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Drogas na esquina

Por Walcyr Carrasco
Atualizado em 5 dez 2016, 18h07 - Publicado em 30 abr 2011, 00h50

A maioria dos pais não tem ideia de como seus filhos entram em contato com as drogas. Eles gostam de pensar em traficantes perversos, verdadeiros lobos maus disfarçados de coelhinhos. Bobagem. A garotada experimenta sua primeira droga ilícita através dos coleguinhas de escola, com a turma nas baladas. Ou mesmo dentro da própria família. Nunca me esquecerei do depoimento de um pai em uma palestra que dei no interior de São Paulo. Quando afirmei que as drogas estão mais próximas do que se pensa, o homem se ergueu chorando:

— Meu filho faleceu de aids. Ele contraiu o vírus em seringas compartilhadas. Mais tarde descobri que o meu irmão, seu tio, foi quem o levou ao consumo.

Emudeci. A plateia ficou em silêncio. O que dizer diante do sofrimento daquele homem? Da curiosidade ao vício, o roteiro é conhecido. O adolescente falta às aulas. Fica trancado no quarto ou some com a galera. Pede grana extra. Finalmente, algo de valor desaparece da casa. E aí a família reage… demitindo a empregada! É sempre a primeira suspeita. Uma conhecida cuja filha chegou a ser internada lastimou-se:

— Ainda não entendo como não percebi. Ela mudou de comportamento, rebelava-se o tempo todo, sumia. E eu achava que era uma fase.

Para alguns adolescentes, o uso de drogas parece normal. Seus próprios pais as usam. Principalmente as consideradas leves, como a maconha. O pai do amiguinho muitas vezes oferece o primeiro cigarro ao garoto, como se fosse um ritual de iniciação ao mundo dos adultos. Já ouvi pais como esses argumentar:

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— A maconha é menos perigosa que o cigarro.

Pode até ser, embora eu duvide. Nunca vi um fumante convencional se tornar uma pessoa lerda, com pensamentos vagos, como o usuário de maconha. E a maconha vem misturada, ninguém sabe com o quê. E também, se algo é menos perigoso, não significa que seja bom. Também ouço outro tipo de defesa:

— A bebida é muito pior que qualquer droga.

Concordo. O alcoólatra destrói a própria vida. Mas a maioria das pessoas bebe só socialmente. As drogas parecem produzir reações químicas em que a dependência é quase imediata. Mais que isso: drogas são proibidas. Para comprá-las é preciso dialogar com traficantes, entrar no submundo do crime. Quem deve no bar, no máximo ganha um esculacho do gerente. No caso das drogas, leva tiros.

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Durante anos conheci um produtor de teatro, sério, competente. Há algum tempo soube que estava nas ruas após cair no crack. Muitas carreiras, inclusive artísticas, são destruídas. A pessoa começa a faltar ao trabalho, a não cumprir compromissos. Torna-se impossível trabalhar com ela. No caso de famosos, a situação é abafada até o possível. Algumas vezes vem à tona, como no caso do cantor que engoliu pilhas.

É óbvio, o viciado começou de algum jeito. Eu garanto: sempre com alguém muito próximo apresentando o primeiro cigarrinho, a dose inicial. Pessoalmente, acho a política de controle das drogas um desastre. A proibição por si só levou ao aumento do poder dos traficantes. Mas adolescentes e jovens continuam mais expostos do que nunca. A estratégia um dia terá de ser repensada. Mas quem sou eu para oferecer uma solução para esse mundo de traficantes e usuários?

Uma coisa eu sei: a educação começa em casa. Pais carinhosos conseguem estabelecer uma relação de amor e confiança com os filhos. E saber o que está acontecendo. Talvez seja impossível resolver a questão da droga no planeta. Mas é dentro de casa que se dá o primeiro passo.

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