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Agenda de poder

Quem são os choferes, manicures e massagistas que atendem no exterior os exigentes viajantes brasileiros

Por Danae Stephan
Atualizado em 1 jun 2017, 18h10 - Publicado em 11 ago 2012, 01h00

Só quem precisou de uma manicure na Europa ou nos Estados Unidos sabe o perrengue que é descolar serviços à altura dos oferecidos corriqueiramente em salões de beleza do Brasil — em Nova York, por exemplo, não é costume tirar cutícula nem retirar o excesso de esmalte com o palito. Manicures, massagistas, depiladoras e motoristas dos sonhos no exterior, no entanto, existem. O nome deles não está listado em sites de busca nem em guias de viagem, mas recheia as agendas de exigentes brasileiros que viajam com frequência. É o caso da paranaense Nice Silva, radicada há cinco anos em Londres. Nice chegou à capital inglesa sem pronunciar nem ao menos um yes e foi trabalhar como manicure num salão de beleza. Não se adaptou. Conheceu uma brasileira que andava aflita em busca de depilação rápida e minuciosa como a feita por aqui. O sucesso foi tamanho que a moça a recomendou a uma amiga, que a apresentoua outras tantas, e hoje o expediente da manicure-depiladora vai de segunda a sábado, das 8 às 22 horas. Só não trabalha no domingo porque não quer. “Coloquei um limite, senão acabaria doente”, diz ela, que chegou a encarar o batente até as 2 da manhã.

Cair nas graças de um cliente bem relacionado foi o pulo do gato também para a massagista goiana Marcia Pita. Sete anos atrás, ao se mudar para Milão, ela começou a atender as mulheres dos jogadores de futebol da Internazionale. De indicação em indicação, passaram por suas mãos executivas de multinacionais e a turma que ela chama de “as meninas da Valentino”, funcionárias da grife italiana. Para dar conta da demanda, ela pega no batente às 6 da manhã. Dá preferência a mulheres que tenham referência. “Fazer drenagem linfática na casa da pessoa demanda o mínimo de intimidade”, afirma. Nada que se compare à peneira do empresário Jérôme Lucio. À frente da Travel Business Limousines, sediada em Paris, ele comanda uma frota de Chrysler 300C e Mercedes E e S. Na lista de clientes estão os maiores banqueiros da Ásia, milionários americanose brasileiros como o empresário do ramo imobiliário Álvaro Coelho da Fonseca, de São Paulo. Dinheiro, no entanto, não basta para tê-lo, em pessoa, ao volante. Para isso, além de o passageiro ter de ser muito bem recomendado, Lucio — que é filho de um administrador de fazenda e deixou Portugal na ditadura de Salazar, tornando-se, em Paris, o último mordomo do duque e da duquesa de Windsor — precisa sentir por ele uma enorme simpatia. Quem tiver o privilégio de se sentar no banco de trás verá Paris com outros olhos. Lucio conhece a história da cidade (e a narra sem ser catedrático). Conta piada como poucos. Tem maneiras à moda inglesa. É capaz de, num ato de prazer, convidar o cliente para dividir a mesa no bistrô que frequenta há quatro décadas na capital francesa: o Le Soufflé, perto da Chanel da Rue Cambon, querido dos locais por ser especializado em suflê. Ou orquestrar pelo iPhone a reserva de uma mesa no lendário La Tour d’Argent, a passos de onde ele mora, no bairro de Saint-Germain-des-Prés.

ines coelho
ines coelho ()

No extremo da cadeia de conexões encontram-se figuras como a publicitária paulistana Ana Carmen Longobardi, que, nas temporadas em Nova York, sempre sentiu falta de fazer as unhas à brasileira. A solução veio nove anos atrás, quando encontrou o salão Maria Bonita, no SoHo. “Os funcionários falam português, por isso me sinto em casa”, diz. Colecionadora de arte, ex-executiva de uma grande agência, Ana conhece Deus e o mundo em círculos de alto poder aquisitivo em São Paulo e em Nova York. Ela poderia facilmente transformar os contatos em dinheiro. É algo que nem sequer planeja, mas que virou o negócio da empresária portuguesa Ines Coelho, criada no Rio de Janeiro e moradora de Nova York, São Paulo e Lisboa. Batizada de Connect, a empresa consiste numa rede social com ares de clube privê: só se associam indicados por outro participante e depois de preencher um questionário para comprovar o poder da agenda. Se algum dos sócios precisar de um arquiteto em Singapura, sempre haverá alguém no grupo capaz de garantir que o desejo vire realidade — em troca de outro favor que considere interessante, como entrar na lista do Silencio, clube da moda em Paris.

