tivesse feito as coisas de maneira diferente. Eu realmente fui feliz na minha vida. Geralmente, quando você é mais jovem, você não escuta a ninguém.

É verdade que as pessoas caçoavam da sua voz quando você era criança? O que eles diziam? Sim. Diziam que minha voz parecia a de um garoto ou que soava como Betty Boop depois de fumar um baseado. Esse tipo de coisa. Mas eu tenho consciência que minha voz é realmente engraçada. Está tudo bem agora [risos]. Eu superei isso.

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Quando você decidiu se tornar cantora? Só quando completei 21 anos. Foi tarde. Eu era muito jovem, mas não tanto para as pessoas que poderiam me contratar na época.

No seu primeiro disco, parece que você estava reivindicando espaço entre o panteão de lendas do R&B. Comparações com Billie Holiday, Nina Simone e Betty Davies pipocaram em publicações especializadas naquela época.  Você acha que foi um pouco pretensiosa na época ou tudo aconteceu naturalmente? O meu sucesso foi uma grande surpresa para mim. Eu não estava esperando. Eu me surpreendi até quando consegui um contrato. As pessoas me diziam que eu não poderia cantar e foi muito divertido quando tudo deu certo, eu aproveitei ao máximo. Foi como se tivesse caído no meu colo. Trabalhei duro para chegar aonde cheguei, mas definitivamente não estava esperando.

O que você faria se não fosse cantora? Eu acho que eu seria uma criminosa [risos].

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Não brinca. Que tipo de criminosa? Provavelmente uma ladra. [Sussurando] Eu adoro roubar as coisas. Onde quer que eu vá eu gosto de levar alguma coisa. Eu acho que não deveria falar isso, pode influenciar negativamente os jovens, mas eu amo roubar. Provavelmente estaria na cadeia também.  Mas a minha mãe é professora, talvez eu me tornasse uma também. Eu gosto de crianças.

Quais foram as coisas mais legais que você já roubou? [Risos] Me deixe pensar. Uma vez eu estava sem dinheiro e roubei gasolina. Foi bem legal. Também já roubei copos feitos por um designer bem conhecido, eles tinham um desenho bem vintage. Agora estou achando que posso ser uma má influência para quem ler essa entrevista. Mas foram coisas assim, nunca roubei nada de valor. Nunca roubei um banco, por exemplo.

O que você faz antes dos shows? Eu sempre rezo. Me reúno com a minha banda e rezo. Me visto, passo a maquiagem, aqueço a voz. Também costumo não comer antes dos meus shows. Eu fico muito nervosa e se eu tivesse comida no estômago, provavelmente vomitaria. Então, geralmente como no máximo o café da manhã.

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Uma das músicas mais pessoais do seu primeiro disco e de toda a sua carreira é The Letter, que tem uma melodia alegre, mas é como se fosse uma carta de suicídio, alguém se despedindo. Gostaria que você falasse um pouco sobre essa música e sobre o momento no qual você escreveu. Não é uma carta de suicídio. O meu tio Michael teve AIDS. E ele não queria contar a ninguém da família, acho que por vergonha. Ele morreu sozinho em seu apartamento, mas deixou uma carta para a mãe dele, que é a minha avó, passando sua vida a limpo e dizendo que não a veria mais. Leram a carta no funeral e é daí que a música veio. A letra da música parece uma carta de suicídio, mas na verdade era apenas alguém que estava doente e não tinha o cuidado adequado. Ele não tinha para onde ir. Foi muito triste. Mas, sim, a música é também sobre as pessoas que estão nesse mundo e nunca se encaixaram, nunca sentiram que pertenciam a este lugar. Eu acho que muitas pessoas se sentem assim.

Inclusive você? Às vezes. Às vezes me sinto como um alienígena, me pego pensando: “eu não conheço ninguém nesse lugar”.

Deve ser bom ser um alienígena. [Risos] Sim. Tenho certeza disso.

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