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Arquitetura: conheça os principais nomes da nova geração

Veja São Paulo ouviu especialistas da área para selecionar dez escritórios que estão mudando a cara de São Paulo

Por Juliana de Faria
Atualizado em 6 dez 2016, 09h04 - Publicado em 18 set 2009, 20h34

A vida começa aos 30, às vezes aos 40, para quem escolheu a arquitetura como ofício. Afinal, leva um certo tempo para que as propostas saiam do papel e comecem a aparecer pela cidade. Até verem suas assinaturas em projetos que dão o que falar, esses profissionais se limitam a opinar em trabalhos de nomes já consagrados ou a criar formas para as concepções de seus superiores. Mesmo aqueles que conseguem montar seu escritório logo depois de formados passam anos se arriscando em trabalhos menores antes de ser descobertos pelo mercado. Para saber quem são os novos arquitetos que começam a interferir nas fachadas paulistanas, Veja São Paulo ouviu feras da área como Ruy Ohtake, Abilio Guerra, Isay Weinfeld, Jorge Elias e Brunete Fraccaroli. Entre os dez escritórios das páginas a seguir, há quem venha se mostrando especialista em lojas, residências, obras públicas, interiores… Muitos começam a aparecer agora, mas suas idéias já estão – ainda que timidamente – mudando a cara de São Paulo. Projetos discutidos em duas línguas. Foi na França, em 1991, que o quarteto do escritório Triptyque se conheceu. A brasileira Carolina Bueno, 32 anos, e os franceses Olivier Raffaelli, Gregory Bousquet e Guillaume Sibaud, todos com 34 anos, eram estudantes da Escola de Arquitetura Paris-La-Seine e dividiam o sonho de encontrar um lugar para expressar sua criação. “Queríamos nos desprender dos modelos já prontos e apostar em novas idéias”, conta Carolina. Algum tempo depois de formados, resolveram deixar Paris. Sob influência de Carolina, o Brasil acabou escolhido como destino. “Este é um país que ainda está se criando”, afirma Raffaelli. No fim de 2000, os quatro colocaram seus diplomas na mala e fizeram uma primeira parada no Rio de Janeiro. Após um ano, embarcaram na ponte aérea para se firmar em São Paulo. Depois de alguns projetos, conquistaram uma menção honrosa na Bienal de Arquitetura de São Paulo, em 2005, pela loja de design MiCasa, no Jardim América. Criaram ainda uma estante, a Treme-Treme, que virou coqueluche entre moderninhos (cada estrutura com 2 metros de altura por 40 centímetros de largura custa 2 075 reais). O Triptyque – palavra francesa que designa um quadro formado por três partes – está prestes a entregar a nova sede da agência de publicidade Loducca (foto), no Jardim Europa. “Criamos a fachada em curva para suavizar o caos da avenida em frente”, explica Carolina. Famosos no currículo. Aos 41 anos – idade em que muitos estão engatinhando na profissão –, Fernanda Marques já ostenta no currículo trabalhos para diversos famosos. Foi ela quem decorou a casa da apresentadora Daniella Cicarelli, do ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega e do apresentador Otávio Mesquita. Nesta última, aproveitou a paixão de Mesquita pelo automobilismo para dar um toque original à sala. “Em vez de quadros, penduramos na parede a estrutura de um carro de Fórmula 1”, lembra. Outra deixa para que a arquiteta abusasse da criatividade foi na hora de projetar o escritório do ex-jogador Pelé (foto). “Busquei algo relacionado a futebol, mas sem exageros.” Na recepção, colou um papel de parede com fotos em preto-e-branco do rei. A sala de reuniões ganhou um tapete de grama sintética, e, eventualmente, bolas de futsal são espalhadas entre as cadeiras. Fernanda trabalha dez horas por dia. Para matar a saudade de seus trigêmeos, de 13 anos, ela reserva pelo menos um almoço semanal com os filhos. “Nem que seja no escritório, tentamos nos encontrar para comer juntos.” Arquitetura da moda, não. Os sócios do escritório MMBB adoram dizer que não querem saber de arquitetura “da moda”. Milton Braga, 43 anos, Fernando de Mello, 43, e Marta Moreira, 44, amigos desde os tempos de faculdade, preferem trabalhar com projetos que modifiquem a infra-estrutura urbana. “Discutir estilo ou design é desinteressante”, afirma Mello. Um dos projetos que se orgulharam de fazer na capital foi o