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De vilão a mocinho: hoje shopping da Av. Higienópolis é considerado jóia do bairro

Recebido com protestos, centro comercial Conquistou os moradores que eram contra sua construção

Por Marias Folgato
Atualizado em 5 dez 2016, 19h27 - Publicado em 18 set 2009, 20h30

Um elefante bem no meio da sala de estar. Essa idéia desconfortável mobilizou milhares de moradores de Higienópolis na década de 90, tão logo souberam que um enorme shopping seria construído no coração do bairro predominantemente residencial. Houve protestos, abaixo-assinados e ações judiciais – um arranca-rabo daqueles – contra a chegada do colosso de dez andares e 33 000 metros quadrados. Não sem razão. Até então, o histórico de construções de centros comerciais em São Paulo apontava que estes sempre modificavam o entorno – às vezes, para pior. Parece novela, mas o ódio virou história de amor. O caso do corretor de imóveis Sérgio Pereira ilustra bem como o vilão se tornou querido da vizinhança. Durante as obras, ele chamou a polícia inúmeras vezes para reclamar de barulho. Pois o mesmo sujeito belicoso pode ser encontrado todo pimpão nos restaurantes do Pátio Higienópolis quase diariamente. “Dispensei minha cozinheira”, diz. “Basta atravessar a rua para encontrar várias opções de lugares para comer.” Pereira não é nenhum vira-casaca. Não sozinho, pelo menos. Uma pesquisa do Grupo Malzoni, responsável pelo empreendimento, mostra que 51% dos consumidores – circulam por ali 28 000 pessoas por dia – estão concentrados num raio de até 2 quilômetros de lá. Ou seja, o shopping virou parte da rotina local. “Somos tão assíduos que minha filha até fez amizade com os funcionários”, conta a professora de inglês Lucienne Coelho, 37 anos, há trinta no bairro.

Mas como os vizinhos mudaram de opinião, afinal? Com muito jogo de cintura do Grupo Malzoni. Foram encontros com associações de moradores, modificações no projeto arquitetônico e melhorias em espaços públicos. Exemplo: um estudo realizado pela Companhia de Engenharia de Tráfego na época apontava que o tal elefante de concreto jogaria nas ruas da região, nos horários de pico, um volume de 1 600 veículos por hora. Diante disso, trocou-se a sinalização antiga dos arredores. Outra medida foi instalar as catracas de estacionamento o mais longe possível das entradas – assim, qualquer fila estaria dentro do terreno, não no caminho de outros motoristas. Baluartes das redondezas, como o Parque Buenos Aires, foram repaginados como sinal de boa vontade. Outro fator para explicar por que aquele pedaço da cidade não virou um eterno engarrafamento é matemático, como explica Paulo Malzoni Filho, da Brascan, hoje responsável pelo complexo. “Quem antes se deslocava de carro passou a circular a pé porque não precisava mais de serviços fora do bairro”, afirma. Um andar inteiro de estacionamento foi extirpado do projeto original, a pedido da vizinhança. O formato caixotão, predominante nesse tipo de construção, deu lugar a um prédio bem recuado (30 metros em relação à Avenida Higienópolis e outros 40 metros na Rua Doutor Veiga Filho) e com charmosos tetos de vidro, que conferiram ar mais acolhedor à fachada. O grande trunfo, no entanto, foi alterar o perfil residencial de Higienópolis sem exageros. Onde antes não havia cinemas, hoje funcionam seis salas, além de um teatro. O mesmo vale para o diversificado leque de restaurantes e serviços. “Falavam em levantar sete prédios naquele terreno. Traria mais trânsito, sem nenhum serviço para nós”, diz o médico Luciano Stancka, presidente do Conselho de Segurança do bairro. Para o presidente da Associação de Moradores e Comerciantes de Higienópolis, Fuad Sallum, a presença do shopping ajudou a agregar gente que mora e trabalha na região. “Virou ponto de encontro para pessoas que se conheciam de vista, mas nunca trocavam uma palavra.”

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