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Andrea Bocelli: “No Brasil, nunca me sinto um estrangeiro”

Tenor italiano, que faz apresentação única em São Paulo em dezembro, no Jockey Club, fala sobre o amor pela ópera e as comemorações dos vinte anos de carreira

Por Tiago Faria
Atualizado em 1 jun 2017, 17h59 - Publicado em 23 nov 2012, 14h15

O tenor italiano Andrea Bocelli, 54 anos, volta ao Brasil para uma apresentação única, no dia 13 de dezembro, no Jockey Club. No concerto, um dos cantores mais populares do mundo será acompanhado por orquestra e coral, com regência do maestro Eugene Kohn e participação do quarteto DIV4s. “Esperem duetos e surpresas. Fizemos de tudo para preparar um evento inesquecível”, ele adianta, em entrevista à VEJASÃOPAULO.COM.

Com mais de 70 milhões de discos vendidos, Bocelli comemora em 2012 os vinte anos de carreira. O cantor, que ficou cego aos 12 anos após um acidente em um jogo de futebol, admite sentir falta dos silêncios da Toscana, onde nasceu. Mas não reclama de um ofício que o leva a conhecer “os perfumes de diferentes culturas”, como ele diz. Victoria, sua terceira filha, nasceu em março, sete meses antes de seu álbum mais recente, Opera. “Tento evitar a sensação de rotina. Há muito ainda a ser feito”, ele afirma. À VEJASÃOPAULO.COM, Bocelli fala sobre música brasileira, os desafios da carreira e as lembranças dos shows no Brasil.

VEJASÃOPAULO.COM: Os seus concertos no Brasil são sempre concorridos, e recebidos com entusiasmo pelo público. O senhor guarda boas lembranças dos shows brasileiros?

ANDREA BOCELLI: Sou geralmente bem recebido quando canto em arenas e em teatros ao redor do mundo. Mas preciso admitir que a plateia brasileira é muito especial. Sempre retorno com muita emoção ao Brasil, e é como se eu estivesse voltando para casa… Talvez eu sinta isso porque a contribuição italiana está entre os vários componentes que formaram a identidade cultural deste país extraordinário. No Brasil, nunca me sinto um estrangeiro.

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VEJASÃOPAULO.COM: O concerto de Belo Horizonte, em 2011, foi visto por muitas pessoas que nunca haviam assistido a uma apresentação de música erudita. Foi um momento especial?

ANDREA BOCELLI: Em vários momentos, durante este ano, me peguei pensando no show de Belo Horizonte. Foram milhares de pessoas que acamparam para ver a apresentação, e que chegaram horas antes da performance. Quando cheguei, fiz questão de apertar as mãos daquelas pessoas, de agradecer pessoalmente. Foi uma festa da simplicidade. E um tipo de simplicidade que, para mim, soa como um presente precioso. A única forma de retribuir tanta gentileza é dar o meu melhor no palco, tentando presentear o público com momentos de alegria e serenidade, e ter o prazer de participar da trilha sonora da vida de tantas pessoas.

VEJASÃOPAULO.COM: Em 2012, o senhor celebra 20 anos de música. O concerto brasileiro será uma celebração da sua trajetória?

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ANDREA BOCELLI: Vinte anos passaram, mas meu entusiasmo é ainda aquele do primeiro concerto. Encontro forças quando vejo que o público me acompanha com tanta paixão, tanta empatia. É por isso que, na minha idade, cruzo oceanos várias vezes por ano. Este evento não é o fim, mas uma forma de recomeço. Há alguns meses, me tornei pai novamente. Então não é o momento de desistir de nada! Em São Paulo, fizemos o possível para preparar um evento inesquecível. Ouso garantir que será uma performance especial. Haverá duetos, mas os nomes de quem irá participar ainda são “top secret”. Teremos muitas surpresas.

VEJASÃOPAULO.COM: O senhor sempre comenta que a sua meta é aproximar a música erudita do grande público. Em 20 anos de carreira, o senhor acredita que ajudou a encurtar essa distância?

