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China rumo ao topo da lista de consumo de luxo

País tem 1,3 bilhão de habitantes, sendo que 140 são considerados bilionários e 870 000 milionários

Por Janaína Silveira, de Pequim
Atualizado em 1 jun 2017, 18h44 - Publicado em 28 Maio 2010, 23h18

Acompanhado de uma comitiva de altos executivos, o presidente mundial da grife francesa Louis Vuitton, Yves Carcelle, desembarcou na China no fim de abril. O grupo esteve em Xangai para um evento inédito nos 156 anos de história da fabricante de malas e bolsas: a inauguração, numa mesma noite e numa mesma cidade, de duas lojas próprias. Cada uma tem acima de 900 metros quadrados de área de venda — mais que o dobro da nossa maior filial, a da Rua Haddock Lobo, nos Jardins — e pertence à categoria que a marca classifica como ‘global stores’, aplicada somente aos endereços em que se pode encontrar toda a sua linha de produtos. Ponha-se na balança que, até então, havia apenas outras cinco dessas espalhadas pelo planeta, e fica clara a importância chinesa para a Vuitton e para os demais medalhões do mercado de alto padrão. 

Divulgação

Interior de uma das duas global stores da Louis Vuitton inauguradas em Xangai, em abril

O país de 1,3 bilhão de habitantes, conhecido por seus números superlativos, repete a vocação no segmento AAA. Divulgado em 1º de abril deste ano, o último Hurun Report, que lista os endinheirados chineses, apontou um crescimento de 6,1% no número de milionários: 875 000 felizardos cujo patrimônio está acima de 1,5 milhão de dólares (2,7 milhões de reais). Equivale a 10 milhões de iuanes, para falar em moeda chinesa, e representa a barreira que qualifica quem é ou não milionário. Desses, 140 são bilionários. A idade média com que se alcança esse patrimônio é de 39 anos, quinze a menos que o padrão de outros países. Com tanta bala na agulha, os chineses fizeram passar pelas caixas registradoras de empresas de luxo 9,4 bilhões de dólares (16,9 bilhões de reais) em 2009. Ou seja: 27,5% do que o segmento faturou mundialmente. Pequim, Guangdong e Xangai concentram 48% dos ricos. 

Christopher Bauer

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Em 2009, a montadora Porsche vendeu 8 629 carros no mercado chinês

Essa opulência decorre da reforma iniciada pelo sucessor do homem que instaurou o comunismo no país, Mao Tsé-tung. Após a morte do líder, em 1976, Deng Xiaoping assumiu o poder e promoveu uma lenta abertura da economia ao capital privado. Os salários eram iguais, fixos em cerca de 20 dólares atuais (36 reais). Nas ruas, predominava o azul dos uniformes maoistas, invariavelmente combinado ao boné com a estrela vermelha comunista. Para as mulheres, cabelos presos em tranças. No início da década de 80, ser diferente ainda podia significar ter fortes laços com a burguesia, então execrada. Cortes de cabelo arrojados e roupas ocidentalizadas eram proibidos. Desde as mudanças de Deng, saíram da pobreza mais de 400 milhões de pessoas, a maior massa humana a ascender de patamar, em menos tempo, em toda a história da humanidade. Quem podia começou a mostrar o que tinha. Hoje, relógios, joias e carros estão entre os bens preferidos dos chineses, que confundem sofisticação com ostentação e não perdem uma chance de exibir seus produtos caros. 

Cicero Rodrigues

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O mercado chinês consome vorazmente relógios de marcas poderosas como a Rolex: ostentar para se diferenciar

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Graças à exuberância econômica — mesmo em ano de crise, o produto interno bruto (PIB) cresceu 8,7% —, marcas de carros esportivos compensam na nação comunista parte do prejuízo de outras praças. A alemã Mercedes-Benz viu um incremento de 112% nas vendas no primeiro trimestre de 2010, em comparação com o mesmo período do ano passado. Quem faz mais sucesso, porém, é a Porsche: comercializou, em 2009, 8 629 automóveis, a preços entre 228 000 e 850 000 reais. São 27 lojas da montadora, contra treze da Maserati e dez da Ferrari. 