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Ines se deu conta da força dos 2 000 nomes de sua lista de contatos (entre eles, Nice, a paranaense que arrasa em Londres) ao notar que dedicava grande parte do dia conectando amigos a amigos de amigos. “Percebi que o networking é a moeda do futuro”, explica. A lista foi compilada ao longo de uma carreira, que inclui passagem pela empresa de concierge Quintessen-tially, pelo departamento de relações públicas da grife Burberry e pela gerência de marketing do Brompton Club, casa noturna do cineasta Guy Ritchie, ex da cantora Madonna. Suas indicações são tão eficientes que hoje, para conseguir um horário com Nice, ela tem de reservar com muita antecedência. “Já pediram para parar de indicá-la porque a agenda dela vive lotada.” É o preço que se paga pela dica que vale ouro.

DICAS QUE VALEM OURO

MANICURES E DEPILADORAS

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LONDRES. Nice Silva. Atende das 8h às 22h, de segunda a sábado. Cobra de 20 a 50 libras. ­44 (7) 8005-52120.

MADRI. Alessandra Chiarinni. A preferida das moradoras do La Moraleja, um dos bairros mais nobres da cidade. Trabalha até as 22h, inclusive nos fins de semana e feriados. Cobra 25 euros (pé e mão); de 20 a 25 euros (virilha simples). ­34 (6) 9039-0617.

LISBOA. Ana Rebelo. Apesar de ser portuguesa, faz depilação bem ao gosto das brasileiras. Cobra de 10 euros (virilha simples) a 33 euros (perna inteira com virilha cavada). ­351 (9) 6613-6979.

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PARIS. Claudia Sabino Deixou Tangará da Serra, em Mato Grosso, rumo à capital francesa, onde faz as unhas de gente do naipe da ex-modelo mineira Bethy Lagardère, viúva de um dos homens mais ricos da França. Cobra 23 e 25 euros (respectivamente mão e pé).  33 (6) 5005-2497.

MASSAGISTAS E MAQUIADORAS

MILÃO. Marcia Pita. Faz drenagem linfática para os ricos e famosos da cidade. A sessão de uma hora custa 30 euros. ­39 (3) 3371-14294.

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PARIS. Delphine Morlet Moreira. Tem experiência em catálogos de moda. Cobra 200 euros (em média, para uma maquiagem simples). ­ 33 (6) 1530-1657. Giseli Fermer. Cobra 50 euros por hora (massagem relaxante); o pacote com dez sessões de drenagem linfática sai por 400 euros. ­33 (6) 7858-9842.

CHOFERES

PARIS. Jérôme Lucio. O último mordomo do duque de Windsor hoje dispõe de motoristas que falam francês, português e inglês — e fazem desde o traslado do Charles de Gaulle até vaivéns pela cidade. Cobra de135 euros/hora a 2 010 euros/dia (viagem até o Mont Saint-Michel). 33 (6) 7965-8722, travel-business-limousines.fr

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LONDRES. Ismael Rodrigues. Carros com celular e iPad, sem custo adicional. Faz reservas de restaurantes e compra ingressos de jogos, shows e teatro. Cobra de 75 a 105 libras (traslado do aeroporto até o centro; atende de uma a oito pessoas). ­44 (7) 9346-76396, isrtranslondon.net

NOVA YORK. Mario Murta. Os motoristas falam português e espanhol. Reservam restaurantes, compram ingressos para espetáculos e fazem entregas especiais. Mario cobra a partir de 50 dólares/hora. ­1 (7) 1872-90742.

MILÃO. Roberto Bonaffini. Tem 5 800 contatos de restaurantes, bares, hotéis e teatros locais para atender a qualquer pedido dos passageiros sem custo algum. Não fala português. É o favorito do empresário Bernard Arnault, dono do grupo LVMH, e dos executivos da Ermenegildo Zegna. Cobra 35 euros/hora. ­39 (3) 3565-94734.

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