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Primeiro culto de igreja gay é animado e dura 2h30

Igreja Cristã Contemporânea de São Paulo, fundada no sábado (27), contou com a presença de casal que celebrou sua união em programa de Pedro Bial

Por Livia Deodato
Atualizado em 1 jun 2017, 17h44 - Publicado em 28 abr 2013, 10h37

“Tá com a chave da vitória, hein!”

“Amém!”

As boas-vindas no primeiro culto da Igreja Cristã Contemporânea em São Paulo vieram como elogio ao pingente em formato de chave que uma mulher usava no pescoço. O enfeite também pode representar o símbolo de uma luta que a congregação, nascida no Rio, defende há pelo menos seis anos, quando foi fundada: uma sociedade livre de preconceitos, principalmente contra homossexuais.

Ocorrida no sábado (27), a celebração teve início pontualmente às 19h e foi acabar quase às 22h. Mais de 200 pessoas estiveram presentes na inauguração da primeira unidade paulista da igreja, localizada à Rua Platina, 190, no Tatuapé. A maioria dos presentes eram homens do Rio de Janeiro, que vestiam terno e gravata. Lotaram três ônibus especialmente para vir conferir a inauguração. Alguns moradores da capital também marcaram presença – e foram tomados por uma grande emoção ao longo do culto.

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“A presença de Deus é algo que nos enche e nos emociona”, disse o empresário Rickardo Lima, de 37 anos, que durante quase toda a cerimônia chorou, com os olhos fechados e os braços abertos. “Eu já os conhecia do Rio. Sem dúvida, vou me tornar um membro da igreja.”

A congregação, conhecida popularmente como a igreja gay, já possui seis unidades no Rio de Janeiro (a primeira foi em Madureira, onde hoje funciona a sede), uma em Belo Horizonte e agora esta em São Paulo. Fundada pelo casal Fabio Inácio de Souza, de 33 anos, e Marcos Gladstone, de 37, ela se difere das demais igrejas evangélicas unicamente pelo fato de ser inclusiva. “Um dos louvores que entoamos diz justamente que ‘você não nasceu para sofrer’”, diz Fabio. “Eu entrei para a igreja achando que Deus não me amava, como muitos que chegam até nós ainda acreditam.” Sendo inclusiva, a Igreja Cristã Contemporânea pretende portanto agregar tanto heteros, quanto homossexuais.

Em nome dos pais, das mães e dos filhos

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Tanto Fabio, quanto Marcos foram noivos anteriormente de mulheres por quatro anos. Há quase sete anos casados (conheceram-se pouco tempo depois de a igreja ter sido erguida), adotaram juntos dois filhos – Felipe, de 9 anos, e Davidson, de 10 -, há pouco mais de dois anos. Durante a entrevista concedida a VEJASAOPAULO.COM, os meninos iam e vinham distribuindo abraços e beijos carinhosos nos pais. “Para eles, ter dois pais é algo natural.”

Igreja Cristã Contemporânea de São Paulo - culto de igreja gay 2
Igreja Cristã Contemporânea de São Paulo – culto de igreja gay 2 ()

Davidson e Felipe não eram as únicas crianças no primeiro culto paulista. Ana Beatriz, de 4 anos, também estava acompanhando as mães, a manicure Izabel Betiany e a operadora de telemarketing e pastora Lucia Carrilho, responsável pela unidade de Caxias (RJ), da Igreja Contemporânea. Elas possuem a guarda compartilhada da menina junto com a mãe biológica. Ana Beatriz chegou até elas por meio da Amovi (Associação Amor e Vida em Assistência à Criança e ao Idoso), projeto social fundado por Lucia que atende atualmente 40 crianças carentes e 24 idosos.

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“A Maria Cristina, mãe da Ana Beatriz, tem outros quatros filhos e não tem condição de criá-la”, explica Lucia. “Cuidamos dela desde os seus 10 meses e ela sempre vai visitar e passar um tempo com a mãe biológica. Ana Beatriz diz sempre que tem três mães.” Segundo a pastora, a menina adora a igreja e fala com naturalidade sobre os “companheiros” dos amigos de suas mães.

Lucia fundou o projeto social depois de conseguir largar as drogas: foi viciada em cocaína durante sete anos, metade do tempo em que está ao lado de sua mulher. “Da condição de ‘cuidada’ passei a cuidar. Hoje tenho 106 membros na igreja onde ministro, em Caxias. Não tenho palavras para dizer quão gratificante é essa experiência”, afirma.

“As promessas do pai vão se cumprir na sua vida”

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O culto foi bastante animado: as canções de louvor, cujas letras eram projetadas na parede decorada com um céu azul entre nuvens, foram acompanhadas por uma banda ao vivo (com guitarra, violão, bateria e sopros) e um coro. O som serviu como trilha de uma peça sem diálogos, que rapidamente encenou a paixão, a morte e a ressurreição de Cristo. Havia também um coro formado por quatro pessoas. Os estilos variaram do pop ao rock, passando até pelo samba. 

As pessoas, em sua maioria, pareciam saber as músicas de cor e, por isso, não faziam questão de manter os olhos abertos: dançavam com os braços para cima e a cabeça abaixada, cantando bem alto. No meio disso, um cumprimento desejava ao próximo o melhor, que ainda estava para acontecer: “As promessas do pai vão se cumprir na sua vida” (seria o equivalente à “paz de Cristo” da Igreja Católica, mas com direito a abraços, sorrisos e beijos no rosto). Os que estavam com o seu companheiro ao lado entoavam os hinos abraçados. Duas engajadas mulheres levaram seu próprio pandeiro para ajudar no tom do culto, da plateia mesmo.

No controle de todo este som estava a secretária Aline Peixoto, de 35 anos, casada há 18 anos com a pedagoga Simone Queiroz, de 46, uma das vozes do coro oficial. As duas ficaram conhecidas nacionalmente depois de celebrarem o seu amor no palco do programa Na Moral, de Pedro Bial, em julho do ano passado. “Cerca de 85% das pessoas que vieram falar com a gente depois que aparecemos na TV tiveram uma reação positiva. Foi muito show, quase um desfile de miss”, diverte-se Simone.

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Os outros 15%… bem, não fizeram muita diferença. “A pessoa pode até carregar um preconceito dentro dela. Mas é você que tem o poder de sentir esse preconceito ou ignorá-lo”, diz Simone, para em seguida ser complementada por Aline: “Ainda falta amor ao próximo.” Simone tem dois filhos do primeiro casamento – Ana Carolina, de 24 anos, e Rodrigo, de 19 -, mas ainda pensa em adotar mais um com Aline.

Mais para o fim do culto, era chegada a hora do dízimo. Envelopes amarelos (a mesma cor da igreja) foram entregues a todos os presentes, para colocarem ali o valor que julgassem justo. Os membros que estavam sentados perto da reportagem de VEJASAOPAULO.COM devolveram os envelopes vazios. As máquinas de cartão de crédito e débito pouco foram utilizadas também. 

Ao encerrar o culto de cerca de duas horas e meia, o pastor Fabio fez sua aposta: “No ano que vem, vamos comemorar o nosso primeiro ano de vida no Credicard Hall.” Em meio a palmas e risos, os fieis respondiam “glória a Deus, Senhor!”.

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