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Dubai: edifício mais alto do mundo abriga primeiro Armani Hotel

São 828 metros, 163 andares, 1 044 apartamentos... Tudo é superlativo no Edifício Burj Khalifa, o gigante que se tornou o novo cartão-postal do Oriente Médio

Por Alvaro Leme, de Dubai
Atualizado em 1 jun 2017, 18h44 - Publicado em 28 Maio 2010, 23h18

Digamos que algum diretor resolvesse rodar um filme com o Godzilla e achasse por bem situar o lagartão destruidor em Dubai. Seria interessante observar a reação do monstrengo de 80 metros diante de um edifício que, mesmo perto dele, pareceria enorme. É o caso do Burj Khalifa, que com 828 metros ocupa atualmente o posto de prédio mais alto do mundo. Erguido no meio do deserto, ele pode ser visto a 95 quilômetros de distância — é como se fosse possível enxergar, da Praça da Sé, um arranha-céu localizado na cidade de Campinas — e se tornou o novo cartão-postal do emirado árabe. Seus 163 andares abrigam dois conjuntos de apartamentos e outro de escritórios, restaurantes, um deque de observação aberto ao público e a primeira unidade do Armani Hotel. “Monumentos assim atraem visitantes estrangeiros”, afirma Hamad bin Mejren, diretor do Departamento de Turismo, Comércio e Marketing de Dubai. “Eles representam uma fonte de renda importante, pois não temos tanto petróleo quanto nossos vizinhos.”

O Burj Khalifa estrela um projeto de 20 bilhões de dólares (36 bilhões de reais) criado para transformar o sul da cidade num bairro para 135 000 moradores. Trata-se de 500 hectares — mais de três vezes a extensão do Parque do Ibirapuera — em que foram erguidos, além da torre, condomínios residenciais, cinco hotéis, dois shoppings e imóveis comerciais. Desse total, cerca de 2,7 bilhões de reais destinaram-se ao prédio.

Estima-se que o preço de venda do metro quadrado no arranha-céu gire em torno de 10 000 dólares (18 000 reais), o dobro do que se cobra na Avenida Paulista, por exemplo. A mesma toada superlativa permeia os demais números. Os alicerces consistem em 192 pilares de cimento e ferro que se estendem por 45 metros sob a superfície, cada um com 1,5metro de diâmetro. Entre o início das escavações, em janeiro de 2004, e a inauguração, seis anos mais tarde, foram empregados 12 000 operários de oitenta nacionalidades. Eles utilizaram 330 000 metros cúbicos de concreto, que seriam suficientes para erguer 165 edifícios de vinte andares — o espigão vazio pesava 500 000 toneladas, das quais 39 000 eram apenas de barras de aço. A torre contém a mesma quantidade de alumínio utilizada em cinco gigantescos Airbus A380, avião de 370 metros de comprimento. A limpeza dos 28 261 painéis de vidro de sua fachada demora de três a quatro meses.

Divulgação

Inauguração badalada: Giorgio Armani (na foto com o presidente da incorporadora Emaar, Mohamed Ali Alabbar) foi pessoalmente abrir as portas de seu empreendimento

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Como manter de pé algo com essas proporções? Além de reforçar as fundações, é preciso amenizar o impacto dos ventos — no topo, eles podem chegar a 150 quilômetros por hora, como em um furacão de nível 1. Por isso, escolheu-se uma estrutura similar a um Y deitado, que segue princípio semelhante ao de um tripé: uma ponta sempre funciona como apoio para as outras duas. A cada sete pavimentos, essas laterais diminuem, desviando ou amenizando as pancadas de ar. A prevenção a incêndios também recebeu atenção especial. Poucas pessoas conseguiriam descer centenas de lances de escada para evacuar o edifício, por isso há refúgios em intervalos de 25 andares. Esses espaços, cercados por material não inflamável, são pressurizados e dispõem de sistemas especiais de ventilação.

