Bares e restaurantes elevam os preços de pratos e serviços em até 87%
Entre as justificativas das casas para a conta indigesta está o repasse dos custos aos clientes
A conta do bar ou do restaurante é entregue na mesa e, junto, chega uma estranha sensação de que ela está mais cara que o esperado. Não é ilusão. Petiscos, pratos, bebidas, estacionamento e até a taxa de rolha — cobrada de quem leva o próprio vinho de casa — tiveram uma subida substancial de preços em estabelecimentos da capital nos últimos meses. Um levantamento de VEJA SÃO PAULO realizado em quase 700 endereços constatou aumentos de até 87% desde outubro, bem acima da inflação do período.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) entre outubro de 2013 e abril de 2014 (últimos dados divulgados) foi de 4,37%. “Existe uma anomalia no repasse de custos ao consumidor, e as pessoas sentem que estão sendo roubadas”, diz o professor de economia Samy Dana, da Fundação Getulio Vargas. “A clientela paga mais pelo valor do aluguel do estabelecimento embutido no preço do prato do que pelos ingredientes utilizados.” De fato, não é preciso ser especialista em finanças para perceber os exageros das cifras no cardápio. A empresária Camile Uchôa Gonzalez frequenta restaurantes três vezes por semana e deixa 100 reais, em média, em cada um deles. Há um mês, esteve no Sancho Bar y Tapas, na Rua Augusta, e saiu de lá com cara de quem comeu e não gostou. “Os preços aumentaram, a conta está desproporcional ao serviço oferecido”, diz Camile, que resolveu protestar deixando de pagar os 10% ao garçom.
Os empresários dão as mais diversas justificativas para os reajustes: troca de ingredientes na receita, uso de produtos importados e até acréscimo na quantidade do alimento servido. Na padaria Diaita, especializada em alimentos sem glúten, o hambúrguer vegetariano subiu de 8,90 reais para 14,10 reais em abril, alta de 58,4%. “Fazia mais de um ano que estava sem aumento, e agora só usamos ingredientes orgânicos, mais caros”, afirma a proprietária Sofia Cattaccini. No Sancho Bar y Tapas, o polvo com batata passou de 38 para 55,90 reais, 47% a mais. “Estamos comprando um polvo com tentáculos mais grossos, o que aumenta o peso do ingrediente no prato, de 115 para 200 gramas”, diz o sócio Martin Jirousek.
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O campeão de reajuste, segundo a pesquisa, foi o couvert do restaurante Limonn, no Jardim Europa, que passou de 6,90 para 12,90 reais. O motivo apontado para o salto de 87% é a contratação, no começo do ano, do chef Leonardo Russi, que acrescentou itens ao couvert, que antes resumia-se a pão italiano com manteiga e queijo gorgonzola e agora inclui pão ciabatta, tomate confit com erva-doce e outros. “É um dos mais baratos da região”, afirma o empresário Carlos Burjakian Filho. Ainda assim, os clientes estão se afastando. O movimento no local durante o almoço caiu entre 25% e 30% nos meses de abril e maio. “O tíquete médio no meu restaurante é de 60 reais e as pessoas estão deixando de vir aqui para gastar metade disso em outros lugares”, admite Burjakian.
Nem os estacionamentos e serviços de manobrista escaparam dessa inflação. O Blú Bistrô, em Perdizes, teve um acréscimo de 80% no valet, indo de 10 para 18 reais. “Mudamos de empresa para uma que aceita o pagamento na conta e atende em horário de almoço”, justifica a sócia Ana Beatriz Dias. No início do ano, o estabelecimento também reajustou os preços da carta de vinhos em 15%. No Tatini Restaurante, o estacionamento foi de 10 para 13 reais, após três anos sem aumento. “Os preços de locação e os impostos são as principais dificuldades do setor; a cidade está muito cara”, reclama o dono Fabrizio Tatini.
