Primeira. Não se ouve mais o choro do cãozinho de que falei na crônica passada. À minha inquietação com os lamentos dele sucede-se a apreensão com seu silêncio. Terá sido expulso da casa, das colinas de Perdizes? O dono ou dona desistiu dele? Ou — melhor — arrumou-lhe companhia humana, canina? Compartilho com os leitores a ilusão otimista de que minha crônica ajudou a pessoa a se tocar.
Segunda. As lindas casas dos anos 30, 40, 50, que dão um ar de aconchegante paz a estas colinas, continuam a ser derrubadas para que sejam erguidos no lugar delas repetidos prédios sem inspiração nem arte. Pertencem, pertenceram, a moradores que desistiram da região ou da vida, deixando-a pior para os que ficamos. A prefeitura e as incorporadoras estimulam a tendência suicida dos bairros antigos, em nome do imposto predial e do lucro imobiliário.
Terceira. O insólito morador de rua que se instalara aqui ao lado, e que varria e lavava seu pedaço, e arrumava a “casa”, e cumprimentava as pessoas educadamente, e tinha um cãozinho de pelúcia que colocava em posição de guarda quando saía, sumiu mesmo, com todos os seus trecos. Veio outro, de perfil ordinário: bebe, junta trapos sujos, dorme o dia inteiro, é imundo. A gente não escolhe o jeito de a cidade e a população mudarem.
Quarta. A feira livre é desmontada às 13 horas, por exigência da prefeitura, que alega precisar de tempo para varrer e lavar a rua. O caminhão de jato d’água só aparece às 18 horas, quando automóveis já estacionaram no local e o cheiro de peixe e frango impregnou as moradias.
Quinta. O galo que cantava no fim da madrugada em algum lugar destas colinas, dando bom-dia aos moradores insones, já não convoca a aurora. Terá virado coq au vin? Terá trocado a cidade pelo campo, para viver melhor, em harém de atarefadas galinhas?
Sexta. Os universitários do bairro continuam na contramão dos tempos modernos, reunidos às centenas nos bares vizinhos, fumando insensatamente, comprando tumores futuros em minúsculas prestações enfumaçadas e principalmente emporcalhando a quadra com milhares de baganas malcheirosas.
Sétima. A prefeitura está concluindo a reforma da pista para bicicletas e caminhadas no canteiro central da Avenida Sumaré. Com uma novidade dos engenheiros: no meio, bem no meio da pista estreita, há alguns postes!
Oitava. Depois de vários casos de furtos de veículos no entorno da universidade, as autoridades disseram que iriam inibir a atividade dos flanelinhas. Disseram. Eles continuam a extorquir os donos dos carros, na base do NPR: não pagou, riscou, ou não pagou, roubou.
Nona. A encrenca entre os moradores, a prefeitura e os construtores da arena do Palmeiras não terminou com a decisão de não cortar trinta árvores de rua para facilitar a movimentação dos carros. A segunda parte da encrenca imprevidente virá com a movimentação dos veículos.
Décima. As amoreiras, as pitangueiras e os licuris estão cumprindo espetacularmente sua obrigação anual em várias quadras das colinas, para satisfação da passarada.