Nenhum dos 57 elevadores vai do térreo ao último andar. Apesar disso, o trajeto percorrido por um deles é recorde: uma subida de 504 metros (quase três vezes a altura do maior gigante paulistano, o Edifício Mirante do Vale, na Avenida Prestes Maia). Longas distâncias, nesse caso, exigem velocidades proporcionais. Alguns desses ascensores carregam até 42 passageiros a impressionantes 10 metros por segundo. Quem visita o deque de observação chega a ficar com o ouvido tampado, como ocorre em pousos e decolagens de avião, devido à variação repentina de pressão. Em menos de um minuto chega-se ao 124º andar, a 452 metros. De lá, tem-se visão de 360 graus do Golfo Pérsico e um panorama dos arredores a até 80 quilômetros de distância. Conhecer esse pedaço custa cerca de 50 reais, ou, na moeda local, 100 dirhams. O ideal é comprar o ingresso na véspera, mas quem não quiser esperar pode optar pelo bilhete de acesso imediato (200 reais por pessoa), que dá direito a não pegar fila.

No saguão de entrada, ainda no térreo, um equipamento permite simular como ficaria a paisagem de algumas metrópoles caso tivessem um Burj Khalifa para chamar de seu. No Rio de Janeiro, a única opção entre as cidades brasileiras, ele rivalizaria com o Cristo Redentor (747 metros, contando-se os 709 metros do Corcovado, onde está instalado) e criaria uma sombra descomunal sobre boa parte da capital fluminense.

Em 27 de abril último, um novo atrativo de peso entrou em funcionamento, o Armani Hotel. Resultado de uma parceria do estilista Giorgio Armani com a Emaar, construtora e incorporadora local, trata-se do primeiro de dez endereços da grife ao redor do mundo — o segundo, em Milão, tem inauguração prevista para 2011. Os funcionários usam a expressão “opulência minimalista” para definir a decoração chique, mas sem exageros, dos corredores de iluminação difusa e dos 160 quartos. Durante quase cinco anos, o italiano e sua equipe bolaram a criação de cada ambiente, do mobiliário ao cardápio dos restaurantes e mimos deixados como cortesia.

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As diárias começam em 900 reais, mas podem atingir até cinco vezes esse valor, na Dubai Suite. Desde o momento da reserva, os hóspedes passam a ter contato com um atendente que coordenará sua estada. Chamado de lifestyle manager, ele poderá ser solicitado para agendar passeios, compras ou resolver pendências. Em outras palavras, um faz-tudo de luxo. Além da recepção, no térreo, o hotel ocupa do 5º ao 8º andar, mais os pavimentos 38 e 39. Conta com oito restaurantes especializados em culinárias diversas, como indiana, mediterrânea e italiana, e um espaço de eventos para 450 pessoas. Uma das características da empresa de Giorgio Armani, a aposta em linhas variadas de produtos, pode ser percebida nas lojas de doces e flores ali instaladas, ambas com a assinatura da grife. Há ainda a butique de alta-costura Armani Galleria, o primeiro ponto de venda da linha Privê em Dubai.

Ah, sim, as compras. Só quem tem muito autocontrole atravessa o Dubai Mall, shopping anexo, com o bolso incólume. Entre suas 1 200 lojas estão filiais das francesas Galeries Lafayette e da americana Bloomingdale’s. Não para por aí. Um setor muito apropriadamente chamado Fashion Avenue concentra uma sucessão de marcas consagradas como só se costuma ver em capitais tradicionais do luxo. Começa num átrio onde são vizinhas Gucci, Chanel, Dior, Ermenegildo Zegna, Dolce&Gabbana, Versace e Fendi. Dali, nasce um corredor ocupado por jovens estrelas das agulhas, como Stella McCartney e Marc Jacobs, que desemboca num trecho em que ficam reluzentes joalherias. Circula por esse trajeto uma clientela peculiar, as muçulmanas ricas. Elas vestem a tradicional abaya, que lhes esconde o corpo inteiro, e cobrem a cabeça com lenços, mas exibem nos pés sandálias Givenchy, Manolo Blahnik e afins. E as bolsas? A mais basiquinha é Louis Vuitton, que divide espaço com poderosas Hermès croco de milhares de reais. “Por baixo da túnica, elas usam as melhores peças de tudo que é marca”, conta, num café do shopping, a comissária de bordo paulistana Karina Buairide, radicada no Oriente Médio há dois anos.

