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Sem avisar, Acre envia haitianos para São Paulo

Diretor da entidade de apoio para imigrantes na cidade disse que foi surpreendido com a chegada dos novos ônibus

Por Adriana Farias (Com Estadão Conteúdo)
Atualizado em 1 jun 2017, 16h51 - Publicado em 19 Maio 2015, 17h52

O principal ponto de apoio de haitianos em São Paulo, a Missão Paz, na região do Glicério, centro, recebeu em apenas um dia três vezes mais pessoas que costumam vir do Acre. Entre as noites de domingo (17) e segunda (18), chegaram três ônibus com 100 novos imigrantes. Até o final desta terça (19) mais noventa pessoas são aguardadas.

Do total, vinte são mulheres, número que chamou a atenção do padre Paolo Parise, diretor da entidade. A probabilidade é que sejam familiares de estrangeiros já instalados na cidade. É o caso de Geina Loraine, de 27 anos, que veio se encontrar com o marido que trabalha na cidade como segurança. “Há dois anos que a gente não se encontra. Agora é a chance de refazermos nossa vida juntos”, diz ela, que veio acompanhada de três amigos.

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Reportagem da Folha de S.Paulo desta terça (19) revelou que o governo do Acre voltou a enviar haitianos para São Paulo sem comunicar os governos locais. “Ontem (segunda-feira), chegaram de uma vez vinte mulheres. Normalmente chegam duas ou três por dia. Achamos estranha essa concentração maior”, disse Parise.

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Na segunda, dois ônibus chegaram à capital. Desde janeiro, somente um fretado vinha para São Paulo por dia. De acordo com o padre, na noite passada, 140 haitianos dormiram no chão do salão de acolhimento da Missão Paz, maior número desde o pico de maio do ano passado, quando chegou a 200. Com as 110 vagas da Casa do Migrante ocupadas, a instituição esta com excesso de 140 pessoas, totalizando 250 – um aumento de 127%.

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Parise afirmou ter sido pego de surpresa no domingo, durante a Festa Bandeira, tradicional festejo haitiano. Uma pesquisadora vinda do Acre comentou que novos ônibus chegariam. “Ninguém informou nada. Essa pesquisadora nos informou domingo à tarde, e à noite já estavam chegando”, disse.

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O diretor da Missão Paz conversou com o secretário municipal de Direitos Humanos, Eduardo Suplicy, a quem pediu ajuda. “Ele começou a ligar para o Ministério da Justiça, que repassou a verba para o Acre fretar novos ônibus. Falou que ia entrar em contato com o (prefeito Fernando) Haddad. Pelo menos falou que vai tentar ajudar. Mas a situação realmente é de emergência.”

Segundo Parise, desde março o Acre interrompeu o traslado de imigrantes por dívida de 3 milhões de reais com empresas de transporte. Porém, uma média de sete pessoas chegava por dia por conta própria. A reportagem procurou o governo do Acre para comentar o caso, mas não obteve resposta.

A rota geralmente é do Haiti para o Equador e na sequência Peru, via avião, e de lá seguem de ônibus para o Acre em uma viagem que pode durar até dez dias. Os haitianos relatam que pagam entre 1 500 até 5 000 dólares para os coiotes os trazerem irregularmente para o país.

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“O pior momento de toda a viagem é no Peru, pois a polícia esta prendendo as pessoas. A travessia é muito tensa, passamos fome e muito medo”, relata Nathy Sainpulien, de 27 anos, que chegou no domingo. “O que a gente escuta no Haiti é que no Brasil há emprego e muitos haitianos estão reconstruindo suas vidas. Quero arranjar emprego na construção civil e mandar o dinheiro para a minha esposa e o meu filho que ficaram lá”.

No início desta noite, a Missão Paz distribuiu setenta pratos de comida. O grupo solicitou outros 140 para a prefeitura, mas o pedido não foi atendido. “Disseram que eu pedi muito tarde. Com isso, teriam como providenciar a tempo”, disse Parisi. A solução foi improvisar um sopão feito por voluntários para atender o restante dos imigrantes.

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Sem notificação

A prefeitura de São Paulo, por meio de nota da Secretaria dos Direitos Humanos e Cidadania, disse que foi surpreendida com a informação de que 100 de 1 000 haitianos chegarão à capital nos próximos dias.

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“Sem notificação e prazo para planejamento e mobilização, nem por parte do governo do Acre nem por parte do governo federal, nossa cidade terá dificuldades para receber em sua rede assistencial essa quantidade de pessoas”, afirmou a gestão Haddad.

A secretaria destacou que, sem articulação, não consegue receber com “tratamento digno” os imigrantes haitianos e criticou os governos federal e do Acre, ambos do PT.

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“Estamos há mais de um ano buscando formas de cooperar com os governos federal e do Acre para lidar com este desafio no curto, médio e longo prazo. Se os entes federados agissem de forma articulada e colaborativa, os resultados seriam muito mais eficazes no sentido de oferecer dignidade na acolhida desse contingente de pessoas”, finalizou a nota.

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