Conselho gestor e Secretaria de Cultura brigam por espaço livre do Parque do Ibirapuera
A prefeitura luta na Justiça para instalar no Ibirapuera um pavilhão com obras do escultor Frans Krajcberg
Esquentou a disputa pela antiga serraria do Parque do Ibirapuera, um galpão de 945 metros quadrados próximo ao Viveiro Manequinho Lopes. De um lado está a Secretaria Municipal de Cultura, que pretende transformar o lugar em um pavilhão com obras do artista polonês Frans Krajcberg, radicado no Brasil desde 1957. Temerosos de que as instalações prejudiquem o refúgio de pássaros e acabem com a tranqüilidade de um dos poucos espaços preservados dali, os onze membros do conselho gestor do parque são contra a idéia. Partiu do próprio artista, célebre por esculpir em pedaços de madeira retirados de queimadas, a intenção de doar cerca de quarenta esculturas a São Paulo. Desde 1971, Krajcberg vive em uma casa suspensa sobre um enorme tronco de árvore, em Nova Viçosa, no sul da Bahia, e desenvolve peças que denunciam crimes ambientais.
“O vão livre da serraria seria um lugar perfeito para a exposição das obras e reflexão sobre a destruição da natureza”, afirma o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil. Com o projeto feito pelo arquiteto José Rollemberg Filho embaixo de um braço e uma aprovação da Lei Rouanet no outro, Calil captou no Banco Real 1,4 milhão de reais, do total de 1,6 milhão necessários para a reforma-. Não contava, no entanto, com uma reação contrária igualmente rápida e veemente.
Para o conselho do parque, não se deveria nem cogitar a possibilidade de intervenção em um local tombado pelo patrimônio histórico. “A região escolhida é um oásis, um dos raros lugares da capital em que se ouve passarinho cantando”, diz o engenheiro Otávio Villares de Freitas, em seu segundo mandato como secretário do conselho gestor do Ibirapuera. Em outubro de 2006, o grupo deliberou contra o pavilhão: “É um absurdo oferecer um prédio público em caráter definitivo a um único artista. Por que Krajcberg?”, questiona o arquiteto e urbanista Mário Lorenzetti, também membro do conselho.
Em meados do ano passado, o conselho gestor do parque e a Sociedade dos Moradores e Amigos do Jardim Lusitânia (Sojal) entraram com uma ação civil pública na Justiça. Diante da liminar favorável, a prefeitura recorreu. No dia 29 de janeiro, no entanto, o Tribunal de Justiça do Estado negou recurso. Conclusão: a antiga serraria permanecerá vazia até o julgamento definitivo, que deve ocorrer nos próximos meses. “Estou bastante revoltado com tudo isso”, afirma Frans Krajcberg. “Minha idéia era presentear a cidade e acabei ouvindo insultos.”