Meu maior presente neste ano não foi algo que ganhei, mas que perdi: a barriga! Deixei de prender a respiração para abotoar a calça. Saí do XL para o tamanho médio! Foram 22 quilos! Devo agradecer à crise aérea.
Não enlouqueci, foi isso mesmo que eu disse. Há meses estava no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. A ponte aérea atrasou umas quatro, cinco horas. Comi pãezinhos de queijo. Tentei ler. Impossível, com aquela voz anunciando vôos sem parar. Resolvi caminhar pelo aeroporto: sempre é um exercício!
– Quem sabe libero as calorias dos pãezinhos de queijo! – tentei me convencer, com a barriga balançando à minha frente.
De repente encontrei um velho amigo, Eduardo, também atolado na decolagem. Depois de me olhar de alto a baixo, estendeu um cartão:
– Você tem de ir a minha clínica.
Quase perguntei por quê, mas não quis me arriscar a ouvir a resposta. Era uma clínica de rejuvenescimento e emagrecimento. Rapidamente, me despedi.
– Mais um fiscal de barriga! Eu sei me controlar! – argumentei ao partir em busca de um sanduíche de salame.
Quando finalmente embarquei, pedi uma refeição extra. Em casa, fiz mais um sanduíche para esperar o jantar.
– Segunda-feira começo um bom regime! – decidi.
Foi impossível. Tinha uma pizza na casa de amigos. Deixei para a terça e na quarta esqueci. Mas continuava sofrendo com a barriga! Se perguntava o preço de uma camisa, o vendedor me olhava com desprezo:
– Não temos o seu número!
Pior era tomar banho e nunca ver… os pés!
Decidi. Bati na porta do doutor Eduardo. Fiz exames de todo tipo. Em um deles, tiraram uma gota do meu sangue. Ao observá-la numa lâmina, a bióloga sabia até o que eu havia comido no almoço. A nutricionista me propôs a dieta do tipo sanguíneo. Pode parecer estranho. Mas há uma tese segundo a qual os alimentos ideais variam de acordo com os tipos sanguíneos. Lamentavelmente, nenhum dos tipos pode se esbaldar nas batatas fritas! E recebi a receita de muitos, muitos complementos alimentares. Passei a tomar pílulas no café-da-manhã, no almoço, no jantar e ao deitar. Sempre, se estou acompanhado, explico, ao pegar as cápsulas:
– Não estou à beira da morte. É um tratamento ortomolecular.
Recebo em troca um olhar de piedade! Ninguém acredita que seja só regime!
Depois de alguns meses havia perdido meio quilo, no máximo. Não mudou nem o furinho do cinto. Gemi. Pensei em largar, mas insisti. Permaneci longe das frituras, faltei a churrascos! Encarava meu prato, via três vagens, duas folhas de alface e um pedacinho de peixe esquálido. Tinha vontade de chorar! Ah, que saudade dos hambúrgueres, das picanhas, das travessas de torresmo!
Nem sei dizer quando ou como notei a calça mais larga. Meu pescoço ressurgiu do meio de um colar de banha. Em alguns meses perdi todos os quilos que sempre desejei! Vários índices melhoraram: o colesterol normalizou, o fígado está ótimo. Se entro em uma loja, o vendedor diz:
– Vou ver se tem tamanho médio!
Quase lhe dou um abraço!
Uma coisa aprendi: regime se faz com médico e nutricionista. Cada um tem sua técnica, seu método. Passei a vida toda tentando dietas de livros ou indicadas por amigos. E minha barriga continuava balançando, acusadora.
Mas a humanidade conspira contra os magros. Nunca ganhei tanto chocolate. Quando tento recusar uma sobremesa, vem o sorriso:
– Agora você pode! Só um pedacinho!
Gente malvada! Querem me engordar! Serei forte! Agora que perdi a barriga, não quero achá-la nunca mais!