ANDREA BOCELLI: Apesar de eu ser só um pingo no oceano, fico feliz quando vejo a popularização da minha música. Sempre me impressiono com a sensibilidade do público que vai aos meus concertos. São ouvintes generosos, receptivos, que não têm preconceitos, que estão prontos para serem levados pela mão e para descobrir um repertório que, num primeiro momento, pode parecer difícil. A sensibilidade dos brasileiros está muito próxima à do mundo do melodrama. Acredito que vocês conseguirão criar um elo privilegiado com a paixão, a sensibilidade, a doçura e o rigor de várias obras de ópera, especialmente as do meu querido compatriota Puccini.

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VEJASÃOPAULO.COM: O senhor vendeu 70 milhões de discos e viajou ao redor do mundo cantando para grandes platéias. A experiência de conhecer diferentes culturas influencia o senhor no momento de compor e gravar?

ANDREA BOCELLI: Venho de uma família do campo. Minha profissão me leva a vários lugares do mundo por muitos meses do ano, mas meu desejo seria viver na Toscana, na natureza, no silêncio do campo onde eu nasci. Esses lugares estão ainda tão próximos de mim… Mas, dito isso, considero uma bênção o contato que tenho com várias culturas e tradições. Isso me obriga a olhar para além do meu horizonte, tanto do ponto de vista artístico quanto do humano. Cada lugar tem peculiaridades, do perfume do ar às roupas e aos hábitos. A linguagem também exerce uma influência forte na música

VEJASÃOPAULO.COM: Em 2011, o senhor se apresentou no Brasil com as cantoras Sandy e Maria Aleida. Qual é a relação do senhor com a música brasileira?

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ANDREA BOCELLI: Provavelmente somente aqueles que nasceram e cresceram no caldeirão multicultural do Brasil pode realmente entender a essência da música brasileira. Pessoalmente, ouço música brasileira desde que eu cursava a faculdade de Direito. Eu me apresentava em bares na Toscana e, no meu setlist, algumas das músicas mais pedidas eram brasileiras. Penso em gênios como Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Caetano Veloso, João Gilberto e tantos outros.

Andrea Bocelli
Andrea Bocelli ()

VEJASÃOPAULO.COM: No seu disco mais recente, o senhor decidiu privilegiar as óperas. Por quê?

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ANDREA BOCELLI: Tentei compor uma antologia de alguns dos momentos mais estonteantes da história da ópera, com várias peças italianas e algumas digressões adaptadas de obras-primas francesas. Não renego minha longa e feliz aventura pelo repertório pop, mas tenho a ópera no meu sangue. Como minha mãe dizia, eu era fascinado por óperas desde quando eu ainda era um bebê. Quando eu ouvia uma voz cantando, eu imediatamente parava de chorar, como se estivesse hipnotizado.

VEJASÃOPAULO.COM: Quando Barack Obama foi reeleito, o senhor escreveu uma mensagem no Twitter comparando os atos das óperas e sinfonias aos estágios de governo. Óperas são boas metáforas para a vida?

ANDREA BOCELLI: Toda criação artística é resultado da criatividade humana. De certa forma, elas carregam metáforas da nossa vida. Elas nos explicam o que estamos procurando, nossa espiritualidade, nossos sentimentos, alegrias e medos… Na vida, acho que nada acontece por acaso, tudo nos leva ao mistério e à beleza da nossa existência. Mas não acho que a estrutura de uma criação em participar pode ser interpretada como metáfora da vida. Quando escrevi para Obama, eu queria simplesmente encorajar o novo presidente.Eu teria feito a mesma coisa com qualquer um que tivesse recebido do povo, após eleições livres, a responsabilidade de representá-lo.

VEJASÃOPAULO.COM: No início da sua carreira, o senhor planejava ser ouvido pelo maior número possível de pessoas. Hoje, quais são os seus desafios artísticos?

ANDREA BOCELLI: O desafio agora é seguir cantando e tentar evitar a sensação de rotina. Também é tentar levar um pouco de felicidade às casas das pessoas. O desafio é trabalhar com novas óperas, interpretar novos personagens, e faze isso até o dia em que acabarem minhas forças. O desafio é seguir com minha carreira artística, tentando ser um pai sempre presente e atencioso. E manter a serenidade.

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