Gabriela Maj/Getty Images

Armani Hotel - Dubai - Restaurante_2167
Armani Hotel – Dubai – Restaurante_2167 ()
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Restaurante indiano Amal; tudo no Armani Hotel foi desenvolvido pelo dono da marca italiana: “opulência minimalista”

Outra ala interessante, o mercado de ouro reúne cerca de 200 negociantes de produtos confeccionados com o metal precioso — pechinchar pode reduzir preços pela metade, viu? —, de chupetas, por 1 150 reais,.a colares com brilhantes dezenas de vezes mais caros. Para quem viaja com a família, o lugar dispõe de três atrativos de peso: um rinque de patinação no gelo, um aquário com 33 000 animais marinhos e um parque de 7 000 metros quadrados da fabricante de videogames Sega. Na área externa, espalham-se restaurantes e cafés de onde se pode ver o show das águas dançantes. É uma apresentação que mistura música, luzes e os chafarizes de um lago artificial de 47 000 litros construído aos pés do Burj Khalifa.

Apesar de inaugurada em janeiro, a torre ainda não recebeu todos os seus habitantes. Apenas em março começou a entrega dos apartamentos de 100 e 200 metros quadrados, que deve ser concluída até setembro. Os imóveis dividem-se entre os condomínios Residence (900 unidades) e Armani Residence (144). Esse último também foi planejado pelo estilista italiano, e os proprietários dispõem do atendimento da equipe do hotel, como o serviço de quarto 24 horas. Entre os espaços restritos aos moradores e hóspedes, contam-se uma academia de ginástica com 1 300 metros quadrados, um spa de 1 100 metros quadrados e quatro piscinas. Parte dos jardins utiliza um interessante sistema que reaproveita a água condensada. Como a temperatura externa é quase sempre mais elevada que a dos ambientes internos, a diferença faz a umidade do ar se liquidificar em contato com as janelas frias — uma tubulação recolhe toda ela, produzindo por ano 50 milhões de litros.

Para ser considerada a maior do planeta, uma construção precisa da certificação do Council on Tall Buildings and Urban Habitat (Conselho de Prédios Altos e Habitat Urbano, em tradução livre), de Chicago. Depois de uma série de medições, os técnicos da organização conferiram o título ao gigante árabe em julho de 2007. Contabilizavam-se, então, mais de quarenta meses de obras e 141 andares, quando o Burj Khalifa ultrapassou os 508 metros do Taipei 101, de Taiwan. Na época, o prédio chamava-se Burj Dubai, nome alterado na véspera da inauguração, como sinal de gratidão ao governante do emirado vizinho, Abu Dhabi, o xeque Khalifa bin Zayed Al Nahyan. Ele havia socorrido financeiramente Dubai com 25 bilhões de dólares (45 bilhões de reais), oferecidos para amenizar o impacto da crise econômica. A resposta oficial, quando algum funcionário do prédio comenta o assunto, é evasiva.

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“Foi um meio de tornar o prédio patrimônio de todo o povo árabe”, afirma Waseem Khan, um dos responsáveis pelo passeio ao deque de observação. Tudo bem, já que não faltam canteiros de obras no pedaço para ser batizados com o nome da cidade-estado. Um deles, com inauguração prevista para 2011, é uma espécie de Disney World do Oriente: a Dubailand.

Números incríveis:

■ O Edifício Burj Khalifa custou 1,5 bilhão de dólares (2,7 bilhões de reais)

■ A construção consumiu 330 000 metros cúbicos de concreto e 39 000 toneladas de aço. Além dos 828 metros de altura, tem outros 45 sob a superfície

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■ Pode ser visto à distância de 95 quilômetros

■ Alguns de seus 57 elevadores têm capacidade de carga de 5 500 quilos e viajam a 10 metros por segundo. O trajeto de um deles é recorde: 504 metros

■ Conta com 3 000 vagas subterrâneas de estacionamento, mais 14 000 do shopping anexo

■ Consome por semana cerca de 7 milhões de litros de água — o equivalente a quase três piscinas olímpicas cheias. Obtém parte desse volume por meio de um sistema que reaproveita a condensação da umidade presente no ar

■ Tem 28 pavimentos de casas de máquinas e serviços, 37 de escritórios e mais de 70 andares de apartamentos, cujo metro quadrado custa estimados 18 000 reais

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