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Alfredo Mesquita é tema de biografia que perpetua seu legado

No ano em que completaria cem anos, fundador da Escola de Arte Dramática, Alfredo Mesquita ganha biografia

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 19h25 - Publicado em 18 set 2009, 20h32

Uma preocupação atormentava Alfredo Mesquita (1907-1987) logo depois de completar 33 anos. Filho de Julio Mesquita, o patriarca do jornal O Estado de S. Paulo, ele trazia no sangue o empreendedorismo e sentia que era chegada a hora de “fazer alguma coisa”. Não se contentava apenas com o diploma de advogado – origem do apelido “doutor Alfredo”, como era chamado no meio teatral – e a cultura adquirida em escolas francesas. Tampouco alimentava interesse pelos negócios da família. Ao contrário de seus dois irmãos, Júlio de Mesquita Filho e Francisco Mesquita, o caçula jamais se preocupou com o jornal nem se envolvia no mundo político, tão natural para os herdeiros do clã.

Elegante e refinado, esse paulistano da Liberdade foi o típico representante da província que ganhava ares de metrópole. Desde criança, gostava das artes e acompanhava as irmãs em espetáculos. Foi nas vesperais do Municipal que começou a enxergar o terreno em que poderia deixar sua marca. Depois de assinar críticas no jornal do pai, escreveu peças e criou o Grupo de Teatro Experimental (GTE), embrião do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Foi livreiro e editor até cravar seu maior legado: a fundação, em 1948, da Escola de Arte Dramática (EAD), que ele dirigiu por vinte anos e que há quase seis décadas legitima a profissão de ator. Desde 1966, a EAD está incorporada à Universidade de São Paulo. Curioso é um sujeito tão transformador ser pouco lembrado fora de seu círculo. Um grande passo para corrigir esse equívoco é o lançamento do livro Alfredo Mesquita – Um Grã-Fino na Contramão (Terceiro Nome; 304 páginas; 68 reais). Escrita pela jornalista e dramaturga Marta Góes, a obra chega às prateleiras na semana do

centenário do biografado e prova que, para quem se preocupava apenas em “fazer alguma coisa”, o doutor Alfredo foi mais longe.

A própria autora confessa que iniciou o projeto sem a verdadeira noção da importância de Alfredo Mesquita. “Fui descobrindo o personagem à medida que as entrevistas avançavam”, conta ela. “Ele era mais amado no teatro que na família”, acrescenta. “A famosa sopa oferecida antes das aulas era uma das inúmeras formas de expressar afeto pelos alunos, que ele talhava como se fossem uma extensão da sua personalidade”, lembra o ator Juca de Oliveira. Outra estrela oriunda da EAD, Glória Menezes diz que o professor aliava gentileza a pulso firme. “Doutor Alfredo era um fidalgo, com seus olhos azuis e bochechas rosadas, mas, quando necessário, lançava petardos certeiros na gente.”

Em 1968, Alfredo desligou-se da escola para que ela andasse com as próprias pernas. Passou temporadas no exterior, sofreu com perdas familiares e viu, com orgulho, muitos pupilos no exercício do ofício. O ator Cassio Scapin, aluno de 1984 a 1987, afirma que a tradição do fundador permaneceu no curso. “Já peguei uma EAD mais combativa que aquela escola de teatro mais tradicional, que era o forte do doutor Alfredo, mas a reverência a ele nunca foi menor”, garante Cassio. No mesmo 1987 em que o eterno intérprete de Nino, do Castelo Rá-Tim-Bum, se formou, Alfredo Mesquita, dois anos depois de receber uma grande festa em sua homenagem, morreu às vésperas de completar 80 anos. Ele nunca se casou ou teve filhos. Com a mesma discrição com que tratou sua intimidade, redigiu um testamento surpreendente. Deixou a casa em que morava, na Avenida Higienópolis, uma fazenda e outros bens para instituições como o Hospital do Câncer, a Santa Casa e a Pinacoteca do Estado. Nada com um valor tão alto quanto seu legado para o teatro de São Paulo.

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