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Com 70 metros quadrados de área e preço a partir de 53 milhões de dólares, o jato Lineage 1000 é a aposta da Embraer entre as grandes marcas do luxo com asas

Por Alvaro Leme
Atualizado em 1 jun 2017, 18h01 - Publicado em 10 nov 2012, 00h00

É como aquela história do sujeito que, de tão bom samaritano, já conquistou um terreninho no céu. Só que, neste caso, com a chance de desfrutar as benesses desse paraíso ainda em vida. Parece exagero dizer isso, sim. Mas, pense bem, estamos a bordo de um quarto de hotel voador capaz de cruzar sem paradas os quase 8 000 quilômetros que separam São Paulo de Lisboa. As zonas da cabine ocupam 70 metros quadrados de área, com cinco divisões internas que fazem as vezes de cômodo. Uma tem cara de sala de estar, outra lembra um quarto com direito a cama queensize, adiante está a sala de reuniões, e por ali se espalham até dezenove passageiros. Um dos três banheiros, que do lado de fora ostenta um espelho de 1,90 metro de altura, vem com chuveiro. O bagageiro pressurizado tem capacidade para 9 140 litros e pode ser acessado mesmo com a aeronave no ar — é tão grande que um homem de 1,80 metro consegue ficar de pé dentro dele confortavelmente. Bem-vindo ao Lineage 1000, jato que ocupa o topo da cadeia alimentar na aviação executiva da Embraer. “A ideia era não deixar nada a dever a uma suíte presidencial de Nova York ou Paris”, afirma Marco Túlio Pellegrini, vice-presidente responsável pelo segmento na empresa.

A plataforma do Lineage 1000 é a do Embraer 190, modelo comercial utilizado por companhias como a Azul e a Webjet. Isso quer dizer que ambos são feitos com o mesmo “molde”. Ou seja, são idênticos do lado de fora: 36,2 metros de comprimento e 28,7 metros de envergadura. Por dentro, porém, talvez nem seja possível enumerar todas as diferenças, pois tudo no jato é personalizado. “Nunca duas pessoas terão aviões iguais”, diz o engenheiro Ricardo Carvalhal, gerente da área de estratégia de mercado da Embraer. Ele se refere aos modelos de televisores (entre 23 e 42 polegadas), ao divã que vira cama, às 700 opções de revestimento, aos 400 tipos de couro, ao ssessenta modelos de carpete… Com o perdão do trocadilho, o céu é mesmo o limite.

Bagagens à mão: pressurizado, o compartimento de malas pode ser acessado durante o voo
Bagagens à mão: pressurizado, o compartimento de malas pode ser acessado durante o voo ()

O apartamento voador da Embraer custa 53 milhões de dólares. “É para um cliente que fatura, no mínimo, 1 bilhão de dólares por ano”, estima Pellegrini. Desde o lançamento do projeto, em 2006, foram entregues doze unidades. A apresentação inicial ao mercado brasileiro ainda não havia ocorrido com o devido glamour até a edição deste ano da Latin American Business Aviation Conference & Exhibition (Labace), feira de jatos que levou em agosto ao Aeroporto de Congonhas 16 700 visitantes. Não há, ainda, um brasileiro que seja proprietário do modelo — apenas a presidente Dilma Rousseff viaja a bordo de um, posto à disposição da Força Aérea enquanto o avião oficial passa por reparos.

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Mais do que faturar rios de dinheiro com a venda de seu maior “filho”, o que a Embraer pretende ao lançá-lo é se firmar entre os gigantes do segmento. Se na aviação comercial a fabricante ocupa um confortável terceiro lugar, faz apenas uma década que ingressou no ramo executivo — a americana Gulfstream, uma de suas concorrentes, voa em céu de brigadeiro desde os anos 50. De todas as aeronaves executivas entregues no mundo em 2011, 14% foram da brasileira radicada em São José dos Campos, que com isso faturou 5,8 bilhões de dólares. A estimativa mais conservadora é que, nos próximos dez anos, o segmento movimente 205 bilhões de dólares. O plano é garantir 20% desse total, uma briga para a qual a ex-estatal vem munida de dois pilares: investimento constante na melhoria dos produtos e ações de promoção.

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No que diz respeito à melhoria dos produtos, parece que tem funcionado. Celeiro de talentos da aviação desde sua fundação, em 1969, não faltavam à Embraer engenheiros de talento para criar bons jatos, mas o acabamento carecia de algo mais. Fechou-se, então, uma parceria com a BMW, que conferiu às aeronaves o requinte que faltava. “Agora, a sensação é de estar realmente num veículo de luxo”, afirma o consultor aeronáutico Cássio Polli, de São Paulo. Já as ações de promoção incluem anomeação de figuras-chave como embaixadores, caso do ator Jackie Chan, que veio ao Brasil em fevereiro para buscar um modelo Legacy 650 — os executivos da empresa recusam-se a comentar se o astro do cinema ganhou o brinquedo de 29,9 milhões de dólares. Chan é um nome estratégico devido à popularidade em dois mercados dos sonhos: os Estados Unidos e a China.

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Para clientes mais low profile, se é que isso existe num segmento em que o produto mais basiquinho custa 4,1 milhões de dólares, a Embraer tem táticas de sedução como o test-fly. Imagine que um Eike Batista da vida ligasse e pedisse para conhecer determinado modelo de avião. Pois a empresa tem uma estrutura de pilotos, tripulantes, consultores e “faz-tudo” encarregada apenas de tornar isso possível da melhor maneira no menor intervalo de tempo. Se for preciso, aluga-se até o jato de outro cliente. No caso do Lineage, já houve um desses voos de demonstração em que o interessado e sua cara-metade foram recebidos com uma sinfonia de violinos. “Ninguém desperdiçaria a chance de ter em mãos um bilionário por oito horas”, conclui Carvalhal, da Embraer. Tem toda a razão.

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