Album/ Latinstock

Perfumaria na China_2167a
Perfumaria na China_2167a ()

Cliente em uma das multimarcas de produtos de beleza, na China

A escalada econômica vivida nas últimas três décadas começou baseada numa vantagem competitiva que apenas uma nação onde vivem 20% dos humanos teria: mão de obra baratíssima. A oferta, aliada a incentivos fiscais, atraiu empresas internacionais, sobretudo fabricantes de calçados, eletrônicos e vestuário. Com produção acelerada, a exportação tornou-se um dos pilares da economia — atualmente, 63% dos calçados e 75% dos brinquedos do planeta inteiro são feitos no país. A construção civil também cresceu em ritmo impressionante. Nas grandes cidades, é difícil caminhar uma quadra sem cruzar com um canteiro de obras. Com o surgimento de uma nova classe média, veio a demanda por moradias mais confortáveis, o que resultou numa explosão de projetos residenciais, por exemplo.

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Já a multiplicação do luxo teve início há menos de dez anos. Apesar de atualmente o país ocupar o segundo lugar na lista de maiores faturamentos do segmento AAA no mundo (atrás apenas do Japão), em 2001 a participação chinesa no segmento era de 1%. Saltou para 12%, em 2006, à medida que aportavam mais e mais grifes pesos-pesados, de olho nos bons salários dos novos-ricos, entre 5 200 e 13 000 reais por mês. A classe média também dá sua colaboração: não se acanha em comprometer, vez ou outra, quase 50% dos vencimentos mensais em um produto que considere importante. Até dezembro de 2009, as 100 principais marcas de luxo do mundo haviam aberto 1 344 lojas na China, em 44 cidades. Metade delas foi inaugurada nos quatro anos anteriores, nos shoppings e centros de compras que se enfileiram nas metrópoles locais. 

Divulgação

Loja Shanghai Tang_2167a
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Ambiente de um dos pontos da loja Shanghai Tang: a primeira grife local de luxo recebe, principalmente, clientes estrangeiros

A Louis Vuitton chegou antes, em 1992, e totaliza 32 lojas. Porém, mesmo quem veio depois se deu bem, caso da grife de relógios Patek Philippe, que só começou a operar em 2005 e já está entre as preferidas dos consumidores de Pequim e de Xangai. A primeira marca nacional do segmento é mais conhecida no exterior. Trata-se da Shanghai Tang, criada em Hong Kong, em 1994, e que se autoproclama embaixadora global do chinês chique contemporâneo, apesar de ser consumida na nação asiática principalmente por turistas estrangeiros. São 36 lojas, em cidades como Nova York, Madri, Singapura e Bangcoc.

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Na América do Sul, ainda não há nenhuma filial. As peças buscam mesclar elementos chineses a recortes ocidentais, trazendo referências ao comunismo e à dinastia Qing, por exemplo. Um marcador de livro custa 25 reais. Um vestido de festa, 2 500. Em Xangai, desde janeiro existe o Shanghai Tang Café. O endereço é chique, Xintiandi, bairro de bares, ateliês e lojas descoladas, onde a arquitetura remete aos tempos da Paris do Oriente, como Xangai era conhecida nas décadas de 20 e 30 do século XX, auge da vida estrangeira na cidade. Pelo andar da carruagem, não seria nenhum choque se gerações futuras começassem a chamar capitais de outros continentes de “a Pequim da Europa”, ou coisa parecida.

DADOS SOBRE A CHINA

1,3 bilhão é o número de habitantes

R$ 16,9 bilhões foi o faturamento das empresas de luxo na China em 2009

100 das maiores grifes internacionais de produtos e serviços exclusivos operam na nação asiática

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R$1 300,00 são gastos a cada compra em lojas de alto padrão em metrópoles como Pequim e Xangai

R$ 36,00 (ou cerca de 20 dólares atuais) era o salário padronizado no país antes da reforma econômica, iniciada nos anos 70

R$ 5 200,00 a R$ 13 000,00 é a faixa salarial do consumidor padrão luxo na China hoje

1% era a fatia que o país representava no faturamento do segmento de luxo em 2001

27,5% foi a participação nesse mesmo mercado no ano passado

 

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