Corte de médicos afeta atendimento na Santa Casa
Ao todo, 184 profissionais foram demitidos e ; unidade de referência em ortopedia não oferece mais atendimento nessa especialidade
Os pacientes dos hospitais mantidos pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo já sentem o impacto das 1 400 demissões realizadas na instituição na semana passada. A diminuição do quadro fez unidades interromperem o atendimento de algumas especialidades e fechar leitos. Com dívida de 800 milhões de reais, o hospital considera as dispensas uma “estratégia fundamental” de seu plano de reestruturação. O corte na folha de pagamento evitaria o fechamento do maior complexo hospitalar filantrópico do país.
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A reportagem visitou entre quarta (21) e sexta-feira (23) três dos principais endereços da Santa Casa. A pior situação foi observada no Hospital São Luiz Gonzaga, no Jaçanã, Zona Norte, unidade municipal administrada pela entidade. O contrato foi assinado em 2008 com a prefeitura. De acordo com o Sindicato dos Médicos (Simesp), foi a que sofreu o maior corte porcentual de médicos. Dos cerca de 200 profissionais que atuavam ali, 52 acabara, sendo desligados. Consideradas todas as unidades da Santa Casa, foram 184 médicos demitidos.
Com as dispensas, o pronto-socorro do São Luiz Gonzaga deixou de ter ortopedistas. A unidade é referência na área para toda a região por receber acidentados da Via Dutra e da Rodovia Fernão Dias, próximas do local. Agora, pacientes com suspeita de fraturas ou torções que chegam à instituição são orientados a procurar outro local, como o Pronto-Socorro de Santana, também na Zona Norte.
Com dores na perna esquerda, o pedreiro Roque do Nascimento Fonseca, de 43 anos, procurou o hospital na sexta (23) em busca de um ortopedista, mas foi orientado a passar por um clínico para que o médico apenas prescrevesse um remédio para aliviar a dor. “Quebrei o fêmur há alguns anos e usei pinos. De uns três dias para cá, a dor na região ficou muito forte. Não estou aguentando trabalhar”, disse Fonseca, que esperava havia três horas por atendimento. Segundo funcionários, o hospital tinha nove ortopedistas e todos foram demitidos. O setor antes ocupado pela especialidade está fechado. Consultórios e salas de gesso estão vazios.
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As demissões no São Luiz Gonzaga também provocaram o encerramento do atendimento ambulatorial de oftalmologia, reumatologia e neurologia. Foram fechados também um ambulatório para crianças autistas e a UTI adulto. De acordo com uma funcionária, que não quis se identificar, pelo menos 39 leitos da unidade foram desativados com as demissões: dezoito na clínica médica, treze na ortopedia e oito de UTI. “Mesmo quem fez cirurgia aqui na oftalmologia, por exemplo, não pode fazer o retorno porque não tem mais médico”, disse.
No Hospital Central, em Santa Cecília, o impacto no atendimento é menor, mas sentido pelos pacientes. Portador de insuficiência renal, um auxiliar de manutenção de 27 anos disse que as sessões de hemodiálise feitas na unidade têm atrasado até uma hora. “São doze pacientes por turno e as auxiliares de enfermagem têm de limpar as máquinas, acomodar todo mundo. Eu não tenho do que reclamar em relação à qualidade do atendimento, mas a gente vê que elas estão sobrecarregadas. Antes, a gente chegava e tinha oito atendentes. Agora, tem só a metade”, afirmou. O presidente do Simesp, Eder Gatti, contou que o setor de transplantes de fígado também foi prejudicado. “Eram oito médicos na equipe e seis foram demitidos.”
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Cirurgias eletivas – ou seja, que não são urgentes – estão sendo adiadas. Uma paciente relatava na enfermaria do hospital que sua operação de hérnia foi transferida do dia 7 para o dia 22 de novembro. Dos 106 médicos demitidos no Hospital Central, quinze são anestesiologistas.
A redução de leitos também foi registrada no Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM) da Vila Mariana, na Zona Sul, outra unidade administrada pela Santa Casa. Segundo funcionários, seis psiquiatras foram demitidos e o número de leitos, reduzido pela metade. Um trabalhador da unidade contou à reportagem que, com as dispensas, uma ala foi fechada e passaram a ficar internados no mesmo espaço tanto pacientes dependentes químicos quanto portadores de outros transtornos psiquiátricos.
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