Autódromo de Interlagos serve como pista de testes para taxistas
Com preços 18% mais caros, motoristas usam o local para regular o taxímetro
Foi com um misto de surpresa e decepção que o taxista Valdir Romanini saiu de seu Volkswagen Fox na área dos boxes do Autódromo de Interlagos no último dia 11. “Mas já acabou?”, perguntou. Com a mulher, Francisca, no banco de trás, ele percorreu 4 quilômetros da pista em menos de cinco minutos. O suficiente para os dois se emocionarem. “É a nossa primeira vez aqui”, contou ela, sorridente.
Desde 15 de janeiro, andar de táxi em São Paulo está 18% mais caro: a bandeirada-padrão passou a custar 4,10 reais e o quilômetro rodado, 2,50 reais na bandeira 1 e 3,25 reais na 2. O ajuste do taxímetro aos novos valores pode ser feito em qualquer uma das 32 oficinas autorizadas pelo Instituto de Pesos e Medidas do Estado de São Paulo (Ipem-SP). Depois, os proprietários dos 32.642 veículos com autorização para circular na cidade precisam passar por uma aferição no autódromo.
Os taxistas dirigem pela reta dos boxes, pelo S do Senna e pela Curva do Sol das 18 horas à meia-noite. O período noturno foi escolhido para não afetar a rotina de treinos e as aulas de pilotagem no local. Até o ano passado, a aferição obrigatória dos aparelhos era feita em ruas espalhadas pelos quatro cantos da cidade e o Ipem tinha de alugar casas para montar escritórios. Examinar todos os táxis demorava pelo menos noventa dias quando havia reajuste de tarifas. Agora, esse prazo caiu para 32 dias úteis. “O serviço deixou de atrapalhar a rotina dos paulistanos e ainda temos uma infraestrutura melhor”, explica o diretor técnico do Ipem, Paulo Lopes.
Animados, os motoristas chegam com bastante antecedência, mesmo agendando o horário pela internet, e ficam dispostos em bolsões com até 200 carros. Passam por Interlagos 1.000 carros diariamente. Ao lado de um fiscal, o taxista roda 2 quilômetros em bandeira 1 mais 2 em bandeira 2. Não é permitido ultrapassar os 60 quilômetros por hora, embora quase todos jurem ficar com vontade de pisar fundo no acelerador. “Passei por onde correram Senna, Piquet… Eu me senti ‘o’ piloto, mas não deu para correr, porque estava com uma autoridade”, afirma Iromar dos Santos Neves. Seu colega Aurélio Plantuelo brincou: “Por mim, viria aqui toda semana”.
Se aprovado, o táxi recebe um lacre de segurança e adesivos do Ipem e do Inmetro. Caso contrário, o motorista precisa voltar à oficina para ajustar o sistema e marcar um novo exame. Depois da verificação, o uso da tabela passa a ser proibido.
Mesmo aqueles que reclamam da distância do local da prova gostam da experiência, como Adhemar Rulo: “Preferia fazer a aferição na Vila Alpina, mas valeu a pena conhecer Interlagos”. Dos mais de 1.100 taxistas entrevistados pelo Ipem a respeito da mudança, 77% avaliaram o local como bom ou ótimo, contra 16% que o consideraram ruim ou péssimo. As “corridas” seguem até 3 de março.