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A primeira vez na ciclovia

Por Matthew Shirts
Atualizado em 5 dez 2016, 11h42 - Publicado em 22 jan 2016, 23h00

“É domingo”, ocorre-me na hora em que passamos embaixo da Estação Sumaré do metrô pela ciclovia cor de salmão em direção a Pinheiros, eu e meu caçula, Samuel, de 12 anos. Ando sempre ali a pé. Mas é a minha primeira vez “de bike”, como se diz no português de São Paulo. Uma delícia. A emoção é forte. O fato de ser domingo, raciocino, significa que a Avenida Paulista está fechada aos automóveis. Em vez de voltarmos para casa, podemos dar, de repente, um rolê bacana por lá.

“Sammy”, grito, olhando para trás, “vamos até a Paulista? ”Ele concorda de imediato, apressado, e emenda: “Preste atenção, papai! Você vai bater”. Ele topa qualquer programa, sinto, se servir para alinhar minha atenção visual na direção certa.

Desviamos para a Rua Galeno de Almeida, passamos em frente à feira da Oscar Freire, resistimos ao aroma de pastel e continuamos em direção à Avenida Doutor Arnaldo. De exibido tento domar a subida sem desmontar, mas não dá. Ofegantes, empurramos as bicicletas nos últimos metros até o karaokê Vivos, cujo nome remete aos dois cemitérios próximos dali. Está fechado o lugar. Ninguém canta no bar no início da tarde de domingo. E é melhor assim, penso, sem compartilhar a reflexão.

Continuamos a viagem pela calçada da Doutor Arnaldo. Atravessamos a Teodoro Sampaio, passamos pela entrada da Estação Clínicas, pelo Hospital Emílio Ribas e vimos que a entrada do túnel que dá acesso à Avenida Paulista está fechada para os automóveis com cavaletes de madeira. Entendo que isso libera o túnel para os ciclistas. Atravessamos a rua, passamos para o outro lado dos obstáculos e ganhamos a longa e curvilínea descida só para nós, eu e o Sammy. Saio em disparada para o túnel, que é todo grafitado, berrando de pura alegria. A sensação de liberdade é forte. Por alguns instantes a metrópole é nossa.

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Meu filho me segue, entre preocupado, envergonhado e, quero crer, feliz. Está rindo, ao menos. Os sem-teto que habitam ali o túnel não nos dão muita atenção, apesar dos meusberros. Subimos até a Paulista no embalo, ainda. Lá em cima é uma festa. Lotada, sem carros. Entramos na ciclovia, deliciosa de tão lisa, e partimos em direção à Zona Sul. Há gente por todo lado. Aposto corrida com um grupo de jovens, sem que eles percebam. Monitores uniformizados abaixam bandeiras a cada dois ou três quarteirões, permitindo a travessia de pedestres e repetidas relargadas dos ciclistas.

Paramos na esquina da Rua Estela, próximo à Estação Paraíso, onde obrigo o filhote a tirar uma selfie comigo. Saio na foto com um sorriso imenso; Samuel traz uma expressão ligeiramente irônica. A ciclovia continua em direção à Vila Mariana. Entusiasmado, proponho segui-la até o fim. Sammy pondera que, embora seja descida, teremos de voltar de bicicleta. O garoto tem mais experiência em ciclismo urbano do que eu. Duvida da minha capacidade física. Houve uma troca de papéis, percebo. Sou eu a criança a pedir sempre mais. A voz da razão ficou com ele.

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