Segundo empresários, a locação correspondia a 5% do faturamento mensal há alguns anos. Hoje abocanharia 15%. Não é o único custo repassado ao consumidor. “Gastos com segurança, planos de saúde e qualificação de funcionários também ajudam a justificar esses reajustes acima da inflação”, diz o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel-SP), Percival Maricato. Por outro lado, dividir essa despesa com a clientela pode não ser uma boa estratégia. “O consumidor está fugindo”, completa Maricato. Para os frequentadores, não há mesmo remédio melhor para combater a indigestão financeira. “A única resposta para esses aumentos abusivos é simplesmente não consumir”, afirma o professor da FGV Samy Dana.
- ESCALADA DE CIFRÕES
Alguns dos principais aumentos praticados pelos estabelecimentos desde outubro
RESTAURANTES
› Limmon
Couvert almoço: de R$ 6,90 para R$ 12,90 (87%)
Porção de guioza de porco:
de R$ 13,00 para R$ 19,00 (46%)
Rolha: de R$ 22,50 para R$ 32,00 (42%)
Carpaccio de pupunha: de R$ 27,00 para R$ 38,00 (40,7%)
Rolha: de R$ 25,00 para R$ 35,00 (40%)
Couvert artístico (no sábado, a partir das 19h): de R$ 5,00 para R$ 7,00 (40%)
Rolha: de R$ 50,00 para R$ 70,00 (40%)
Couvert: de R$ 5,50 para R$ 7,50 (36,3%)
Couvert artístico (seg. a qua.): de R$ 15,00 para R$ 20,00 (33,3%)
Couvert: de R$ 3,00 para R$ 4,00 (33,3%)
Rodízio com buchada e carneiro: de R$ 49,00 para R$ 65,00 (32,6%)
Rolha (vinho nacional): de R$ 22,00 para R$ 28,00 (27,2%)
Tataki de carapau: de R$ 24,00 para R$ 30,00 (25%)
Rolha: de R$ 40,00 para R$ 50,00 (25%)
BARES
Polvo com batata: de R$ 38,00 para R$ 55,90 (47%)
Cerveja Eggenberg Nessie: de R$ 15,00 para R$ 20,00 (33,3%)
Porção de coxinha: de R$ 21,80 para R$ 28,70 (31,6%)
Taco pollo adobado (unidade): de R$ 6,50 para R$ 8,50 (30,7%)
Costela portuga: de R$ 27,90 para R$ 35,90 (29%)
Lulas empanadas: de R$ 29,00 para R$ 37,00 (28%)
Cachaça Tijolinho Sagrado (a dose): de R$ 3,00 para R$ 3,80 (27%)
Drinque new zealand paradise: de R$ 32,00 para R$ 40,00 (25%)
Couvert artístico: de R$ 8,00 para R$ 10,00 (25%)
Picada guanahaní: de R$ 14,00 para R$ 16,00 (14%)
Chope escuro: de R$ 8,00 para R$ 8,90 (11,2%)
Chope claro: de R$ 6,50 para R$ 7,20 (10,7%)
Polenta cremosa ao ragu de lentilha e cogumelo: de R$ 33,20 para R$ 35,00 (5,4%)
COMIDINHAS
Hambúrguer vegetariano: de R$ 8,90 para R$ 14,10 (58,4%)
Picanha (o quilo): de R$ 64,90 para R$ 99,90 (54%)
Strudel de palmito: de R$ 25,00 para R$ 32,00 (28%)
Doce africano: de R$ 5,20 para R$ 6,50 (25%)
- VAGA SALGADA
A alta no valor de estacionamentos e valets
De R$ 10,00 para R$ 18,00 (80%)
De R$ 13,50 para R$ 20,00 (48%)
De R$ 15,00 para R$ 20,00 (33,3%)
De R$ 10,00 para R$ 13,00 (30%)
De R$ 17,00 para R$ 22,00 (29,4%)
De R$ 20,00 para R$ 25,00 (25%)
De R$ 12,00 para R$ 15,00, sem manobrista (25%)
De R$ 15,00 para R$ 18,00 (20%)