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Dois edifícios históricos da Rua General Jardim têm estado de conservação opostos

A sede da Aliança Francesa foi renovada e está bonita de dar gosto e a do Instituto de Arquitetos do Brasil cai aos pedaços

Por Camila Antunes
Atualizado em 5 dez 2016, 19h27 - Publicado em 18 set 2009, 20h30

Se você passar pela esquina das ruas General Jardim e Bento Freitas, na região do centro da cidade conhecida como Boca do Lixo, dê uma olhada no prédio de oito andares que existe ali. E morra de vergonha. O edifício, construído em 1947 para ser a sede paulistana do Instituto de Arquitetos do Brasil, foi tombado em 2000 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). Embora seja mantido por uma entidade de classe que tem a missão estatutária de “contribuir efetivamente na defesa do patrimônio cultural paulista”, está numa decadência de dar dó. As pastilhas cor de âmbar que embelezavam a fachada tiveram de ser retiradas há dez anos. Corriam o risco de cair na cabeça de pedestres (ou na dos mendigos que moram sob a marquise do prédio).

Do lado de dentro, há um restaurante desativado, transformado em área de exposição e eventos igualmente sem serventia, por causa das infiltrações. É ali que fica pendurado o móbile Viúva Negra, do escultor americano Alexander Calder, avaliado em até 5 milhões de dólares. Outro problema está nas janelas. “Várias se encontram enferrujadas e com os vidros rachados”, diz o arquiteto Lúcio Gomes Machado, que tem escritório no local. Há mais de um ano, ele tenta angariar recursos para uma grande reforma na fachada e na estrutura do prédio, para a qual calcula um gasto em torno de 3 milhões de reais. “Já conseguimos patrocínio para a obra de impermeabilização”, conta. De qualquer forma, é desalentador que o desgaste na casa dos arquitetos tenha chegado a esse ponto.

O entorno do prédio do IAB também está decadente. Circulam por ali prostitutas e travestis. Existem vários inferninhos e bares mal freqüentados. Mas isso não justifica o abandono. No mesmo quarteirão funciona uma instituição impecável, a Aliança Francesa. “Perdemos muitos alunos com a degradação do centro, mas não quisemos nos desfazer da sede por causa de sua importância histórica”, afirma Renato Vieira, diretor de marketing da escola. “Aqui ocorreram reuniões secretas contra a ditadura.” A decisão, em 2002, foi investir no teatro, na biblioteca e em um novo café. Todos os dias, cerca de 500 pessoas freqüentam o espaço. Menos da metade está matriculada em cursos de francês. Outro bom exemplo é a Escola da Cidade, especializada em ensino de arquitetura. Idealizada por um grupo de profissionais (alguns dos quais mantêm escritórios no prédio do IAB), está ali há sete anos e tem 220 estudantes. “O desafio do século XXI é resolver os problemas das cidades”, diz o diretor Ciro Pirondi. “A começar pela própria rua.”

Cortada pelo Minhocão, a General Jardim tem três quarteirões na Vila Buarque e quatro em Higienópolis. “Faz a ligação entre uma área mambembe e outra afortunada”, afirma o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, autor da reforma da Pinacoteca e o mais conhecido condômino do edifício do IAB. “Aqui posso fumar e venho a pé de casa.” Já trabalharam no prédio profissionais como Vilanova Artigas, Miguel Forte, Rino Levi e Abelardo de Souza. Os três últimos são autores dos croquis do instituto, sob a coordenação de Oscar Niemeyer. O lugar virou ponto de encontro de boêmios e intelectuais até os anos 70–, especialmente num restaurante e bar no subsolo chamado de Clube dos Artistas, ou Clubinho. “Íamos lá todas as noites porque a comida era barata”, lembra o escritor Ignácio de Loyola Brandão, com saudade do apetitoso picadinho. “Sempre havia alguém interessante para conversar.” De sua turma, participavam o crítico de arte Sergio Milliet e o escritor Marcos Rey. Entre os habitués da primeira geração estavam os artistas plásticos Alfredo Volpi, Rebolo, Di Cavalcanti e Lasar Segall. É esse passado que se encontra tristemente abandonado.

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