estacionamento subterrâneo Trianon, premiado na 4ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, em 1999. Ao lado do já consagrado Paulo Mendes da Rocha, restauraram a Oca, no Parque do Ibirapuera, para a exposição dos 500 anos do Descobrimento. “Fui professor deles na USP nos anos 80 e começamos a trabalhar juntos assim que se formaram”, conta Mendes da Rocha. Mas é claro que o trio não recusa projetos de residência. “É um momento agradável em que temos mais contato com o cliente e a liberdade de experimentar idéias novas”, diz Marta. Na foto, os sócios apresentam a casa de um artista plástico, na Vila Romana. Um vão livre separa o ateliê da área residencial, que parece estar suspensa. A “tia” deu um empurrãozinho. Marcelo Rosenbaum, 39 anos, descobriu que queria ser arquiteto visitando construções do ABC paulista, onde morava na adolescência. “Gostava de imaginar os espaços depois de prontos”, lembra. “Era como se eu estivesse na Disneylândia.” Logo no primeiro ano da faculdade, teve a oportunidade de botar a mão na massa. A mãe da sua namoradinha na época ia abrir uma loja multimarcas num shopping de São Bernardo e ele pediu: “Tia, posso fazer sua loja?”. A “tia” deixou. Graças a ela, Rosenbaum projetou também para concorrentes em Santo André e São Caetano. Dois anos depois, ele se encantou com o trabalho do arquiteto Andreas Weber, pai do estilo high-tech alemão. Resolveu escrever pedindo um estágio. Quem ajudou Rosenbaum com a carta foi seu avô, que emigrou da Alemanha nos anos 40. “Fiquei lá um ano”, conta. O arquiteto caiu no gosto do mundo da moda. Seu currículo ostenta mais de 200 estabelecimentos, entre eles os das marcas Zapping, Marcelo Sommer, Fause Haten, Zoomp, Levi’s. Rosenbaum assina ainda o projeto do badalado Clube Glória, no Bixiga, e da descolada loja de brinquedos para adultos Plastik, em Cerqueira César. Um sábado por mês, Rosenbaum vira estrela de TV: comanda o quadro Lar, Doce Lar do programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo, em que reforma as casas de famílias de classe média baixa. Ex-pupilas de Weinfeld viram queridinhas da descolândia. Elas começaram a carreira no escritório do bambambã Isay Weinfeld. Logo que se conheceram, Carolina Maluhy, 31 anos, e Isis Chaulon, 36, identificaram interesses em comum. “Apostamos em materiais naturais, como as pedras brasileiras, além de valorizarmos a vegetação”, conta Isis. Passaram a tocar projetos próprios pelas madrugadas e nos fins de semana. “Ao percebermos que não tínhamos mais tempo nem para dormir, decidimos deixar o escritório do Isay e abrir o nosso”, diz Carolina. Em 2004, mudaram-se para um espaço na Avenida Faria Lima… sem esconder certa dor no coração. “Foi como abandonar nossa família”, lembra Isis. Weinfeld é só elogios. “Elas têm visão ampla do trabalho”, afirma o arquiteto. “Como curingas, participavam de todas as etapas.” A vida longe do mestre não foi fácil. Alguns clientes torciam o nariz para as duas, que foram atrás de profissionais tão jovens quanto elas. Um exemplo é a estilista Cris Barros, que se encantou com as meninas quando mal despontava no mundinho da moda e lhes confiou o projeto de sua primeira loja. Carolina e Isis também reformaram a casa da estilista, no Jardim Europa. De lá para cá, já entregaram 35 casas nos Jardins. Atualmente, têm outras nove em andamento. Na foto, a dupla apresenta uma das primeiras residências que elas fizeram. “Aqui, nossa proposta é trazer uma casa de campo para o meio da cidade”, explica Isis. “Demos atenção ao jardim para fugir da aridez de São Paulo.” Visitas para admirar o “filho”. Boa parte do ganha-pão de Mario Biselli, 45 anos, são os projetos residenciais. Mas a menina-dos-olhos de seu portfólio é uma escola de ensino fundamental. Tanto que, mesmo depois de a obra estar pronta, ele ainda faz questão de visitar a Caritas, em São Mateus. Nem o trânsito de quarenta minutos entre seu escritório, na Vila Olímpia – que divide com Artur Katchborian –, e a Zona Leste o desanima. Basta o arquiteto passar pela porta de entrada para ser recebido com paparicos pelas freiras da Congregação das Irmãs de Caridade do Japão. “Durante as obras, acabamos nos tornando amigos”, conta ele, enquanto aceita café fresquinho e pão