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HBO lança série ambientada na Boca do Lixo dos anos 70

<em>Magnífica 70</em> é a primeira produção de época do canal a cabo para o Brasil. Estreia em 24 de maio

Por Silas Colombo
Atualizado em 1 jun 2017, 16h53 - Publicado em 9 Maio 2015, 00h00

Passear pela Rua do Triunfo, no bairro da Luz, é de longe um dos piores roteiros turísticos para fazer hoje na cidade. A via fica em meio a uma das áreas mais decadentes do centro, por causa do consumo do crack. Mas já teve seus tempos dourados, entre as décadas de 60 e 80. Nesse período, concentravam-se ali diversas companhias de filmes independentes que lançavam mais de 100 títulos por ano. A produção era bastante desigual. Havia espaço para fitas que acabaram virando obras-primas do cinema marginal, a exemplo de São Paulo Sociedade Anônima, de Luís Sérgio Person, dos filmes de terror-trash de José Mojica Marins, o Zé do Caixão, e de uma quantidade industrial de pornochanchadas e de longas de apelo comercial.

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O espírito daquela época, as transações comerciais e os personagens exóticos que circulavam pela Boca do Lixo, como essa Hollywood paulistana ficou conhecida, vão ser lembrados no drama Magnífica 70, a primeira série de época feita pelo canal a cabo HBO no Brasil. A estreia vai ocorrer no dia 24 de maio e a temporada inicial terá treze capítulos. Na história, depois de apostar todo o dinheiro nas filmagens de A Devassa da Estudante, a equipe da Magnífica Cinematográfica vai à falência quando a fita tem a exibição vetada. Ambientado em 1973, auge do controle da produção cultural pela ditadura, o filme repleto de cenas de nudez em um colégio de freiras choca o censor Vicente (Marcos Winter).

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Esse mesmo homem que decretou a proibição do roteiro acaba se envolvendo depois com a protagonista Dora Dumar (Simone Spoladore). Sensibilizado com as dificuldades da atriz desempregada, ele se oferece para rodar um novo final, desta vez mais comportado, para a história da Magnífica ser liberada ao público. O resultado é tão bom que Vicente troca de profissão e passa a atuar na Boca do Lixo, tentando emplacar seu próprio filme. A ficção tem tudo a ver com a realidade. “O argumento da nossa série explora esse período paradoxal, no qual o lançamento de títulos ousados conflitou com o ápice da censura no país”, diz o produtor Roberto Rios.

Apesar de não ter nenhuma pretensão documental, Magnífica 70 recria bem o ambiente de época, dando uma ideia da rotina dos cineastas nos galpões de filmagem da Luz. No primeiro episódio, para regravar o final de A Devassa da Estudante, por exemplo, a locação escolhida foi o mesmo endereço que estava sendo usado como set de produções do Zé do Caixão. O financiamento das obras em esquema de agiotagem também é retratado. Assim como no programa, os longas antigos eram pagos por comerciantes locais em troca do lucro das bilheterias. “Cada episódio vai retratar uma fase da produção independente”, conta o diretor-geral da trama, Cláudio Torres. O Bar Soberano, ponto de encontro de diretores e atores, e a censora que foi a pedra no sapato de muitos artistas da época, Solange Hernandes, também serão relembrados.

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Os episódios trazem cenas externas da cidade gravadas nos anos 70. Logo no primeiro capítulo, um longo take em preto e branco da Rua do Triumpho (como o nome era grafado na época), encontrado em registros das empresas dali, mostra a efervescência do lugar. “Hoje a região está tão deteriorada que é impossível filmar por lá”, afirma Rios. Devido aos problemas de atuar na Luz, boa parte das gravações do seriado aconteceu no Rio de Janeiro, em locais como um complexo montado no Alto da Boa Vista, no hoje desativado Colégio Sagrado Coração de Jesus.


zé do caixão boca do lixo
zé do caixão boca do lixo ()

Das 25 maiores bilheterias entre 1970 e 1975 saídas das empresas paulistanas, nove eram do gênero pornochanchada. O filão abriu as portas para o lançamento do primeiro longa nacional de sexo explícito, Coisas Eróticas, gravado ali em 1981 e visto por 4,7 milhões de pessoas. Sucessos assim ficaram impossíveis de repetir a partir da década de 90, quando o governo de Fernando Collor de Mello derrubou a lei de exibição nos cinemas de uma cota de filmes brasileiros. As produções americanas tomaram conta da cena e a curiosa história da Boca do Lixo teve um final triste, com o fechamento ou a saída da região das maiores empresas desse mercado.

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