Polo gastronômico com Alex Atala é alvo de protestos em Belém (PA)
O instituto encabeçado pelo chef é um dos dez idealizadores do projeto que deve ser implantado no local onde funciona o Museu de Arte Contemporânea na capital paraense
Sai a arte e entra a gastronomia. Essa troca está gerando um tremendo babafafá em Belém (PA), onde o Museu de Museu de Arte Contemporânea de Belém seria despejado do Casa das Onze Janelas, um edifício do século XVIII completamente restaurado, construído para ser residência do senhor de engenho Domingos da Costa Bacelar. Adquirida pelo governo do Pará, abrigou até 1870 o Hospital Real e depois passou aos militares. Em 2001, imóvel foi retomado pelo estado, que o transformou em museu no ano seguinte. Desde então, é ocupado com obras de artistas plásticos e fotógrafos como Cildo Meireles, Rosângela Rennó e Miguel Rio Branco.
A transformação desse espaço de arte consolidada por mais de uma década em Centro de Global de Gastronomia e Biodiversidade na Amazôna, que deve reunir restaurante, museu, laboratório e escola de gastronomia, gerou a polêmica online. A controvérsia acontece justamente agora que Belém foi incluída na Rede de Cidades Criativas da Unesco, com destaque para a gastronomia . Embora tenha sido originalmente divulgada em outubro de 2015, só pegou fogo neste mês quando o governador Simão Jatene assinou o decreto de desocupação. No Facebook, vários artistas mobilizaram-se contra o projeto que tem entre seus idealizadores o nome do premiado chef Alex Atala e seu Instituto ATÁ.
+ Justiça interdita castelo de “escola de bruxaria”, em Campos do Jordão
Embora seja um dos dez institutos que farão a ocupação da Casa das Onze Janelas, entre eles o Instituto Paulo Martins, Atala virou o alvo principal. Em uma das postagens, os manifestantes questionam se Atala teria coragem de ocupar o MASP para transformá-lo em um espaço gastronômico.
A curadora Marisa Mokarzel, que faz parte do grupo contrário a transferência do museu, explica que o problema não é a criação do polo gastronômico, mas implantá-lo no casarão. “Outros lugares podem ser escolhidos, é um absurdo dar ao local uma função que não é a dele”, afirma. Marisa faz parte dos cerca de 3 300 pessoas que assinaram uma petição contrária ao projeto na internet. Há no Facebook inclusive a sugestão de outros locais para a implantação, como o “casarão desocupado ao lado do Mangal das Garças, num terreno de dimensões generosas que permite excelente espaço paisagístico, e relação direta com o rio, pois é de frente pra ele”.
Joanna Martins, do instituto que leva o nome de seu pai, Paulo Martins, explica que quando foi criado o projeto, sugeriram que vários lugares para abrigar o centro de gastronomia, um deles era Casa das Onze Janelas que tinha uma cozinha desocupada. “Nunca imaginamos, porém, que deslocariam todo o museu”, afirma.
+ Volta do ‘chupa-cabra’ assusta agricultores de Piracicaba
O chef Alex Atala afirma que compreende a irritação dos artistas, mas reforça que essa é uma decisão cabe ao governo do estado. “É preciso ficar claro que o museu não está sendo extinto, mas será realocado para outro local. Não acho legítimo tirar o museu daquele lugar”, garante.”Nossa ideia é fazer na Casa da Onze Janelas o mesmo que fizemos aqui no Mercado Municipal de Pinheiros, criando uma aproximação entre a população, gastronomia e cultura”. Ele também afirma que não será aberta nenhuma filial de seu restaurante Dalva e Dito no local.
+ Sacolinha plástica pode voltar a ser gratuita em São Paulo
Apesar de não divulgar o destino do Museu de Arte Contemporânea, o secretário de comunicação do Pará, Daniel Nardin, assegurou, por e-mail, que a definição do novo espaço para abrigar as obras será decidido junto com a classe artística.
Na correspondência eletrônica, Nardim preferiu detalhar o que será a nova ocupação. “O nosso objetivo é garantir que o pólo de gastronomia seja um espaço de conhecimento, de inovação e geração de oportunidades de renda e emprego para todos os envolvidos na cadeia da gastronomia e do turismo no Estado”, afirma.
Hoje, estava marcado um panelaço em torno do museu. Pelas ações de ambos os lados, o embate pelo casarão está só começando.