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É apenas rock’n roll

Por Matthew Shirts
Atualizado em 5 dez 2016, 11h36 - Publicado em 5 mar 2016, 00h00

Os aplausos, entusiasmados, deixam atrás da minha orelha uma pulga, ali na fila das instalações sanitárias no Estádio do Morumbi. Vieram do banheiro dos homens, isso está claro, mas não dá para ver nada. Faz anos que não vou a um show de rock como esse dos Rolling Stones. Há uma pequena multidão na fila do banheiro, atrás da arquibancada 4, no andar de cima do estádio. Passa bastante besteira na minha cabeça, de repente. Não consigo imaginar o que estariam aplaudindo lá dentro. Algum atributo físico de destaque? Ridículo. Mas a piada é boa, ao menos. Mas por que motivo estariam todos batendo palmas com tamanho ânimo?

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Saem do banheiro dos homens, na sequência, duas moças com o punho cerrado por cima da cabeça em gestos bem-humorados de vitória. Haviam feito xixi no sanitário masculino, cuja fila, apesar de enorme, é muito menor do que a do feminino. Receberam, na forma de aplausos, o apoio do sexo oposto.

Fico quase com vergonha das besteiras imaginadas um minuto antes. Que legais, penso, essa coragem das mulheres de entrar ali e também o apoio masculino. O rock’n roll tem dessas coisas, penso. Trouxe para a música a contestação. De feministas, os Stones têm pouco, mas inspiram esse tipo de comportamento. A moda logo pega, e vão grupos diversos de moças para a fila dos rapazes.

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O estádio está lotado. Para onde olho há gente. Na terceira ou quarta música, já estou emocionado. No meu primeiro show dos Stones, eu nem sequer conhecia o Brasil. Foi em Los Angeles, em 1975, após o lançamento do disco Exhile on Main Street. Eu tinha 16 anos. Se alguém tivesseme dito naquela ocasião que dali a quarenta eu estaria em outro show da mesma banda, mas em São Paulo, com dois filhos brasileiros a ouvir e entender o português que Mick Jagger aprendeu com o próprio filho brasileiro, eu não teria acreditado. Parece coisa de universo paralelo ou de um seriado de televisão de ficção científica. Era mais fácil ser raptado por marcianos. Mas é apenas rock’n roll. O enredo da vida segue caminhos inesperados, como você já sabe.

No dia seguinte ao show no Morumbi, desço os 94 degraus que ligam a Rua Patápio Silva à Medeiros de Albuquerque, na Vila Madalena, e continuo mais duas ou três quadras até o Beco do Batman. É esse o (ótimo) nome da galeria de arte grafiteira a céu aberto do bairro. Quero ver a obra de Ronnie Wood, um dos guitarristas dos Rolling Stones. Soube que ele passara ali no dia anterior para deixar uma marca sua na parede. Isso é que é cachorro grande, penso. Um motoqueiro a passeio pergunta se procuro o grafite do Wood e se oferece para me mostrar a obra. É o logotipo da banda, a bocona com a língua de fora, aplicado em spray por cima de um grafite lindo de Zossi. Ficou bom. Tiro foto do grafite. Posto no Face. Conto pela internet a meus amigos americanos do que se trata. Saio de lá feliz.

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