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Com presidente na praia, Palmeiras sofre dor de novo rebaixamento

Arnaldo Tirone relaxava no Leblon um dia após a segunda queda do clube para a série B em dez anos

Por Marília Ruiz
Atualizado em 1 jun 2017, 18h00 - Publicado em 22 nov 2012, 19h42

Nada pior para um palmeirense que enfrentar a ressaca futebolística após a trágica rodada que confirmou a volta do time à Série B do Campeonato Brasileiro (o segundo rebaixamento em dez anos). O presidente da agremiação, Arnaldo Tirone, encontrou uma forma original de curar a dor de cabeça. Depois do empate em 1 a 1 com o Flamengo no último domingo (18), que fechou o caixão da equipe no torneio, ele emendou a viagem de Volta Redonda para a capital fluminense. No dia seguinte, em vez de enfrentar a situação e mostrar-se solidário com sua grande e enlutada torcida, foi visto tomando sol na Praia do Leblon, na Zona Sul carioca, checando o celular e com o boné cobrindo parte do rosto, cujo perfil lembra o do comediante canadense Mike Myers, protagonista da série Austin Powers. A postura tranquila e o fato de estar distante do Parque Antártica num dos dias mais tristes da gloriosa história da Sociedade Esportiva Palmeiras aumentaram as críticas ao cartola, tido por muitos como um dos principais responsáveis pelo rebaixamento. “Sua gestão foi ruim, e não vou apoiá-lo mais, como fiz na sua eleição, em janeiro de 2011”, afirma o ex-presidente Mustafá Contursi, que entende bastante do assunto. Sob o seu comando, o Palmeiras acabou rebaixado pela primeira vez.

Um fiasco desse naipe nunca é obra de apenas uma pessoa. No caso do alviverde, tiveram peso importante as dívidas deixadas pelas administrações anteriores (Tirone assumiu o cargo com um passivo de 130 milhões de reais), os jogadores que negaram fogo em momentos decisivos e o técnico que chegou para salvar a pátria, mas terminou brigando com as principais estrelas da companhia e abandonou o barco já com vários rombos no casco — no caso, Luiz Felipe Scolari, transformado em herói quando comandou a equipe na conquista da Libertadores em 1999. Apesar desses fatores, é impossível ignorar as digitais de Tirone na derrocada. Mais que o responsável por assinar embaixo das principais decisões que culminaram na queda, como a série de contratações estapafúrdias de atletas (conforme mostra o quadro abaixo), o cartola imprimiu ao clube um estilo de administração confuso e amador. Apesar dos problemas, ele diz que está com a consciência limpa. “Não me sinto culpado de nada, tampouco me arrependo das decisões que tomei”, afirma.

A dupla formada por ele e seu fiel escudeiro Roberto Frizzo, vice-presidente de futebol, caiu em tamanho descrédito no Parque Antártica que recebeu no conselho do clube apelidos inspirados nos dois personagens principais do seriado infantil Bananas de Pijamas: B1 e B2. A torcida adotou as alcunhas e espalhou no começo do mês pelas pontes das marginais e nos arredores do clube faixas pedindo a saída imediata dos “bananas”. Fora dos campos, Tirone e Frizzo trabalham como empresários do ramo gastronômico. O primeiro é dono do fast-food Yellow Giraffe, no Itaim, enquanto o segundo possui a rede de lanchonetes Frevo, com três unidades na capital. Em setembro, na filial da Rua Oscar Freire da tradicional Frevo, após mais uma derrota no Brasileiro, houve uma depredação por parte de palmeirenses vândalos. Os dois cartolas, que jantavam por lá no momento da invasão, salvaram a pele escondendo- se atrás do balcão.

Batizado com o mesmo nome de seu pai, que participou nos anos 70 da montagem da “Academia”, como ficou conhecido o grande esquadrão liderado pelo meia Ademir da Guia, Tirone assumiu o Palmeiras com grande apoio político, mas viu seu prestígio murchar mês a mês, por uma série de trapalhadas. Logo no início da gestão, arrumou encrenca com o meia chileno Valdívia, declarando à imprensa que ele dava mais atenção às noitadas do que ao futebol. Ninguém o acusou de mentir, mas depois do ataque o jogador se tornou cliente assíduo do departamento médico. Com a construção da nova arena do Palmeiras (o término da obra está previsto para 2013), transformou os jogadores em itinerantes da bola, levando o elenco a se apresentar em vários campos nos últimos meses, entre eles os das cidades de Barueri, Araraquara e Presidente Prudente. A conquista da Copa do Brasil, em julho, serviu apenas para mascarar alguns dos problemas crônicos.

Felipão - Palmeiras
Felipão – Palmeiras ()

Nos últimos tempos, com a crise já instaurada, tentou consertar o rumo nomeando novos diretores, como os ex-atletas César Sampaio e Galeano, sem estabelecer hierarquia nem funções claras. Num ambiente historicamente conhecido por uma grande confusão política, essa foi a cereja no bolo da receita de rebaixamento. “No Palmeiras, não se sabe o que é pior: a situação ou a oposição”, afirma o jornalista Mauro Beting, torcedor do clube e comentarista da rádio, TV e canal fechado do Grupo Bandeirantes. No dia seguinte ao rebaixamento, Beting acordou em sua casa no Morumbi com o som da televisão tocando “Quando surge o alviverde imponente/ no gramado em que a luta o aguarda”, os primeiros versos do hino palmeirense — e chorou, como muitos outros palestrinos. Para eles, o futuro parece bem mais cheio de sombras que as manhãs ensolaradas da Praia do Leblon.

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Valdivia - Palmeiras
Valdivia – Palmeiras ()

A RECEITA DO REBAIXAMENTO

Como uma matéria-prima que parecia promissora se transformou no angu da temporada

1º – Comece contratando 35 jogadores em menos de dois anos, a maioria deles de qualidade duvidosa

2º – Acrescente três técnicos no mesmo ano

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3º – Pague a um deles (no caso, Luiz Felipe Scolari) um salário de 800.000 reais por mês e receba em troca do profissional um aproveitamento de menos de 30% dos pontos disputados

4º – Brigue publicamente com as raras estrelas da companhia (o atacante Kléber e o meia Valdívia)

5º – Quando a massa começar a se desfazer, tente ganhar consistência contratando um atleta com 10 quilos acima do peso ideal (o meia Daniel Carvalho)

6º – Dispute as partidas em qualquer lugar disponível enquanto o estádio oficial, o Palestra, não fica pronto (nos últimos meses, a equipe passou por Pacaembu, Canindé, Barueri, Araraquara e Presidente Prudente)

7º – Para cobrir a mistura, mantenha cinco pessoas mandando sem hierarquia clara no departamento de futebol

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