feito na padaria da escola. “Vivo participando das festas que elas promovem nos fins de semana.” Entre um paparico e outro, Biselli aproveita para admirar todos os detalhes do “filhão” de 12 000 metros quadrados. O projeto foi criado em 2002 e, no ano passado, ganhou um prêmio do Instituto de Arquitetos do Brasil na categoria escolas. Do Caxingui para Higienópolis. Marcelo Ursini, 43 anos, e Sérgio Salles, 41, estavam no último ano da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP quando alugaram, ao lado de Luciano Margotto, 41, uma salinha de piso cimentado no térreo de um prédio no bairro do Caxingui, na Zona Sul. Surgia o Núcleo de Arquitetura. “Não tínhamos nem telefone”, lembra Ursini. Conseguiram umas coisinhas aqui, outras acolá… Até que, logo depois de formados, conquistaram o segundo lugar em um concurso público para a criação de moradias populares no Brás. “A partir daí apareceram trabalhos melhores”, diz Salles. Hoje, os amigos dão expediente em charmoso centro comercial de Higienópolis, em frente à Faap, cujo espaço eles mesmos projetaram. Sua mais reluzente obra é o terminal de ônibus ao lado da Estação Ciência, na Lapa. “Plantamos árvores e criamos canteiros para revitalizar todo o entorno”, afirma Salles. “Pena que, depois de quatro anos, a conservação já não é a mesma.” Novidade na Vila Buarque. Quando Fábio Valentim, 36 anos, Fernanda Barbara, 40, Fernando Viégas, 36, e Cristiane Muniz, 36, do escritório Una, são questionados sobre qual é seu projeto preferido, vêm com aquela resposta-padrão: “Todos!”. Mas é só falar da reforma do Centro Universitário Maria Antônia, na Vila Buarque, prevista para acabar no segundo semestre, para os olhos dos quatro brilharem. “A fachada foi preservada, mas por dentro há um espaço todo novo”, conta Fernanda, que projetou uma praça pública na área livre entre os prédios. Outro destaque no currículo do Una é uma escola pública com mais de 3 000 metros quadrados na periferia de Campinas. Em 2005, o prédio de baixo custo saiu vencedor do 7º Prêmio Jovens Arquitetos na categoria obras executadas e, no ano passado, ganhou menção honrosa na 5ª Bienal Iberoamericana de Arquitetura e Urbanismo. A escola está dentro de um conjunto habitacional com dezenas de edifícios iguaizinhos. “Nosso prédio é o único que apresenta linhas diferentes”, comemora Valentim. Concurso público é com eles mesmos. Era nos bares do entorno da USP que Vinícius Andrade, 39 anos, e Marcelo Morettin, 38, se reuniam para discutir projetos escolares. Até que um dia foram convidados a reformar o salão de um desses botecos. Uma boa parceria nascia ali. Mas só cinco anos depois da formatura a dupla resolveu criar uma sociedade. “Buscamos experiência em outros escritórios até nos sentirmos seguros”, conta Morettin. Junto com essa segurança, veio a idéia de investir em concursos públicos. No ano passado, eles participaram de oito, foram premiados em cinco e ganharam dois, inclusive um que pedia idéias para criar um assentamento sustentável no Arquipélago de Galápagos, no Oceano Pacífico. Em São Paulo, Andrade e Morettin são responsáveis pelo restauro da Faculdade de Medicina da USP, no Jardim Paulista. “Vamos reformar todas as salas de aula e os laboratórios”, explica Andrade. A primeira parte do projeto será concluída no fim do ano. Tira-dúvidas 24 horas por dia. Caçulinhas da lista, Carolina Molinari, 28 anos, e Thales Drummond, 30, abriram em 2004 um escritório na Alameda Lorena. Já acumulam quarenta projetos de arquitetura de interior em residências paulistanas. Lojas de roupas também fazem parte das preferências da dupla. “É onde podemos abusar da criatividade”, diz Carolina. Na loja da estilista Paula Zaragüeta, nos Jardins, eles investiram em uma decoração “dramática”, inspirados nas roupas da grife. Penduraram cristais nos lustres e cobriram o teto com papel de parede cor-de-rosa. “Lembra uma casa de bonecas”, afirma Drummond. Receberam aval para “pintar e bordar”. Para conquistar tamanha confiança, os dois apostam no atendimento para lá de vip. “Mimamos nossos clientes”, conta Carolina. “Cada um de nós anda com dois celulares e um rádio para resolver qualquer dúvida, 24 horas por dia.”

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